quarta-feira, 6 de julho de 2011

O grito dos professores

Os professores gritam por socorro. As reclamações saltaram os muros e as grades das escolas e se transformaram em placas, cartazes e sola de sapato gasta nas ruas. Com as marchas em moda, o professorado resolveu, em várias partes do país, expor a própria condição, num ato de desespero, que deseja a mobilização da sociedade.

No Rio de Janeiro, os professores fizeram greve na rede estadual. Em Santa Catarina, protestos contra o Governo, que se recusa a conversar sobre novas condições de trabalho.

É redundante, mas necessário lembrar que os salários dos professores são vergonhosos. A desvalorização da profissão remete ao regime militar há quase 50 anos. Nunca se falou tanto de educação como motor de desenvolvimento, ao mesmo tempo que a contradição do discurso está personificada em profissionais mal pagos e com formação deficiente. Justamente quem deveria colocar o motor para funcionar na potência máxima.

Na Baixada Santista, a condição do professorado também se mostra absolutamente discutível. Santos, a principal cidade da região, enfrenta uma crise de mão-de-obra na rede municipal. O déficit é, no mínimo, de 230 vagas, a ponto de a secretaria dar a partida em um processo de convocação de emergência.

A falta de professores em Santos se deve, entre outras razões, à fragilidade dos salários. Um docente recebe, por hora-aula, de R$ 9 a R$ 10. Muitos profissionais migraram para Cubatão e Guarujá. Encaram viagem maior ao local de trabalho porque a remuneração por lá é melhor. Praia Grande, por sua vez, concederá reajuste de 32% em 15 de julho.  

O Ministério da Educação acena com um déficit de 200 mil profissionais no país. A situação é mais grave justamente nos endereços em que os indicadores são mais baixos. Nas regiões Norte e Nordeste, professores entraram na lista de espécies em extinção. Nos grandes centros, a escassez é cristalina nos bairros periféricos, não importa a rede.

Em Santos, por exemplo, é rotineira a ausência de docentes no Caruara, na Área Continental.  Até no Gonzaga, bairro nobre, vagas estavam abertas – para mais de uma disciplina – com o ano letivo em andamento.

O protesto dos professores nas ruas (ou via imprensa) é legítimo não apenas pelo aspecto democrático, como forma de contestação ao poder vigente, mas para indicar à sociedade civil como a categoria não tem condições de carregar nas costas o fardo de empurrar, de maneira solitária e idealizada, a educação ladeira acima.  

Ser professor não tem relação alguma com sacerdócio ou atividade voluntária. É uma atividade profissional como qualquer outra, que merece um suporte cultural decente e remuneração compatível com os riscos e responsabilidades do ofício. Caso contrário, tende a ser multiplicar o semblante desapontado de alunos universitários que preenchem as cadeiras dos cursos de licenciaturas, numa demonstração de que muitos deles pensam em desistir da profissão antes da ultrapassar os muros da escola. 

Infelizmente, o grito está restrito aos professores da rede pública. Os colegas de profissão das escolas privadas, a maioria de pequeno porte, continuam amordaçados. Sob o risco de desemprego, choram em silêncio, no canto da sala de aula, como se pensassem naquilo que poderiam fazer para engrossar o coro dos desvalidos.

Observação: A secretária de Educação de Santos, Suely Maia, concedeu, no final de junho, entrevista ao jornal Boqnews. As declarações dela ajudam a entender o problema.