segunda-feira, 18 de julho de 2016

Arrogância e desrespeito

Por que o PT apoiou Rodrigo Maia para a presidência da Câmara?

Marcus Vinicius Batista

O PT assumiu, na semana passada, que apoiará Carina Vitral, do PCdoB, à Prefeitura de Santos na eleição de outubro. Foi um gesto de "humildade pragmática", nome qualquer para uma postura comum na política. O PT se reconheceu menor e adotou uma posição de coadjuvante na cidade, diante dos erros do passado e da necessidade de reinvenção.

Esta semana, o PT de Santos, como filho, ganhou de presente mais um tapa na cabeça como exemplo de comportamento do PT-pai, em Brasília. O partido, em baixa no Congresso Nacional por razões óbvias até para um alienígena, tentou cantar de galo no processo eleitoral para a Presidência da Câmara.

É óbvio que a festa era de mafiosos, com direito a execuções, traições, reviravoltas e escolha de novos capangas. Era, talvez, a oportunidade do PT, ainda cadáver fresco depois de dois meses do afastamento de Dilma Rousseff, mostrar que muitos estavam equivocados sobre o que o partido havia se tornado.

O PT fez o oposto ao se comportar como a criança que leva a bronca pela bagunça e fica mais agressiva para confirmar a fama de moleque-problema. O que as lideranças do partido tinham na cabeça? Acreditavam mesmo que poderiam costurar com o DEM e o PMDB, os chefes do Centrão, uma reaproximação do poder? Os líderes se esqueceram que foram as duas siglas que puxaram o gatilho há dois meses?

O PT, por meio de seus comandantes, se julga acima do bem e do mal. Seu líder máximo, e seus cúmplices, apostam a cabeça dos militantes para levar à frente um projeto de poder que se transformou em ruínas por causa da arrogância.

O PT, nos 13 anos de presidência da República, abusou da soberba ao crer que poderia governar o país se conseguisse o impossível: controlar o PMDB e aliados. A desculpa esfarrapada se traduzia pelo palavrão governabilidade, definição única para um sistema político corroído, no qual o presidente depende de deputados federais e senadores para trabalhar.

O termo da moda é presidencialismo de coalizão, repetido por analistas políticos. O PSDB de Fernando Henrique governou via acordos renováveis, com aquele sorriso espírita de quem concorda na fala, mas pode agir diferente.

O PT ainda padece da crença de que pode fazer parte da festa. Não apenas crê, como ousou construir uma versão século 21 da máfia. Estas lideranças pisam em cima da credibilidade e dos símbolos do partido desde 2005, quando estourou o mensalão.

Muita gente decente pulou fora ou viveu humilhações por causa deste projeto que vende a alma para qualquer demônio de segunda. Na eleição da Câmara Federal ou na eleição em Santos, ainda há gente que sangra pelo sonho de união da esquerda em torno de um projeto político.

O PT morreu como esquerda no século 20. Neste século, morre como instituição, pela picaretagem de quem escondeu as velhas escrituras só porque um suposto messias disse que valia tudo para alcançar o paraíso. Ou seria o inferno na Terra?

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