quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Mudar para não mudar



Marcus Vinicius Batista

O prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa, dorme sentado sobre um orçamento de cerca de R$ 1,5 bilhão. É muita responsabilidade. Responsabilidade suficiente para ter planejado melhor o final da primeira gestão e o início da segunda administração. Planejado a ponto de não culpar a crise como principal causa do caixa vazio e das dívidas que vão de pequenos fornecedores a coleta de lixo, além de atrasar 13º salário dos servidores.

Se um administrador de empresas testemunhasse sua empresa fazendo água, ele mexeria na equipe? O prefeito assim o fez, como manda a cartilha, com uma ressalva. Apenas trocou as peças de lugar. Mudar para não mexer. Inovar para paralisar. Inaugurar hospital para seguir de portas fechadas.

Na dança das cadeiras, o homem das finanças vai assumir a pasta da Saúde. Um profissional vinculado à Defesa da Cidadania passou para a Educação. E assim por diante. A lista é grande. Dois vereadores, eleitos para trabalhar no Poder Legislativo, não vão esquentar a cadeira na Câmara. Sadao Nakai e Cacá Teixeira darão lugar a dois coleguinhas suplentes, enquanto esquentam as cadeiras de secretários.

Se a equipe atual terminou a gestão com a Prefeitura de bolsos murchos e dívidas nas alturas, apenas trocar os pilotos de assento para mantê-los no avião sem combustível foi um belo presente de Papai Noel. Para a turma que segue no poder, claro.

É importante lembrar que se trata do mesmo time que distribuía sorrisos na cidade número 1 para se viver, em plena campanha eleitoral. Dois meses depois da eleição, muitos apareceram com carinhas de tristes em entrevistas coletivas para tentar explicar a anemia financeira que – de repente, não mais que de repente – contaminou a Prefeitura.

É esta gestão que prega o corte de gastos, mas sem mexer em sangrias como Prodesan e Cohab. Ninguém diz um “a” sobre enxugar ou desativar empresas que qualquer executivo do mundo corporativo sentiria calafrios em administrá-las.

É a mesma gestão que fala, bem baixinho, em vender imóveis, sem tocar no assunto aluguéis. Aluguéis de imóveis, muitos deles denunciados como inativos pela imprensa no primeiro semestre deste ano.

Pelo andamento dos discursos e da troca de camisas sem mexer no esquema tático, o ano de 2017 será de luta para não cair à segunda divisão. Como não dá para trocar o técnico, que ele mude ao menos de ideia.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Papai Noel está bravo!


Marcus Vinicius Batista

O Natal será mais magro. O regime forçado talvez inclua o Ano Novo. Para muitos, é a tal da crise, que saltita entre a desculpa esfarrapada, o medo de meter a mão e a geladeira mais vazia mesmo.

Papai Noel pode ser bonachão, solidário, condescendente e cheio de compaixão, mas ele ainda carrega dentro de si o passado de Grinch, tempos em que era magrelo, se vestia de amarelo ou verde e transpirava irritação e raiva contra crianças, adultos, cristãos, pagãos... Por mais que a principal marca de refrigerante o tenha transformado, a ira remoe dentro dele.

Como dizia minha avó, Papai Noel tá vendo. E enxergando o tratamento que tem recebido em Santos. Papai Noel mandou avisar que este ano a visita na cidade será de médico. Não é somente a anemia da decoração pelas ruas, símbolo de quem pecou pela soberba, vaidade, ganância, só para ficar na superfície política. Papai Noel percebeu, todos os duendes ouviram, até as renas comentaram, que Santos ficou como a cigarra quando o inverno chegou.

O velhinho sabe se virar. Só vai trazer lembrancinhas, mesmo assim deixadas na porta, com a etiqueta em mandarim do R$ 1,99. Nada de meias na janela tampouco descidas de saco gordo nas chaminés, tradicionais ou virtuais.

Papai Noel se decepciona quando imagina a miséria que será a Páscoa. O Ano Novo corre risco de passar em silêncio, com somente os gritos das ondas, sufocadas de tanta gente pulando, seja de medo de 2017, seja de medo pelo que fizeram este ano. O Carnaval, enganado pela promessa da profissionalização, aprendeu que resolução de réveillon alcança março.

Papai Noel não reclama do comportamento do menino santista. Sabe aonde ele pode chegar com as birras. O velho não esperava um final de ano tão minguado. Planejamento passou longe, uma bagunça antes, durante e no coração da crise.

O velhinho já andava desconfiado das promessas de segunda-feira, de verão, das férias e da passagem de ano. Os sorrisos de bom moço do menino não batiam com a postura dentro de casa. Quando viu a decoração mais parecida com velório, titubeou e quase cancelou o Natal.

Papai Noel pensou no espírito natalino e resolveu: que seja mais magro. Quem sabe o garoto toma juízo...

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

O enterro



Marcus Vinicius Batista

Nunca esperamos por certas mortes. Ainda temos a ilusão de que a imortalidade seria característica de alguns, tamanha a segurança, a imponência e a postura no cotidiano. Por isso, não me dei conta quando os jornalistas Rafael Motta e Nara Assunção publicaram a notícia. Ele estava morto.

Eu sabia da doença, que o corroía há alguns anos. Os sinais me pareciam evidentes, de uma degeneração gradual, mas passível de melhoras pontuais. Aquela velha esperança de paciente de UTI. Os quadros se estabilizam, daí vem uma mudança repentina, o paciente indica que a transferência para o quarto normal será breve. E é neste ponto que a crise definitiva se instala e todos em volta temem pela pior notícia possível.

O velório ainda não foi organizado. As reações diante da morte oscilam entre a barganha e a negação. Talvez, para poucos, prevaleça a resignação. O fato é que, se faleceu, não há como não organizar o funeral. Eles já estão vestidos de preto mesmo, o que facilita e – quem sabe? – economize algum, embora não seja do feitio da turma guardar recursos. Pelo contrário, o que se gasta com supérfluo assusta qualquer um.

