Marcus Vinicius Batista
Enquanto deputados berravam e se esbarravam pela Presidência da Câmara Federal, pré-candidatos sussurram nos corredores virtuais da política de Santos. São mundos que parecem ignorar, por hora, os eleitores, que respondem em silêncio. A mudez talvez prevaleça pela ausência de interesse ou pela falta de percepção de que eles são parte deste cenário, quando não cúmplices.
As panelas se calaram. Os gritos de "Fora Temer" ou de "Fora Cunha" são cochichos diante do falatório de dois meses atrás. Até o Fla-Flu da política polarizada joga na arquibancada vazia de quarta divisão às 10 horas, com sol de 35 graus à sombra. Só os apaixonados querem saber.
O silêncio deriva, é claro, de uma indignação seletiva. Os protestos contra Dilma e o PT nunca me passaram a ideia de uma queixa ampla, geral e irrestrita contra a corrupção. Havia foco, era circunstancial, mas é armadilha apostar como fenômeno definitivo. O preconceito se justifica apenas numa parcela que veste camisa amarela da intolerância e se cobre com a bandeira da ignorância, sem os exageros da generalização absoluta.
A democracia à brasileira é uma adolescente com as reações óbvias da idade. Corpo em transformação, acessos de raiva e de alegria com minutos de diferença, hibernação por causa dos hormônios de crescimento. Dela pode vir tanto birra gratuita quanto atenção para o aprendizado.
Os protestos recentes foram a primeira bebedeira forte, aquela pra valer, com lacunas de memória. Não foi um pileque, como diria minha avó. Agora, estamos de ressaca, sensíveis à luz, ao som, com dores e a promessa de que não repetiremos tal transgressão tão cedo.
As minorias não contam, dos fãs de Bolsonaro aos filhotes da ditadura, pois fazem jus à própria condição. Elas só representam o rodapé de página.
Minha esperança é que, quando a ressaca passar e o fígado estiver bem, este adolescente volte ao bar, escolha outra bebida - de outro teor alcoólico partidário - e se embriague para ressuscitar panelas, como recita a democracia que passa da adolescência à faculdade.
Obs.: Texto publicado, originalmente, no Diário do Litoral, em 17 de julho de 2016.
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