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Marcus Vinicius Batista
Na última quarta-feira, escrevi neste espaço sobre o movimento Escola sem Partido, mais uma bobagem disposta a controlar o ensino brasileiro, e não melhorá-lo ou entendê-lo. No mesmo dia, a professora de História Joyce Fernandes se lembrava, enquanto fazia o almoço, de sua experiência como empregada doméstica. Daí, criou uma solução libertadora: a página "Eu Empregada Doméstica", que dá voz a elas.
Joyce é a prova viva de que a escola liberta. Ela tinha tudo para se vitimizar com a pilha de preconceitos que recaem sobre suas costas. E não é de hoje. É de sempre. Joyce foi minha aluna. Ela fazia parte de uma turma na faculdade, na qual 40% dos estudantes eram negros. Isso em um país onde somente 5% dos negros chegam à universidade.
Joyce acumula preconceitos contra si. É mulher, pobre, negra, cantora de rap - a Preta Rara -, gorda e moradora de periferia. Ela personifica a ideia de que a educação pode ser a alforria contra uma doutrina, que nasce além da escola e ecoa dentro dela. E que os alunos não são caixas vazias, que só acumulam dados e os repetem como cordeiros.
A escola abriu a cabeça de quem hoje transforma a cabeça de alunos em sala de aula na periferia. Alunos e alunas, muitos negros, pobres, que se encaixam nos estereótipos que a Casa Grande adora cooptar para a invisibilidade.
A professora e rapper Joyce Fernandes, a Preta Rara Foto: Fernanda Luz/divulgação |
A escola é multifacetada porque é feita de gente de todos os tipos. Gente que implica com a cor do cabelo dela, a professora de História. Gente que critica as roupas que não escondem todas as partes do corpo fora do padrão estético. Gente que aponta o dedo para as mesmas roupas, com traços étnicos de uma descendência africana.
Joyce se tornou uma mulher livre dentro, por causa e apesar da escola. Pensa por si mesma, seja na letra do rap, seja na criação de uma página que ajuda as empregadas domésticas.
Joyce, ao reagir e criar, é o exemplo de que o Brasil teima em respirar a relação Casa Grande e Senzala. Só que, ainda bem, muitas vozes rejeitam grilhões nos tornozelos. Dentro e fora da escola!
Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 24 de julho de 2016.
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