quarta-feira, 13 de julho de 2016

Beto, o ex-amigo

Mas eles não eram unha e carne? 

Marcus Vinicius Batista

O deputado federal Beto Mansur (PRB) é um dos 14 candidatos à presidência da Câmara Federal. Na semana de gritaria e arranhões no Congresso Nacional, o parlamentar se tornou previsível.

Até ontem, o ex-prefeito de Santos era aliado de primeira hora do ex-presidente Eduardo Cunha. Ele estava sentado ao lado dele, orgulhoso, quando foi aprovado o afastamento temporário da presidenta Dilma Rousseff. Era o momento mais glorioso dele como parlamentar.

Nesta terça, em entrevista à Isto É, Beto Mansur tornou-se um deputado comum, daqueles que mudam de casaco a cada soprar do vento. Confirmou a tese de ser um espécime que se multiplica nos corredores e gabinetes da casa.

Mansur negou que tivesse proximidade com Eduardo Cunha. Aspas: “Nunca tive relação com o Eduardo Cunha. Ele devia ter renunciado no dia seguinte ao impeachment (da Dilma), mas deixou sangrando a Casa. Se o caso vier ao Plenário, ele será cassado. A agenda dele não pode se confundir com a agenda da Câmara”.

Acreditei, por um instante, que Beto Mansur saberia diferenciar vaidade de poder. Nunca teve relações? Pensei que, como secretário da Câmara, ele havia compreendido que a exposição do cargo de presidente corrói os políticos que se sentam na principal cadeira da Câmara. Nunca teve relações?

Mansur tinha me dado a falsa impressão de que não precisava negar a cumplicidade com Cunha para se manter no topo da cadeia alimentar. Nunca teve relações? Faltou a ele gratidão política, decência em pelo menos admitir que andava lado a lado com Eduardo Cunha. Negar isso soa como piada de mau gosto diante das imagens, das declarações e dos fatos dos cinco primeiros meses desse ano, no mínimo.

Mansur sucumbiu à obviedade dos vaidosos. Como um dos 14 candidatos, ele terá que responder pelos pecados recentes da gestão da qual fazia parte. O deputado parecia próximo ou ao menos capaz de negociar com Michel Temer. Candidato, será alvo de fogo amigo e de pedras da oposição. Em caso de derrota, corre o risco de voltar ao baixo clero.

O problema é que Beto Mansur tem um dos telhados mais largos entre os candidatos à Presidência. Ele é o campeão de pendências judiciais; entre elas, a acusação de trabalho escravo na sua fazenda em Goiás.

A exposição o faz perder a condição de analista, de alguém que era procurado por jornalistas para avaliar novos movimentos no tabuleiro da Câmara Federal. Agora, terá que se defender das mesmas vozes que o consultavam.

Beto Mansur admitiu à revista que as pendências judiciais têm "peso político, mas que não é alvo de nenhuma ação por desvio de dinheiro público." Caro deputado, sinto ter que informar, mas a ausência de ações deste porte configuram obrigação, e não mérito.

Entre as velhas máximas da política, uma das mais populares dizem respeito à amizade. "Na política, não existem amigos, existem interesses." Parece precipitado negar o sentimento de fraternidade com Eduardo Cunha, que passa a ter o direito de sentir traído.

Se me permite uma sugestão, caro deputado, não se esqueça: Cunha é daqueles personagens de filme de terror que sempre voltam para arrastar gente para a cova.

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