O defunto tem nome e sobrenome pomposos, feito famílias quatrocentonas de São Paulo. Mas, para se manter pop e aparecer sempre na mídia, inclusive com as chatices e rococó da fala, prefere ser chamado pelo apelido. Coisa de americano essa história de iniciais.

Chega de delongas! Sente-se se ainda não recebeu a notícia. O Superior Tribunal Federal – de alcunha STF – morreu esta semana. A última fagulha de oxigênio não foi um acerto de contas ou um pedido de perdão para as pessoas próximas. Foi a coerência soberba de um catedrático distante do mundo lá fora.

O STF morreu de política rasteira. Sacrificou sua própria imagem para salvar a imagem do presidente do Senado, Renan Calheiros, com a desculpa de que protegia a imagem de estabilidade da política via relacionamento entre as instituições.

Parte dos juízes confundiu mais uma vez, só de que desta vez com escândalo, sem pudor, que Direito e Política são irmãos, mas nesta ordem de importância. Toda decisão jurídica está impregnada de subjetividade e se constitui como ação política. Mas nenhuma decisão é exclusivamente de tal natureza.

Os juízes se transformaram em celebridades e se embriagaram com os holofotes. Passaram a interferir na política como se tivessem mandato ou fizessem parte dos outros Poderes. Enforcaram-se na toga quando confirmaram o que muitos pensam sobre eles.

O STF não protege o interesse público, protege a si mesmo e seus associados. O STF protegeu Renan enquanto rasgava a lei sob qualquer perspectiva, inclusive moral. Não, principalmente moral. Por tabela, joga gasolina no clima de ódio sobre as instituições, manchadas e esquartejadas por suas lideranças, enclausuradas nas Casas Grandes. Apenas cuidado, pois os gritos das senzalas sobem um tom a cada chicotada na Ética.

Minha esperança é que as instituições costumam sobreviver aos homens. Assim, o cadáver pode ressuscitar, mas ainda depende dos coveiros e suas pás.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Tércio, o gerente



Marcus Vinicius Batista

A morte do ex-prefeito de São Vicente, Tércio Garcia, colocou um ponto e vírgula – não um ponto final – em um perfil de administradores públicos que dominaram o cenário desde a década passada. De João Paulo Tavares Papa a Dilma Rousseff. De Fernando Haddad a João Dória.

Com o esvaziamento relativo das ideologias do século 20, a política concedeu espaço para profissionais com perfil de gerência, administradores com carreira no serviço público, mas sem experiência na cadeira principal do Poder Executivo. Esse era o dom desejado pelo eleitor médio, visto pelos marqueteiros como consumidor, mas que enxerga a política com descrença e espera uma leitura mais econômica das relações entre o Estado e a população. O que não significa abandonar alguns coronéis.

O problema é que, entre o dom e a maldição, a fronteira é quase inexistente. O setor público é, diferentemente do que acreditam os ingênuos, outro mundo, com ligeiras – somente ligeiras – semelhanças com o setor privado. É fundamental traquejo político, característica que poucos gerentes possuem. Papa virou político. Dilma caiu pela ausência de molejo com o PMDB.

Tércio Garcia me lembrava David Capistrano. Nada de comparar gestões, em cidades com contextos sociais distintos. Ambos não eram políticos. Ambos foram empurrados para o fogo eleitoral por medalhões da política. Ambos tinham dificuldades no trato com a imprensa. Ambos não suportavam lidar com a fome do Poder Legislativo por cargos, fora acessos de provincianismo. Ambos adoravam a vida discreta dos gabinetes e do atendimento à gente comum.

Tércio Garcia pagou parte dos pecados, os quais assinou de forma voluntária, do “dono” de São Vicente nos últimos 20 anos. Alçado de presidente da Codesavi à prefeito, o mundo de Tércio ganhou problemas de todas as naturezas, principalmente provocados por quem adora sangrar São Vicente sem permitir suturas políticas.

Tércio gerenciou São Vicente por oito anos e pagou o preço por ter que se reportar ao mentor político. O humanista deixou uma última impressão negativa como administrador. Sucumbiu à máxima de que a segunda gestão (quase) sempre compromete a primeira. De São Vicente, foi para Limeira, onde retornou à vida pública como técnico.

Tércio Garcia foi um gerente. Oito anos, para ele, foram um intervalo no qual São Vicente respondeu de maneira negativa, sem saber do futuro mais escuro. Como disse, vago como um ponto e vírgula.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Eles só pensam naquilo




Marcus Vinicius Batista

A eleição de Donald Trump, além da incerteza do pânico, representa uma nova lição que muitos teimam em não refletir. Precisamos aprender que não existem fórmulas para classificar o eleitor, seja da minha cidade, seja dos Estados Unidos.

Em primeiro lugar, costumamos classificar pela negação de nós mesmos. Classificamos pelo estigma. O eleitor seria inferior à nossa capacidade de avaliação política, como se não fôssemos cúmplices das escolhas e da preguiça pós-voto. Trata-se do pressuposto de que o eleitor seria incapaz porque não pensa pela coletividade.

Depois, o que seria eleitor médio? Médio de inteligência? Classe média? Volúvel e manipulável pelo marketing eleitoral? O Simpson, do William Bonner. Pode ser tudo ou nada disso. O eleitor médio não existe, além da retórica.

Respeitando o pano de fundo cultural, são variáveis políticas que podem nos dar um perfil socioeconômico de quem vota, distante das alegações individuais, dispensadas pelos discursos tão intelectualizados, por vezes desconectados do mundo lá fora.

O eleitor escolhe por fatores múltiplos, que também incluem pesquisas, noticiário e, principalmente, olhando para o próprio umbigo. O umbigo transita das ideologias dos extremos à conta bancária, da estrutura da rua onde mora ao palavrório de familiares, amigos e parentes, da fé a uma visão preconceituosa de mundo, de um canto a outro do espectro político.

