domingo, 13 de setembro de 2015

Sou contra!

Tatiana Evangelista, Marcus Vinicius Batista e Rafael de Paula

Marcus Vinicius Batista

Tive o prazer de mediar, na noite da última quinta-feira, um debate sobre a redução da Maioridade Penal. O encontro aconteceu no Pátio Iporanga, em Santos, após a exibição do filme “De Cabeça Erguida”, dirigido por Emmanuelle Bercot e protagonizado por Catherine Deneuve.

A conversa envolveu os advogados Tatiana Evangelista, contrária à redução da Maioridade Penal de 18 anos para 16 anos, e Rafael de Paula, favorável ao projeto que tramita no Congresso Nacional. Como mediador, minha responsabilidade era dar o maior espaço possível aos dois convidados, com perguntas abertas, o mais próximo possível de isenção. O debate, que se estendeu após a meia-noite, foi um momento cristalino de liberdade de expressão.

Por isso, escolho me manifestar nesta coluna, um espaço individual. Pelo título do texto, você já deduziu qual é meu posicionamento sobre o tema. Entendo que o projeto é mais uma manobra política dos parlamentares do que uma preocupação real e consistente com as causas e consequências que envolvem a violência no Brasil. 



Mais uma vez, os políticos pensam de olho nas urnas eletrônicas e com os ouvidos colados nas enquetes que pipocam na imprensa. A resposta em favor da redução solidifica um eco popular, a partir da postura da própria imprensa, incapaz – na maioria das vezes – de acompanhar histórias de maneira estrutural, de ir além dos registros pontuais do caso da semana. Falta contexto, sobra espetáculo.

Discutir a redução da Maioridade Penal é como saborear a cereja do bolo, tapando o nariz para a massa e o recheio que azedaram. É como ministrar aspirinas para um enfermo em estado terminal, cuja UTI – no quadro clínico atual – é o último endereço antes do velório.

Menores de idade não representam mais do que 10% dos crimes brasileiros. Dois terços do total são roubos e tráfico de drogas, boa parte assinou a “bronca” de criminosos adultos. Quando falamos em crimes hediondos, os menores são réus em 3% dos casos.

É claro que ambos os lados – e a existência de somente dois lados me preocupa – podem despejar pilhas de dados estatísticos para confirmar suas teses. O que me incomoda é que não testemunho parlamentares, imprensa, Poder Executivo e sociedade civil se movendo para debater, diagnosticar e propor saídas para o caos da segurança pública no país. Foco temporariamente perdido.

Preferimos eleger um dos atores da trama e culpá-lo pelos problemas da violência urbana. Apelamos para argumentos simplistas e individualistas como “e se fosse sua família?”, sem a capacidade de refletir socialmente, compreendendo que segurança pública não é uma questão isolada ou eleitoreira. Violência e segurança são temas diretamente conectados com má qualidade dos sistemas de saúde, de educação, fora a perpetuação da desigualdade social, dos preconceitos de classe e de cor. Assuntos que renderiam cada um deles uma coluna. 

Mallony, personagem principal, e a mãe
Observação final: assistam ao filme quando estiver no circuito comercial, a partir do dia 17. “De Cabeça Erguida” – guardando as proporções – é capaz de nos fazer refletir sobre o problema dos menores infratores no Brasil. O filme expõe variados ângulos, de assistentes sociais a psicólogos, de problemas familiares à gravidez adolescente. Ótimo cinema, que ajuda a pensar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O biquíni e a política




Marcus Vinicius Batista

Uma rotatória transformou-se em vilã do trânsito, em Santos. E uma pichação tornou o VLT uma vítima do vandalismo. Duas situações, em tese, distintas, mas que nos indicam como o umbigo pode ser o ponto mais importante do corpo.

Na rotatória inaugurada no canal 7, dois acidentes em dois dias fizeram com que a nova sinalização fosse responsabilizada por muitos motoristas. Não tenho competência para avaliar a (im)perícia dos condutores envolvidos, mas é possível refletir sobre dois comportamentos comuns, seja no trânsito, seja no entendimento da política pública de transporte.

O primeiro deles é a ausência de educação para conviver com outros seres humanos motorizados. Testemunhamos viúvas de Ayrton Senna, artistas do xingamento, mágicos capazes de tagarelar ao celular e pilotar ao mesmo tempo. E todos, por coincidência, creem ter razão sempre, como fregueses das vias públicas. Um patinete no tapete da sala.

