domingo, 31 de julho de 2016

O que não existe!

Crédito da imagem: Universidade Santa Cecília

Marcus Vinicius Batista

Confesso que tive dificuldades para escrever sobre ficção neste espaço. Não se trata do texto em si, mas do lugar que o abriga. Aqui, minhas colunas transitam entre dois polos: a política e a crônica. Às vezes, se fundem numa crônica de fundo político. Mas como escrever sobre ficção científica, já que o assunto seria uma ideia de 20 anos, que só nos resta projetá-la no post-mortem da minha geração, talvez numa galáxia tão, tão distante?

Como inspiração, não precisei ir aos livros de Isaac Asimov, aos episódios da série Jornada nas Estrelas ou aos filmes de Star Wars. Bastaram-me duas fontes: a imprensa local e as redes sociais. Nelas, vivem os personagens com suas histórias fantásticas.

Muitos deles existem para se repetir por anos; ou até 20 anos, como é o caso. Usam o mantra para tudo: transporte, segurança, lixo, saúde, educação ... Outros, nesta estação do ano, em que florescem as pré-campanhas, escolhem embarcar na nave cuja senha é "Metropolização da Baixada Santista".

A Região Metropolitana da Baixada Santista, após 20 anos de conto da carochinha - a riqueza de imaginação permite o trânsito entre gêneros literários -, já atraiu a atenção de cientistas, principalmente arqueólogos. Eles estariam procurando vestígios históricos do início deste processo, no século passado.

Neste ponto, residem duas dificuldades. Primeiro, até agora nada foi encontrado além de documentos. Pilhas de papéis da espécie Homo burocraticus. Não há ruínas ou artefatos, exceto cacos de xícaras de café, mas de pouco valor histórico. São genéricas, compradas em supermercados.

O segundo problema é que as escavações arqueológicas podem desperdiçar dinheiro público. Os cientistas se dividem: 1) parte vê valor nas louças encontradas, o valor cultural de uma época em que se falava, falava, falava, e pouco se realizava. Gente de religião arrisca em culto à espera de um messias; 2) parte entende que a comunidade acadêmica confundiu literatura com pesquisa historiográfica.

Poetas se interessaram pelo assunto. Quem sabe a Metropolização fosse uma nova corrente literária? Filósofos falaram em caos da pós-modernidade, do niilismo político caracterizado pela reciclagem contínua da mesma ideia, a promessa de felicidade o tempo todo numa cultura de aparências.

Pareceu-me palavrório complexo demais para um grupo de práticas tão singelas. Talvez seja sim uma corrente literária, se pensarmos na papelada que até gerou publicações. Quem sabe uma religião? Os papéis seriam a doutrina?

A Metropolização gerou um Conselho, que pariu comitês, que provocou reuniões, que inseminou novos encontros, para a criação de outras propostas, a fim de se elaborar mais ideias. E tudo com cafés da manhã mensais e troca anual de líder.

Juntando tudo, um amigo raciocinou: se é ficção científica, a história então se passa num mundo distópico, onde tudo acabou e sobrou um grupo de humanos, vestidos de branco, com discurso zen a pensar numa nova sociedade. Será?

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