O eleitor médio – é apenas conceito – não se agarra em manuais acadêmicos, com conceitos filosóficos ou correntes teóricas que terminam com “ismo”. O voto é uma decisão prática. E cíclica. Uma decisão aplicada ao cotidiano de um mundo capitalista, mais complexo do que o Fla-Flu esquerda e direita. O eleitor vota pela garantia de seu próprio mundo. A escola do filho. O emprego próprio ou do parceiro. O quilo de carne na mesa.

É bobagem qualificar o governo Trump – ou da minha cidade – antes que ele aconteça. Há caminhos para o pensamento. Há temores e riscos. Trazer política para nossas vidas é um exercício necessário. Só que na política não há espaço para videntes. A complexidade política nasce e morre na urna, independentemente do endereço.

O eleitor – como termo no singular – é tão palpável como uma entidade espiritual. Prático como qualquer um de nós, inclusive quando tentamos justificar por ideologia. O resto é chute!

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

De costas para a Cultura

Câmara de Santos: um castelo isolado?

Marcus Vinicius Batista

Os vereadores, salvo exceções, são coerentes. Poucos sabem sobre o que importa na cidade de Santos e preferem seguir de olhos vendados. Eles são honestos com o que se pensa deles, quando decidem votar projetos irrelevantes ou de acordo com os interesses da Administração Municipal. E práticos ao fatiar a Mesa Diretora, sem debate, posando para fotos cheios de sorrisos. Riem de quem? Para quem?

A Câmara Municipal de Santos, nesta semana, selou o divórcio com a Cultura. Nunca foi, de fato, um casamento, era pose para parecer preocupada, aquele sujeito que fabrica uma namorada para vender a imagem de sério e comprometido.

Os vereadores se “esqueceram” de uma audiência pública, que trataria do ato da Polícia Militar contra a peça Blitz, que resultou na prisão do ator Caio Martinez. O encontro havia sido agendado no último dia 7 de novembro, o primeiro capítulo do desinteresse pelos artistas, pelo teatro, pela Cultura. A audiência também não foi remarcada.

A postura dos parlamentares ficou clara no mesmo dia 7, quando o ator Caio Martinez pediu a palavra na Tribuna Cidadã. O presidente da Câmara, Manoel Constantino, talvez inspirado pelo humor da peça proibida, disse que só autorizaria o pronunciamento do ator se ele comprovasse CNPJ.

Talvez inspirado pelos colegas de Brasília, o presidente da Câmara teve amnésia temporária, pois se esqueceu de que os próprios vereadores adoram chamar a Câmara de “casa do povo”. Ele se comportou como se o cargo lhe desse a propriedade do imóvel. Depois, argumentou que era contra a peça. Uma opinião irrelevante perante a natureza da regra e o nome do espaço: Tribuna Cidadã. Constantino só voltou a si quando pressionado por colegas.

Os vereadores o acompanharam na indelicadeza. Enquanto Caio falava, a maioria dos parlamentares engatava conversas paralelas ou brincava ao celular. Coerente com o que se vê nos parlamentos pelo Brasil.

Agora, os vereadores foram mais explícitos. Não tomaram conhecimento do assunto. Ignoraram a importância da audiência pública. Depois, fingem choramingar quando a existência das audiências é questionada.

Qualquer estudante sabe que a Cultura é o termômetro de uma sociedade. Ignorá-la também funciona como medidor, mas da frieza e indiferença de quem deveria – e ganha bem – para legislar pelo e para o Município. É melhor e mais saudável ocupar a praça, essa sim do povo.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Chapecoense: a morte e o apoio psicológico



Marcus Vinicius Batista

Não estamos preparados para a morte. A dificuldade em lidar com ela, no mundo moderno, nos faz saltar do silêncio ao espetáculo. Transformamos a morte em tabu quase paralisante, de modo que reduzimos todos os espaços possíveis para o luto. Evitamos, sempre que possível, olhar para ela, conversar sobre ela, fato que se acentua, por exemplo, entre os idosos.

Quando a finitude vem de forma abrupta, como a tragédia com jogadores da Chapecoense, jornalistas, dirigentes e tripulação, ficamos atordoados diante da complexidade de sentimentos e emoções que nos acometem, muitos deles além do acidente aéreo, mas derivados da cultura que os acompanha.

A comoção é a primeira resposta natural. Queremos saber os detalhes, compreender a história - com causas e consequências - de maneira instantânea, como prega a cartilha do contemporâneo. Queremos saber os detalhes, mas voltamos ao estado de coisas ao notarmos as dificuldades em expressar nossas reações internas. Por quê?

Optamos pela concretude dos acontecimentos. Nomes, local do acidente, causas da queda da aeronave, como ficará o campeonato, a burocracia da organização do torneio, as repercussões entre especialistas e oportunistas, tudo serve como escapatória para lidarmos conosco, a partir da morte do outro, que mal conhecemos. Por que nos comovemos? A preservação da vida como valor explica tudo?

Por trás disso, há a cultura do futebol, ainda presente - felizmente -, mesmo com a transformação do esporte em termômetro de ganância. O futebol é um dos mais eficientes mecanismos de aferição do comportamento humano. Vemos ali a selvageria humana, o tribalismo, o reflexo econômico, o uso político, a desigualdade social, a intolerância e o preconceito. Mas enxergamos também o amor, a esperança, a paixão, a generosidade, a solidariedade.

Um acidente aéreo nos provoca a compensação perante uma visão negativista e exclusiva do futebol. A tragédia nos reacende como humanos, nos revolta contra a hipocrisia, contra a fome financeira ou as palavras emitidas sem limites, sem o olhar para a dor do outro. Nem tudo pode ser piada em todas as circunstâncias. O futebol ressurge como prática coletiva, próxima do universal, acima da competitividade.