Os alunos mal educados desconhecem que a rotatória funciona em endereços onde há cortesia, responsabilidade social, noção dos riscos que se corre quando se senta dentro de um carro. Não há pontuação para quem sai primeiro da rotatória. Só há a preferencial para quem entra nela antes.

Muitos motoristas, politizados até a página 3 da cartilha do Detran, choram e batem o pé, com queixas de que faltam semáforos no local. É a criança mimada, que sempre transfere os deveres. No caso, o hábito de ser tutelado pelo Estado para se fazer o mínimo como cidadão. Vamos encher a cidade de semáforos para reduzir acidentes, conter a sanha selvagem dos (outros) ases ao volante. Aí o trânsito fica mais carregado, como no Canal 4, e os motoristas pedem a volta da liberdade de ir e vir (desde que eu primeiro).

Por trás da polêmica de final de semana, a ausência de um debate consistente sobre o cenário do trânsito municipal. Queixas sobre congestionamentos, soluções paliativas e localizadas, por vezes revertidas, e ninguém se atreve a conversar (ou planejar) sobre a qualidade do transporte público e a mentalidade de endeusar e sonhar com o consumo do transporte individual.

A pichação de vagões do VLT ganhou ares de terrorismo. Vândalos destruíram o patrimônio público e aumentaram os gastos com o veículo. Não carreguem nas tintas que decoram os vagões. Se a pichação é um ponto negativo, o VLT está sempre no mesmo ponto de parada. Parado!

Ao contrário de reportagens ufanistas que indicam uma cidade colorida com a obra, o cotidiano retrata a morte do planejamento urbano, a inexistência de um projeto definitivo, a condução paquidérmica dos trabalhos. O trecho da avenida Francisco Glicério, entre a avenida Conselheiro Nébias e o canal 3, já foi pista de atletismo para estudantes de Educação Física. Hoje, é estacionamento de carros, alguns talvez dos mesmos universitários.

O VLT nos foi vendido como um projeto-símbolo da metropolização fictícia, cujo cenário são nove cidades. Depois, foi reduzido a um ferrorama de origem espanhola entre Santos e São Vicente. O trem de brinquedo vai para frente e para trás, até porque as curvas seguem indefinidas pela política, enquanto o dinheiro alheio escorre pelos trilhos, como brincadeira de criança.

Nessas horas, me lembro do jornalista Fernando Gabeira e sua definição de biquíni. Para ele, biquíni é – sarcasticamente - a roupa que “mostra tudo, mas esconde o essencial.” Na política, acidentes e pichação vestem roupas novas para velhos problemas, os acessórios que camuflam o que interessa.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

"O melhor café é o que você gosta"



O empresário Michael Timm (Foto: Marcos Piffer)

* Entrevista publicada na revista Guaiaó, n.8 (novembro/2014).

Marcus Vinicius Batista

Até os 25 anos, Michael Timm não pensava em café. Apenas tomava a bebida. Não analisava variações do produto e a concorrência internacional. Não quebrava a cabeça para compreender as oscilações de mercado do principal cartão postal brasileiro de exportação. Até então, jurava que seguiria carreira no mundo corporativo: um ano no Banco Francês e Brasileiro e mais três na General Eletric do Brasil.

Era a primeira metade da década de 80. Final da ditadura militar, inflação alta, instabilidade econômica e política. Em janeiro de 1985, há pouco mais de 30 anos, Michael atendeu a um pedido do pai e mudou o curso da própria biografia. “Esperava quebrar o ciclo da família.” Tornou-se a terceira geração da família, tanto paterna quanto materna, no setor cafeeiro. Uma história com início na Alemanha.

Os irmãos não seguiram a mesma carreira. Christian é fazendeiro, criador de gado e cavalos, na região de Marília, no interior de São Paulo. A irmã Sylvia é proprietária da escola Verde que Te Quero Verde, em São Vicente.

Em 1988, Michael assumiu a gerência da Stockler Comercial e Exportadora. Em 1995, alcançou a diretoria. O Grupo Stockler é, hoje, a quarta maior empresa do setor no país. Possui 180 funcionários diretos, entre escritórios e armazéns. Michael representou a empresa fora do Brasil por duas vezes. Trabalhou em Nova Iorque durante um ano e meio e em Hamburgo, na Alemanha, por outros seis meses. O mercado atual exige, pelo menos, três viagens anuais ao exterior.

Em 2009, Michael experimentou liderar uma entidade de classe. Ele assumiu a presidência da Associação Comercial de Santos, cargo que ocupou até o primeiro semestre deste ano. “Acabei ficando cinco anos por mudança de estatuto. Minha saída foi tranquilíssima.”

