O primeiro suspeito |
Antes de me conectar numa rede social, a notícia estava lá, em um aviso pequeno, na minúscula tela do celular: Eduardo preso! Como as redes sociais multiplicam as notícias de qualquer fonte, achei que havia algum exagero. A Justiça não seria feita desta maneira, tão às claras, com tantas testemunhas. Ignorei e fui tomar café.
Meia hora depois, minha esposa, Beth, entrou na sala e gritou: "O Eduardo foi preso! E detido na rua, no meio do povo, numa confusão política."
Comecei a raciocinar: quem acompanha a história recente sabe que as investigações respigariam na liderança dele. Ele tem um passado histórico com o Partido dos Trabalhadores, numa distância segura de Dilma Rousseff nos últimos anos, mas trabalhou com discrição como interlocutor do ex-presidente Lula na década passada.
A prisão dele não me surpreendeu. Aliás, só seria surpresa para os desinformados, diante da liderança que ele exerceu no Congresso Nacional antes de sair de cena. Ele permaneceu, é claro, como uma voz na mídia, principalmente com críticas ao PT, aos ex-colegas de Parlamento e ao Governo Temer. Nada disso, porém, o afasta da presença constante dentro da gestão do Partido dos Trabalhadores.
Todos estes motivos seriam suficientes para que o Eduardo fosse preso. Não é um momento de ressurreição da Ética na política e blablablá? Que seja pela proximidade das eleições. Ou talvez pela vontade de mostrar serviço, às vésperas dos jogos olímpicos, para passar uma imagem positiva aos estrangeiros.
Como eu estava distraído, só pensei no assunto. Uns cinco minutos depois, Beth voltou à sala e me disse: "Você não falou nada! Prenderam o Eduardo!" Só respondi: "Bem feito. O cara foi uma das almas do governo Dilma. É ele mesmo, o Cunha?"
Ela olhou para mim, surpresa, e rebateu: "Não! Ele não, acha?" O telefonou tocou e ela saiu da sala para pegar o celular no escritório.
Então foi ele! |
Aí imaginei: "Deve ser o outro, claro!" Estamos perto das Olimpíadas e a Polícia quer entrar no circo. R$ 35 bilhões em gastos, ligações com o Governo Federal. Deve ser a Lava-Jato de novo! A cidade dele está em frangalhos do ponto de vista financeiro, as eleições estão aí, muita gente forte concorrendo.
O Eduardo adora falar. Será que soltou a língua nos últimos tempos? Foi criticar e recebeu pedrada de volta. Falou alguma besteira, o que acontece de vez em quando na atividade política dele. Mas antes muita gente levava na brincadeira, como causo, anedota política. Por que agora resolveram prender o homem? É provável que tenha dito algo torto para a Polícia.
É mais mídia negativa para o país. Mais uma para a coleção quando se discute a falta de infraestrutura no Brasil, a partir de olhos estrangeiros. Denúncias de corrupção, de dinheiro mal gasto, de irresponsabilidade na gestão em níveis estadual e federal. Deve ser a vez dos aliados do PT. Se não foi o Cunha, deve ter sido outro amigo antigo, outro de relacionamento morde-assopra.
Beth desligou o telefone, passou pela sala em direção à cozinha. Perguntei: "Amor, por que prenderam o Eduardo?" Ela respondeu: "Ele enfrentou a Polícia." A pergunta óbvia: "Por que o prefeito Eduardo Paes enfrentaria a Polícia? Novas denúncias de truculência?"
"Que Paes, a polícia continua batendo em pobre, mas prenderam foi o Suplicy."
Conectei o celular à Internet com uma certeza: o noticiário cada vez mais se parece com programas de humor.
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