É da pior forma possível, mas o acidente aéreo nos coloca como limitados, como falíveis, como finitos. Uma hora ou outra, o futebol como associado da morte - não na violência gratuita e estúpida dos estádios, também banalizada pelo show, mas no acaso inevitável e devastador - serve como gatilho para refletirmos sobre como encaramos o esporte, a digestão dele como extensão da vida.

O luto será coletivo, midiático e elaborado de um espectro a outro da condição humana. Este luto tende a ser mais acelerado, conectado ao noticiário, com intervalos cada vez maiores conforme a distância entre o fato velho e o acontecimento mais recente. Haverá a catarse no estádio, as homenagens globalizadas, de acordo com o que é essencial para lembrarmos de que a morte, embora inevitável, machuca demais se imprevisível.

Entretanto, não se pode relativizar ou amenizar o luto individual, familiar, das pessoas que jamais esperariam perder um ente próximo num período de realizações profissionais férteis, no melhor momento da carreira de muitos jogadores, no auge de um clube visto como coadjuvante no futebol nacional. Famílias de jovens, que jamais cogitaram o término de biografias quando as histórias alcançavam o clímax.

Essas famílias necessitam de apoio, inclusive da perspectiva psicológica, medida que inclui os sobreviventes, os que não viajaram, todos que tentarão reerguer a instituição, o clube, enquanto procuram remédios para feridas profundas internas e nada palpáveis.

Campeã ou não, a Chapecoense - traduzida pelas pessoas que a mantém viva - tem que fechar para balanço, chorar o que for de direito, recolher-se para reflexão, para o luto, para a elaboração do pior episódio de sua trajetória. Só assim teremos a metamorfose de sentimentos, que transitarão pela raiva, negação, tristeza profunda até alcançar a saudade. Essa sim ficará por muito tempo e será o motor que empurrará a Chapecoense, jogadores, equipe técnica, jornalistas para um lugar bem mais confortável na memória afetiva.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Beto, o homem que fala ...



Marcus Vinicius Batista

O deputado federal Beto Mansur, como todo político, gosta de falar. Articulações, costuras, diálogos, concessões, conflitos, tudo faz parte do cotidiano da política, ainda mais para um profissional de mandato.

Nesta semana, Beto foi aos microfones da imprensa explicar o que se tornou difícil de justificar. Beto usou como argumento um número mínimo de deputados para que a votação fosse nominal. A explicação é conveniente, aquela brecha no regimento – os parlamentares são mestres em cavar – que transforma uma questão moral em futilidade.

Se você não tem acompanhado a política nacional, Beto Mansur tentou defender porque os deputados federais não votariam nominalmente (ou seja, se identificando) a anistia para caixa 2. O deputado perdeu nova oportunidade de legislar em prol de seus eleitores, de quem ainda espera um país com o mínimo de seriedade de seus representantes.

Arrumar quatro deputados que assinassem um papel para valer a votação nominal é mais fácil do que gritar Jesus, família e curral eleitoral em plenário no processo de impeachment. Fora isso, trata-se de uma encruzilhada moral, que envolve um tema inerente às discussões sobre corrupção no país. Como assim, anistiar quem se utiliza de caixa 2?

A anistia quebra o eixo de um contexto no qual a corrupção é central, mas os parlamentares – que sempre dão o exemplo de como não se comportar – preferem olhar para o próprio umbigo e proteger o próprio rabo. Nenhum deles tocou no assunto, o que nos leva a crer que muitos deles desejam, no fundo, perdoar a si mesmos e manter os bolsos como bois gordos no pasto.

O deputado federal Beto Mansur está no auge da carreira parlamentar. Alçado pelo hoje órfão de amigo Eduardo Cunha, Mansur saiu do baixo clero para se tornar um cardeal na Câmara. E o poder em demasia sempre coloca o príncipe em exposição, já pregava Nicolau Maquiavel.

O ex-prefeito de Santos é hábil em jogar com as regras. Elegeu-se pela matemática eleitoral; primeiro, com Paulo Maluf; segundo, com Celso Russomano. Agora, repete a tática.

Em termos políticos, é essencial que o deputado consiga construir uma boa imagem além da Baixada Santista. Isso inclui o interior do Estado, com colégio eleitoral maior. Uma imagem capaz de minimizar – jamais apagar – a mancha das acusações de trabalho escravo ou do selfie inapropriado com o prefeito de Santos durante o incêndio na Alemoa.

Mansur é um sujeito experiente e sabe que seu destino é o Congresso Nacional. Salvo um milagre, ele não tem mais chances de retornar à Prefeitura de Santos. Imagino que, diante de tanta visibilidade, o deputado não pense mais em retornar para casa, exceto às quintas-feiras, todas as semanas.

Beto Mansur só tem que se precaver dos riscos do poder. Denúncias, burocracia do Poder Judiciário, fotinhas de rede social, tudo isso é troco da pizza. O problema é que, assim como os peixes, os deputados morrem pela boca. Vide o tubarão – que não é peixe, mas serve como - Eduardo Cunha.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

A lei e as cervejas



Marcus Vinicius Batista

A Câmara Municipal de Santos, de vez em quando, olha pela janela da torre de marfim, lá no alto do Castelinho. Isso costuma acontecer nos intervalos entre entregas de títulos e fotos sorridentes de acordos políticos. Uma exceção é a lei que regulamenta e estimula o desenvolvimento de cervejarias microartesanais na cidade.

A lei é do vereador Sandoval Soares (PSDB), futuro vice-prefeito de Santos, e tramita no Poder Legislativo. A legislação se tornou necessária não apenas pelo crescimento do setor na cidade; por sinal, organizado e consciente do cenário local. A lei é o espelho de um hábito cultural presente em Santos, no mínimo, desde o final da década passada.

O barateamento da tecnologia, o intercâmbio de informações e conhecimentos, somado à disciplina e paixão dos produtores, fizeram com as cervejas deixassem de ser mero elemento de consumo de massa em prateleiras de supermercados. E muito mais do que o superficial estereótipo que associa cerveja à embriaguez.