Pai de um casal de filhos, Michael Timm, de 55 anos, tem rosto de estrangeiro. Mas só não é brasileiro de certidão de nascimento. Nasceu na Alemanha e veio para o país com três meses de idade. Formou-se em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.

Após três décadas entre grãos e números financeiros, Michael Timm ainda enfrenta 10 horas de trabalho diárias. “Mas quem trabalha com commodities precisa pensar no negócio 24 horas”. Ele se diverte quando avalia a hipótese de se aposentar. “A gente pensa desde que começa a trabalhar.”

Ambos os filhos, Sabrina e Marcelo, estudam Administração de Empresas. Michael não sabe se eles serão a quarta geração da família no negócio. “Eu brinco com eles. Se quiserem entrar no negócio de café, dou para vocês um torrador. Vocês vão torrar café e vender.”

A conversa com a Guaiaó aconteceu na sede da Stockler, uma casa branca de dois andares, com detalhes em amarelo, na rua XV de Novembro, a menos de uma quadra do prédio da antiga Bolsa do Café. O escritório dele fica no andar superior. Entre fotos de família, papelada da empresa e cinco xilogravuras na parede, Michael se orgulha de livros antigos sobre a indústria cafeeira. Abre dois deles para mostrar as origens da família no negócio.

Na entrevista a seguir, Timm analisa o mercado de café, da produção à prateleira de supermercado, e as mudanças que aconteceram na cidade a partir da década de 80.

Guaiaó: Como era o cenário cafeeiro quando você começou? O que mudou em 30 anos?

Michael Timm: Em 1985, havia o Acordo Internacional do Café. Tinha cotas de exportação, baseadas em performance, estoque. Éramos engessados pelo Governo. Um sistema político demais. Não havia como crescer. Diminuíamos de tamanho por causa das regras do jogo. Muitos exportadores brigando contra estas restrições, até 1990. Os preços subiram muito. Houve intervenções desastrosas do governo brasileiro. O Governo até hoje não pagou a conta, do que fez em 1986. Em 1990, com a entrada do (Fernando) Collor, acabou o Instituto Brasileiro do Café. Ficamos livres para crescer. Pagávamos até 70% de impostos sobre o café exportado. A partir de março de 1990, o mercado de café ficou mais livre, o que tornou o Brasil mais eficiente.

Guaiaó: As condições atuais são satisfatórias?

Michael Timm: Sou da opinião que quanto menos o Governo se mete melhor. É lógico que temos que ter uma política de financiamento para o produtor nas horas que necessita. Dar condições para o produtor estocar café para vender em épocas melhores. Todas as intervenções são feitas em horas erradas. São feitas por causa de lobby. Mas há lobbies e forças políticas sempre.

Guaiaó: Ano de eleição é um ano difícil por conta das pressões políticas?

Michael Timm: Não. O café tem uma vantagem. O café não é elástico quanto ao consumo. A produção de café não aumenta ou diminui por causa de consumo. Uma recessão não afeta o consumo de café. O café, no Brasil, está atrelado ao valor do dólar. É claro que há a Bolsa de Valores. Mas é difícil um político atrapalhar o negócio de café. Não existe risco hoje porque não existe mais a vontade de intervenção, de se criar cotas de exportação.

Guaiaó: Como você vê o café brasileiro em um cenário cada vez mais globalizado, com disputas acirradas por novos mercados?

Michael Timm: A Europa Ocidental está consolidada, com crescimento estável de 1% ao ano. Os Estados Unidos são a mesma coisa. Crescimento sustentável, mas pequeno. O crescimento é forte na Ásia. Há aumento de consumo em mercados produtores, como Indonésia e Índia. Mas não são adversários. O interessante no mercado de café é que não existem adversários. Na verdade, quando acabaram as cláusulas econômicas, ficaram aqueles que possuem competitividade. Há uma demanda mundial equilibrada com a oferta. Então, você não compete com outros países. Somos, de longe, os maiores exportadores. As crises internacionais, como a de 2008 e a da Rússia, não têm impacto no setor. Os preços não oscilam por causa de crise. Em 2008, chegamos no pico do preço por causa de especulação de fundos de investimento, mas depois caiu.

Guaiaó: Qual é o tamanho do Brasil neste mercado?

