sexta-feira, 8 de julho de 2016

A humildade possível

Carina Vitral, pré-candidata do PCdoB à Prefeitura de Santos

Marcus Vinicius Batista

A decisão do PT em não ter candidato à Prefeitura de Santos em 2016 e apoiar a pré-candidatura de Carina Vitral, do PCdoB, é o desfecho provisório de um processo que empurrou o partido diversos degraus abaixo neste século. Escolher uma candidata jovem pode soar como atitude sensata - e o é, em tese -, mas também indica como o PT se esfacelou na cidade. Virou coadjuvante.

É a primeira vez, desde 1984, que o Partido dos Trabalhadores não disputa a Prefeitura de Santos. Historicamente, não é uma decisão fácil para quem venceu duas vezes e perdeu cinco na sequência. Numa delas, protagonizou a mais disputada votação de Santos, quando João Paulo Tavares Papa derrotou Telma de Souza, por 1771 votos (0,3%).

Essa derrota foi emblemática. A (quase) chance de vencer não deu ao PT a humildade de estudar e aprender com a derrota. Ali, talvez estivesse a oportunidade de renovação, de formação de novas lideranças, da construção de um novo discurso de oposição.

O PT, a partir dali, sangrou e encolheu em praça pública. Os velhos caciques ficaram no comando, os desafetos foram para o Planalto Central ou para a reserva. Daí em diante, derrotas por goleada. Um segundo lugar sem vestígios, em canto algum, de lugar mais alto do pódio.

A consequência está posta: recolher a soberba e apoiar uma candidata que representa aquilo que o partido deveria ter feito há duas eleições. De sobremesa, engolir a pré-candidata de um partido que o PT sempre tratou como irmão bastardo, como mais um dos componentes de coligação, como o nanico que nunca seria cabeça de chapa.

Carina Vitral é presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e cursa Economia na PUC-SP. Ela pode ser o frescor que a campanha morna de Santos necessita. Em teoria, é simpática ao público jovem, pode atrair o hipersegmento universitário mais aquela parcela de esquerda do eleitorado, que se sente órfã do próprio PT, inclusive, ao longo dos últimos 10, 12 anos.

No entanto, é preciso ter cautela. Carina Vitral tem que provar, em 45 dias de campanha, ser mais do que um rosto bonito. Seguir a trilha e enfrentar os pedregulhos pelos quais passou Manuela D'Ávila, também do PCdoB, no Rio Grande do Sul.

As perguntas nascem aos soluços. Como ser a alternativa para a gestão atual, também comandada por um prefeito jovem, embora com estratégias antigas? Como será o discurso de alternativa para um eleitorado murcho e inerte, com tendências a manter tudo como está? Carina Vitral pretende minimizar o passado de apoio à presidente afastada, Dilma Rousseff?

Como se desvincular dos vícios e dos estereótipos que corroem aqueles que se dizem de esquerda? Como escapar do fogo amigo (de voto, inclusive) de candidatos de outras correntes da oposição, como Evaldo Stanislau, da Rede? Como ficar conhecida em tão pouco tempo? O horário eleitoral ajudará?

O PT, ao apoiar Carina Vitral, pode parecer humilde, num primeiro momento. Mas desconfio - com um grau bem próximo da certeza - de que o partido estava numa sinuca de bico. Em outras palavras, sem opções. Falou-se no ex-ministro da Saúde, Artur Chioro, um técnico sem manchas, mas pouco conhecido e - infelizmente - vinculado ao passado recente do governo Dilma Rousseff.

A ex-vereadora Cassandra Maroni Nunes, uma das mais combativas parlamentares e exceção da oposição inteligente, é experiente para fugir deste presente de grego, de um desgaste que a idade e a trajetória política não aceitam mais.

Telma de Souza, ainda que apareça em segundo lugar nas pesquisas, sabe que há o risco grande de virar um cavalo paraguaio. Não há como vencer. Seria a repetição do velho filme, numa versão mais gasta. Mas Carina Vitral teria chances, então? Poucas, mas aí o problema será do PCdoB. Telma disputará para vereadora, vencerá e trará o PT de volta à Câmara. Quem sabe com outro "companheiro" via matemática?

O cenário sombrio - decorrente dos erros e da vaidade - levou o PT à decisão certa. O desgaste extremo da imagem do partido aponta a hora de se recolher, reconhecer o tamanho menor e, dependendo do curso do processo político, renascer como outra instituição.

Nada como uma roupa reformada, apesar de emprestada, para entrar na festa pela porta da frente e com nome na lista de convidados.


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