A cerveja artesanal é a demonstração de amor à bebida, a transformação dela em algo sagrado, esculpida por horas, com a união milimétrica de ingredientes. Os produtores de cerveja a entendem como o instrumento que conecta pessoas, que constrói relacionamentos duradouros, nascidos em volta de uma mesa, como a comunhão pela bebida que mudou de cor e textura.

Regulamentar a atividade significa, antes de mais nada, tirar as cervejas artesanais da clandestinidade. Aliás, uma clandestinidade falsa, permitida porque os legisladores, quase sempre, levam tempo para notar a dinâmica da cidade onde trabalham.

A lei prevê, por exemplo, a conexão entre as cervejas e o turismo, fundamental num município que se limita à cultura veranista. Recentemente, houve um pequeno encontro - se compararmos com a Oktoberfest de Blumenau -, capaz de servir como termômetro para o potencial das cervejas artesanais. Muitos endereços as vendem de maneira informal. De vendas na Internet a encontros na praça dos Andradas, passando por pizzarias e empórios.

Os produtores mexem com coisa séria e responderam de maneira positiva ao projeto de lei, que estabelece - por exemplo - ações educativas contra o alcoolismo, além de posturas ambientais. Cervejeiros artesanais não bebem aos galões. Suas obras de arte precisam de apreciação, de degustação. Alguns deles se tornaram sommeliers e ministram cursos. Nada de ser primo pobre do vinho.

Os microcervejeiros, pela lei, não poderão produzir mais de 3 mil litros mensais e trabalhar com maquinário industrial que armazene mais do que o dobro disso. Os produtores estão, em sua maioria, organizados em torno Confraria Santista da Cerveja (Conscerva). Alguns se tornaram representantes de marcas maiores, fruto de estudo e percepção de negócios.

O Brasil possui cerca de mil microcervejarias, mas apenas cerca de 300 estão regularizadas. Cidades como Campos de Jordão trabalham as cervejas como atração turística permanente, com lojas e eventos.

Em Santos, os produtores só querem transformar amor e prazer em trabalho, ao menos de forma oficial. Depende da Câmara Municipal olhar a cidade com sobriedade.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A consciência humana?


Arte: Vinil Colante e Fixxa - Jardim Botânico de Santos

Marcus Vinicius Batista

Prometo todo ano que não vou escrever sobre racismo no Dia Nacional da Consciência Negra. Não consigo cumprir a promessa, diante da criatividade de muitos indivíduos que insistem em negar a discriminação no Brasil. É a velha turma que se esconde atrás de máscaras como “racismo velado” e outras baboseiras para perpetuar as desigualdades.

As palavras dizem muito sobre quem somos, inclusive quando tentamos usá-las para camuflar reais intenções. A bola da vez é a propagação do termo “consciência humana”. É a modinha politicamente correta, que sonha em sepultar a luta pela igualdade racial via negação.

Falar em consciência humana é reproduzir, em entrelinhas cosméticas, a mentalidade do branco, privilegiado ao longo dos processos histórico-sociais brasileiros. É, além de desqualificar a data, amenizar um problema que – brancos como eu – podem ajudar com debates, estudos e reflexões sobre o assunto, conscientes (perdoe-me pelo trocadilho) de que jamais, jamais sofreremos uma ínfima parcela da violência que acontece todos os dias, em todos os cantos.

A turma da “consciência humana” não peca somente pela má fé, mas também pela desinformação. É um desconhecimento atroz não apenas da História do Brasil, como também da trajetória de movimentos sociais ligados aos negros, a partir do século passado, e ainda das discussões internacionais em torno da violência calcada por discriminação étnico-racial.

A consciência humana passa um verniz mau cheiroso sobre a relação conflituosa entre a Casa Grande e a Senzala, que transformou – sem querer – Gilberto Freyre num profeta. O poder se torna permanente pela ausência de questionamento sobre si mesmo. O estado de coisas se mantém quando não se percebe que ele existe, como se adapta às pequenas queixas cotidianas, incapazes de sacudir a essência do contato entre controladores e controlados.

Consciência humana é aquela que elimina o candidato por não se encaixar na boa aparência. É aquela que não permite conhecer médicos, fisioterapeutas, dentistas, juízes, professores universitários, entre outras profissões, com pele mais escura. É aquela que estigmatiza a cor dos suspeitos na batida da polícia, a mesma que para o motorista de carrão pensando que é chofer ou ladrão. E a lista vai embora...

Turma da consciência humana, enquanto negarem o Dia da Consciência Negra, vocês estão negando parte considerável do país onde vivem. Pior: sonhando com uma terra tão fantasiosa como o “país do futuro”.

Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 20 de novembro de 2016.
         

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A comédia de erros



Marcus Vinicius Batista

A prisão do ator Caio Martinez por policiais militares durante a peça "Blitz - O império nunca dorme" reacendeu o debate sobre censura e liberdade de expressão. Como uma comédia de erros, o episódio nos proporcionou cenas hilárias de pastelão, como equívocos propositais para enganar o público e manter a história sob suspense. O final, aliás, segue indefinido.

A repressão arrepiou a todos. Se até o governador Geraldo Alckmin e o jornal Folha de S.Paulo, em editorial, condenaram a ação dos policiais militares, o temor é mais do que justificável. O autoritarismo está vivo, nos olhando atrás das sombras.

Os policiais militares tomaram uma decisão pelo orgulho ferido. Tentaram ser mais realistas do que a corporação que servem e viraram personagens dos Três Patetas. Foi o humor infantil às avessas, de quem generaliza tudo, não enxerga a segunda camada do texto e reage sem perceber que a crítica institucional os defende, como trabalhadores mal remunerados e sujeitos a todo tipo de violência - não a teatral - no cotidiano.