Michael Timm: A produção mundial anual é de 150 milhões de sacas. O consumo mundial também é de 150 milhões de sacas. O Brasil produz um terço disso, entre arábico e robusto, e é o segundo maior consumidor do mundo atrás somente dos Estados Unidos. Tem mercado para todos. O consumo cresce 2% ao ano, basicamente por causa da Ásia e Leste Europeu.

Guaiaó: Por que cresce nestas regiões? Há alguma mudança cultural específica?

Michael Timm: Mudança cultural, mudança no gosto. Aumento no número das cafeterias. Aumento de empresas como Starbucks. No Japão, há o consumo de café gelado, que concorre com os refrigerantes. Vende-se muito café solúvel. É o que normalmente abre mercados, pela facilidade de preparo. O café solúvel não é, em geral, de qualidade tão alta. O consumidor, depois, começa a aprimorar o gosto. É como vinho.

Guaiaó: Qual é o papel da Colômbia neste tabuleiro?

Michael Timm: A Colômbia possui um café de altíssima qualidade. Sofreu muito nos últimos anos com o envelhecimento do parque cafeeiro. Mas investiu em inovação da produção. A Colômbia está voltando a patamares do passado, de 11, 12 milhões de sacas por ano. Nos anos 80 e 90, havia marketing demais em torno do café colombiano. O café deles é bom, com volume e qualidade.

Guaiaó: Você mencionou a Starbucks. E o crescimento dos cafés gourmets, inclusive na linha solúvel, nas prateleiras dos supermercados? Como você entende a convivência entre o café fast food e os mais refinados?

Michael Timm: No Brasil, tem uma coisa engraçada. São poucas as redes. Elas se instalam, mas falta algo para continuar a crescer. É minha impressão. É diferente dos Estados Unidos e do Canadá. Não sei o porquê. Uma das razões pode ser a dificuldade de se trabalhar no Brasil. Impostos, relações trabalhistas, burocracia, tudo é complicado. Não acredito que seja por falta de demanda. Aqui é difícil entender. Outro ponto é supermercado. As prateleiras de café me atraem. Hoje, há uma variedade enorme, fica até confuso para o consumidor. De onde saiu tanto café?

Guaiaó: O consumidor tem como diferenciar os cafés?

Michael Timm: O consumidor tem que experimentar. A questão é que, no sachê, o consumidor paga a grama do café muito mais cara do que no pacote de 500 gramas. São nichos de mercado. Nós temos sete mil marcas no Brasil. Café especial, orgânico, com certificação. Há diferenças entre eles. Qual é o melhor café? É o café que você gosta. O importante é manter a qualidade. Café é como vinho. Cada garrafa é diferente.

Guaiaó: No final da cadeia produtiva, há o cafezinho. O preço no Brasil é ou não é elevado?

Michael Timm: Não acredito que seja elevado. O pó de café não é caro. Cara é a estrutura para você colocá-lo na xícara. Quantas xícaras se tem que vender a R$ 2,00 para pagar aluguel e mão-de-obra? A bebida sempre foi baratíssima.

Guaiaó: Santos tem parte da história atrelada ao café, que provocou mudanças substanciais no espaço urbano desde o século 19. Qual é o papel do café em Santos hoje, apesar de um porto bastante caro?

Michael Timm: O Porto, mesmo sendo o mais caro, ainda é atraente por estar mais perto da zona produtora. O custo total da logística ainda compensa. O frete rodoviário é muito caro. Quanto à comercialização, mudou. Antes, você tinha que estar em Santos, ter escritório e armazém em Santos. Hoje, você não precisa de nada disso. Tem outras praças importantes. Santos perdeu importância na comercialização do café, nos últimos 30 anos. Minha empresa tem escritórios espalhados por regiões produtoras, no interior de São Paulo e Minas Gerais e, em Vitória, no Espírito Santo.

Guaiaó: Por que Santos perdeu este espaço?

Michael Timm: Um fator foi a evolução tecnológica das comunicações. O centro de produção mudou. Antes, São Paulo e Paraná. Hoje, 50% da produção está em Minas Gerais. Lá, surgiram centros de comercialização. Faltou também modernização dos corretores, pensar a longo prazo. Os corretores do interior estão mais perto dos produtores. Faltou investir em infraestrutura no interior. Tive que ter acesso ao café para ser competitivo. No meu caso, o escritório central é Santos, mas poderia estar em qualquer lugar. A questão é que estamos aqui há 70 anos, consolidados. (Ele consulta o computador e liga para um funcionário. Quer confirmar o tamanho do mercado na cidade) Das 185 firmas de exportação de café, só 20 estão em Santos. Das dez primeiras, seis têm escritório aqui. Mas algumas não fazem a venda aqui.