Parte do público que consumiu o espetáculo de mídia pós-prisão também ficou com o pirulito na boca enquanto recebia tapas na cabeça. Muita gente caiu no conto da carochinha chamado "Agressão aos símbolos nacionais."

A versão foi a tentativa de reviravolta na comédia, dada por quem não quer parecer vilão da história. Na praça, os policiais não falaram em "uso indevido de símbolos nacionais", como aparece no Boletim de Ocorrência registrado no 1º Distrito Policial de Santos.

Lá, o discurso inicial era o som alto. Depois, o "tom" da peça. Nada de bandeira de cabeça para baixo ou outros exageros de fundo cívico, que mais lembram as aulas de Educação Moral e Cívica da ditadura militar. Tristes quem nunca percebeu a catequização do sistema educacional.

A versão que nasceu na delegacia e foi pulverizada pela PM tentou desmoralizar os artistas, criminalizá-los e ganhou eco no coral do bandido bom é bandido morto. A mesma turma que se cala diante dos baixos salários do policiais e silencia de medo quando é parada numa blitz por associar polícia à excesso de violência e corrupção.

A propaganda funcionou! A comédia de erros mudou de rumo e oscilou no maniqueísmo infantil de novela. Dali, brotaram investigações para acalmar os danos políticos. Os PMS deverão pagar pela distorção de leitura de mundo.

Muita gente adepta do "não vi e não gostei" partiu para o achismo imediato que justifica tese anterior - e se encaixa em tudo na vida - para ganhar a conversa. Jamais se coloca no lugar do outro. Até porque, se se colocasse no lugar dos policiais, os entenderia como indivíduos, passíveis de erros, e fruto de um treinamento e de uma rotina que os desumaniza.

A maior piada deste episódio é o não entendimento de que liberdade só existe como ato coletivo e é necessária para criticar, tanto artistas quanto policiais. A história se repete como farsa. Na história, os defensores do autoritarismo só se dão conta de que - cedo ou tarde - a mão de ferro caiu sobre eles quando não podiam mais reclamar ou falar, exceto dizer amém ou "Sim, senhor, senhor."

Até o governador sabe disso.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A blitz contra o humor



Marcus Vinicius Batista

O humor derruba os pretensiosos. Os policiais militares que, amargos, impediram a encenação da peça "Blitz - o império que nunca dorme" não entenderam a piada, no último domingo na Praça dos Andradas, no Centro de Santos.

O humor, quando político, serve para sacudir a arrogância de quem se considera universal, incontestável, a voz da autoridade e de seu lado perverso, o autoritarismo. A sátira, viva na peça, martelou além do muro dos estereótipos. Enfiou o dedo na ferida que os policiais sabem, de uma maneira ou outra, que sangra em silêncio.

O humor costuma ter dois caminhos e duas práticas. Além do caminho político, existe a retórica do preconceito, da piada destrutiva, do riso constrangedor de quem cutuca com a maldade. O humor nunca é bondoso, por sinal; ele nos dá as armas para devolver a opressão ou para promovê-la em tom gratuito. O humor como preconceito é raso, o que não foi o caso.

A fronteira sutil entre a política e o preconceito pode, por vezes, deixar de existir. Ambas se fundem, mesmo que a mensagem seja necessária. E o preconceito pode estar vivo naquele que se dói ao enxergar a si próprio como caricatura e busca aniquilar as palavras de protesto.

A peça não era inédita. Foram cerca de 50 apresentações em dois anos e meio. Policiais militares a assistiram em outros lugares, assim como é preciso separar a ação de indivíduos da instituição. O humor é genérico para que os indivíduos vejam o que sobrevive sob suas fardas, nas entrelinhas da hierarquia e da burocracia do poder instituído.

A peça Blitz funde duas práticas. A encenação é o Chalaça machadiano, do deboche imediato, tão presente na cultura brasileira. Reduzir o outro, o agressor, a pó na velocidade oposta da violência cotidiana duradoura. O espetáculo reproduz a característica erotizada do humor à brasileira, que se apropria da linguagem corporal para fazer graça.

Por outro lado, a peça se agarra na ironia, comportamento sofisticado de ataque e exposição do outro, de rasgar a vaidade ao meio como mecanismo de valorização da própria inteligência. Os apressados não veem a riqueza do subtexto que exala do corpo do palhaço. Os violentos morrem de vergonha e de raiva no primeiro giro do picadeiro.

Blitz cercou os policiais militares pela palavra. Por ironia, quem julgava prender os transgressores acabou algemado nas sutilezas da própria piada sem graça.

Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 1º de novembro de 2016.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Enganando os velhos



Marcus Vinicius Batista


O ônibus 17 parou no primeiro ponto assim que entrou no canal 4. Duas senhoras tinham feito o sinal. Como havia um carro estacionado em local proibido, o coletivo ficou uns dois metros afastado da calçada. A primeira senhora subiu com alguma dificuldade no ônibus.

A segunda mulher se segurou nas portas, fez força e não conseguiu. Fez força e não conseguiu novamente. Fez um pouco mais de força, balançou a cabeça em negativo, agradeceu e voltou para o ponto. Esperaria pelo próximo.

Bastou passar a eleição para que a vida se normalizasse com a velocidade de um ônibus atrasado para o ponto final. Os políticos só aparecem nas entrevistas, muitos desaparecem das ruas, alguns choram as pitangas nos currais, outros sorriem de orelha a orelha nos mesmos endereços.

Seguindo o caminho da normalidade, os vereadores de Santos - salvo exceções - mantiveram seus dedos rígidos para votar contra parcelas do eleitorado e dizer amém para a Prefeitura.

Na segunda-feira, dia 17, 15 vereadores votaram a favor do veto do prefeito Paulo Alexandre Barbosa para o projeto de lei que determinaria a adaptação de todos os ônibus da cidade. As exceções foram o autor do projeto, Antônio Carlos Banha Joaquim (PMDB), e Evaldo Stanislau (Rede). O presidente da Câmara, Manoel Constantino, só votaria se houvesse empate, mas ele se manifestou a favor do veto.

O projeto estabelecia a instalação de mais um degrau nos ônibus, o que reduziria a diferença para 20 centímetros do chão. A Prefeitura alega que o projeto é inconstitucional, pois afeta o contrato firmado com a Viação Piracicabana, única operadora do sistema de transporte municipal, nas linhas circulares. O projeto passou pela Comissão de Justiça da Câmara, que serve justamente para analisar a viabilidade jurídica dos projetos.

Além disso, a administração afirma que a adaptação nos ônibus causaria desequilíbrio financeiro à empresa, com possível reajuste da tarifa. Logo a Prefeitura, que aumentou suas dívidas nos últimos quatro anos. Os vereadores assinaram embaixo, na frente e do lado.

No ano passado, os parlamentares já tinham virado as costas para passageiros idosos. Na ocasião, eles vetaram a redução da gratuidade nos ônibus para pessoas com 60 anos. Hoje, vale para quem tem 65. O Estatuto do Idoso classifica como tal a pessoa que completa 60 anos.

Apenas para lembrar em quem você votou, veja os nomes de quem votou contra os passageiros idosos: Ademir Pestana, Carlos Teixeira Filho (Cacá), Geonísio Aguiar (Boquinha), Jorge Vieira da Silva Filho (Carabina); José Lascane, Kenny Mendes, Roberto Teixeira (Pastor Roberto), Sadao Nakai, Sandoval Soares – todos do PSDB.

Além deles, também aprovaram o veto os vereadores Adilson dos Santos Júnior (PTB); Benedito Furtado e Igor Martins de Melo (PSB), Hugo Duppre e Zequinha Teixeira (PSD) e Sérgio Santana (PR).

Cinco deles não estarão mais na Câmara a partir de 2 de janeiro. Só que os outros dez colegas ficarão até 2020. Nada como a volta à vida normal, inclusive para quem vota em plenário e não sabe - ou se esqueceu - o que é pegar ônibus.

domingo, 30 de outubro de 2016

Santos, Praça dos Andradas, 1964


Marcus Vinicius Batista

O ator Caio Martinez vestia uma farda policial, da cintura para cima. Da cintura para baixo, uma saia preta, meia calça preta rasgada e um coturno da mesma cor. Caio estava algemado e cercado por três policiais militares, esses de fardas oficiais.

Os policiais colocaram Caio Martinez, como um criminoso, na parte de trás da viatura, e o levaram para o 1º Distrito Policial de Santos. Meia hora antes, ele e outros atores encenavam a peça "Blitz", uma comédia que brinca com o autoritarismo e o estereótipo do policial.

A peça, encenada na Praça dos Andradas, no Centro de Santos, fazia parte de um sarau, que terminaria na Vila do Teatro, no mesmo endereço. O espetáculo foi interrompido por meia dúzia de viaturas da PM - uma dúzia de policiais - mais viaturas da Guarda Municipal.

Os policiais, inicialmente, alegaram que o problema da peça na praça era o som alto emitido pelas caixas. No meio das discussões entre artistas e policiais, um dos PMs reconheceu: "o problema é o tom da peça."

Os PMs não conseguiam falar a mesma língua. Dois deles tentaram prender uma garota, depois desistiram diante das pressões. Um dos atores perguntou: "Qual crime?". A resposta: "Ainda não sei!".

Os artistas acusaram PMs de filmar as pessoas na praça logo após a interrupção do espetáculo. Como reação, quiseram apreender os telefones de atores e atrizes, sob a alegação de que desejavam ver o conteúdo. Muitos filmaram e fotografaram a ação da PM.

Um dos motivos da realização do sarau era a discussão do papel da praça nos tempos atuais. Uma conversa derivada, entre outras coisas, da festa A Praça É Nossa!, que reuniu quatro mil pessoas na Praça dos Andradas, há duas semanas. Na ocasião, guardas municipais e policiais militares não sabiam como agir diante de tanta gente, num evento sem caráter oficial/governamental.

A ação deste domingo na Praça dos Andradas ressuscitou tempos perigosos. Tempos de atos autoritários. Tempos nos quais as figuras que se julgam donas da lei - sem especificar quais são elas - se consideram capazes e legitimadas para tomar quaisquer atitudes diante de uma manifestação popular.

Os policiais militares tentaram apreender os equipamentos da peça. Não havia alegação alguma. Apenas repetiam o mantra de que os artistas não poderiam retirar seu material da praça. Depois, desistiram. Artistas e voluntários recolheram os adereços, os cenários, desmontaram um andaime e guardaram tudo na Vila do Teatro, enquanto o ator Caio Martinez seguia para a delegacia mais próxima como um marginal.

O que testemunhei hoje, na Praça dos Andradas, oscila entre a ironia, a tragédia e a violência. Ironia porque a praça, tão lembrada pela dificuldade do poder institucionalizado em compreender seu próprio papel como protetor de pessoas e não de patrimônio, deveria representar a liberdade pela sua natureza pública. Liberdade em permitir, como espaço público, os mais diferentes ato de pensamento, ainda mais pela arte, ainda mais pelo teatro, de essência política. 


Artistas em frente à delegacia, em apoio à Caio Martinez
Foto: Rodrigo Montaldi Morales

A tarde de hoje será lembrada também pela tragédia, como alerta para a ressurreição de uma época onde a mordaça vinha pelos cassetetes, pelas celas, pelos carros com sirenes conduzindo "gente subversiva".

A violência se completa na reação de quem tenta fazer desaparecer o que não consegue entender e, diante do papel que ocupa, prefere determinar a não ouvir. Os policiais militares demonstraram sua limitação diante do oxigênio cultural. Não conseguiam respirar diante da piada sobre si mesmos.