Guaiaó: Santos pode ser atraente para quem quer começar no setor?

Michael Timm: Pode. Mas no ramo do café é difícil atrair talentos. Porque precisamos de poucos e bons. Não se consegue pagar salários altos e competir com o mercado financeiro. As empresas de café são normalmente familiares, que parecem grandes, mas são pequenas. Não é difícil começar, mas poucos querem fazer isso.

Guaiaó: Os provadores de café são uma profissão em extinção?

Michael Timm: Sempre vamos precisar dos provadores de café. Escuto falar em língua eletrônica, mas nada substitui o provador. Não é um equipamento que define a qualidade do café. Cada cliente quer uma qualidade específica. E só o provador consegue distinguir os cafés. Santos tem cerca de 80 provadores, cem talvez. Ninguém vai longe no mercado se não tiver um bom classificador de café. O provador faz o curso, mas aprende fazendo no dia a dia.

Guaiaó: E a história de que o café exportado é sempre melhor do que o cafezinho da esquina? É real ou senso comum?

Michael Timm: Em geral, eu diria que sim. Dependendo de onde você for, você até consegue café melhor do que o exportado. No supermercado, é possível encontrar cafés iguais ou melhores do que aqueles que são exportados. Depende do que você gosta. Não podemos falar que existem cafés ruins. O mercado interno usa mais o café robusto, produzido em Minas Gerais, Espírito Santo e sul da Bahia. Representa por volta de 60% do mercado interno. Os asiáticos também consomem café do tipo robusto. O consumidor estabelece a diferença por marca. O consumidor não sabe a diferença entre os tipos de café. O importante é que quem fornece o café forneça sempre igual. Não pode haver flutuações grandes no sabor. Há lealdade às marcas.

Guaiaó: Como você foi parar na Associação Comercial de Santos? Como é sua história lá, como presidente?

Michael Timm: Por insistência dos pares. A experiência como presidente foi boa, mas poderia ser melhor. A função da associação é trabalhar para os associados. É a casa do associado. Me escolheram para tocar a casa. É difícil atrair o associado. Como te disse, Santos tem 20 exportadores, uma parte importante dos associados. Tem os outros setores de porto, petróleo e gás. As pessoas só procuram a associação para resolver problemas. Eu era contra o aumento de tempo na presidência. Era tempo demais para se dedicar à Associação Comercial.

Guaiaó: A Associação Comercial perdeu força política no contexto da cidade ou apenas no setor cafeeiro?

Michael Timm: Na área do café. É uma entidade importante, que trabalhou muito com o Governo Municipal. Teve bastante contato com o Governo Estadual, que chegou a fazer da Associação Comercial – simbolicamente – a casa dele. Politicamente, está muito bem. A associação perdeu importância na área por causa do Conselho dos Exportadores de Café. A Associação Comercial era o interlocutor do setor de café com o Governo Federal. Hoje, deixou de ser.

Guaiaó: Qual é a perspectiva para o mercado de café?

Michael Timm: Penso nisso todo dia. O Brasil continuará sendo um participante importante do mercado mundial. Em 1994, nossas safras eram menores, na média, do que 30 milhões de sacas. Vinte anos depois, estamos em 50 milhões de sacas. Só não é maior por problemas climáticos. O mercado interno é grande, com 20 milhões de sacas. Você tem bastante espaço para tentar crescer.

Guaiaó: Você toma muito café? Prepara o próprio café?

Michael Timm: Tomo muito café, sim. Faço quando é expresso, o que qualquer um sabe fazer. Não sou expert em café de coador, mas tomo todos os dias pela manhã. No passado, não pensava nunca em comprar um café no supermercado. Hoje, os torradores apresentam bons cafés para o meu paladar. Gosto do café do sul de Minas, Mogiana, do cerrado. Você consegue coisas que gosta. Não tive tempo de provar este aqui. (Ele mostra dois sacos de um lote específico de Minas Gerais)

Guaiaó: Seu olhar é sempre profissional, de ler tudo na embalagem?

Michael Timm: Sempre leio tudo. Me assusta ver que algumas marcas não estão nos supermercados. É falha impressionante na distribuição. Tomo café todo santo dia. Tomo entre cinco e dez cafés por dia. Consigo viver sem café, mas eu gosto. Dizem que faz bem para saúde (neste momento, Michael ri). Tomo café bom ou ruim. Se tiver só ruim, tomo o ruim.