Orientados a destruir sem refletir, os policiais militares não percebiam que reproduziam a censura, a fita preta na boca, num período democrático. Parte sequer se sentia ofendida. Apenas tentava tirar "aquele bicho" dali.

A Praça dos Andradas, antes cercada e hoje livre para a arte e a política, carrega em si as tatuagens da história, tanto as páginas coloridas como as manchadas pela truculência. É a praça da Cadeia Velha, que serviu para calar as vozes dissonantes como para abrigar quem enxerga além da superfície pela cultura. A mesma Cadeia Velha que testemunhou, a 50 metros de distância, a prisão de um ator, vestido como personagem que tentava dar voz a uma crítica contra quem o algemava.

A Praça dos Andradas leva no nome a história de uma família que pensou e trabalhou politicamente pelo país. Que viveu e sofreu as surras de quem vive para emudecer o canto alheio. Uma praça que carrega uma história de resistência, de conflitos com o poder.

A boa notícia, a flor que nasce na secura da terra, é que a ocupação das praças se tornou inevitável. Que a arte vai se reproduzir, como células sadias, nos espaços públicos para dizer o que pensa, para criticar com todas as letras as cartilhas que são folheadas nas entrelinhas, para mostrar como o teatro, a música, o circo e tantas outras manifestações servem para o homem sair do lugar, e não paralisá-lo na frente de cassetetes e palavras de ameaça.

Hoje à tarde, a Santos de 2016 voltou - por uma hora - a 1964. Não como farsa, no palco a céu aberto, mas como remake, estrelado pela ignorância e pela truculência.


Em tempo: a peça "Blitz" teve apoio do Proac, ligado à Secretaria do Estado da Cultura. Apoio do Governo do Estado, o mesmo que sustenta a PM.      

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

A praça é nossa!

A quem pertence a praça pública? Qual é o papel dela?

Marcus Vinicius Batista

A fórmula para a desorientação era simples. Quase quatro mil pessoas ocuparam a praça dos Andradas, no último final de semana, no Centro de Santos. A praça, cercada por grades até recentemente, ganhou vida. Muito mais vida do que ser o local de passagem para a Rodoviária.

O colorido humano desnorteou a Guarda Municipal, instituição que existe para proteger patrimônio, e não pessoas. Como proteger o patrimônio, que também pertence às pessoas, delas mesmas? De quem é a praça, num evento que se chama "A praça é nossa"?

Sobraram ordens, contraordens, notas oficiais, silêncios e reuniões para saber o que fazer com as pessoas que resolvem se divertir nas praças. No mês passado, centenas de jovens circulavam e se espremiam na praça das Bandeiras, no Gonzaga, por causa da febre da caça aos Pokemons. A cultura japonesa deixaria jovens mais calmos, sem a necessidade de intervenção?

Por trás das ações dos coletivos ou da paralisia do Poder Público, nascem as questões: qual é o papel das praças? Para que elas servem?

As praças perderam seu papel original, lá da Grécia Antiga. Nas praças, a Filosofia começou a sair do útero do pensamento humano. Nelas, emergiram debatedores que foram eternizados, como Sócrates e Platão. As praças, na Antiguidade, eram locais públicos, de nascimento e de vida, onde pessoas trocavam visões de mundo, colocavam no chão ou nos céus as ações coletivas e faziam política.

A modernidade quase assassinou a praça. Transformou-a em caminho, em ponte de passagem para o outro lado da via pública. As praças são lembradas, de vez em quando. A da Independência, por exemplo, em comemorações de campeonatos do Santos ou em manifestações políticas recentes. Manifestações que devem estar, por sinal, no mesmo armário onde as panelas hibernam em silêncio.

Os coletivos culturais lutam para ressuscitar o papel da praça. Mais do que um lugar de encontros pontuais, as praças têm que ser tomadas com mais frequência, para todos os gostos, cantos e olhares. E o Poder Público que aprenda a conviver com a novidade e prepare seus funcionários para lidar com o novo (ou a volta do velho).

A ocupação da praça dos Andradas chega a ser uma dose irônica de colírio, numa cidade onde muitos veem e idolatram o que é, para eles, o melhor lugar para se reunir num sábado à noite: a Praça de Alimentação. Esta não pertence às pessoas, e sim ao shopping center.

Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 19 de outubro de 2016.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Setembro, o ano inteiro


Marcus Vinicius Batista

As fitas amarelas saíram dos casacos, vestidos e camisetas. A passagem do mês mudou a cor. O outubro é rosa. A campanha é igualmente importante. Importante é que não troquemos uma pela outra.

Em setembro, suicídio entrou na agenda social. De debates nas universidades a programas de TV. De reportagens na imprensa a relatos de familiares e amigos. A campanha "Suicídio - é possível prevenir" cutucou um tabu que resiste o ano inteiro, que fingiu fraquejar no mês passado.

O suicídio está entre nós, como ação humana que independe de classe social, religião, cor da pele, lugar, gênero ou idade. O suicídio é uma questão de profunda gravidade, que precisa ser tratada como de todos. Quem não conhece alguém que se matou? Algum parente ou amigo que sofreu a perda, passou pela impotência de desconhecer que o suicida sofria calado, sofria invisível?

Assim como fugimos da morte ou a transformamos em espetáculo, destinamos o silêncio ao suicídio. É essencial tratar sem moralismos como fraqueza, egoísmo ou imaturidade. Suicídio é a resposta para o sofrimento contínuo e subterrâneo. É a resposta para todas as respostas que falharam.

Segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Brasil registra 25 suicídios por dia. Mas o número é subestimado. Muitos casos são registrados como acidentes ou como mortes sem causa aparente.

A Organização de Saúde (OMS) defende que 90% dos casos poderiam ser evitados se houvesse uma rede de atendimento. É...falta política pública em todos os níveis, sem falar que a saúde mental é o primo miserável na fila das verbas para o setor.

Para cada suicídio, a OMS fala em 20 tentativas. Mas o número é subestimado, pois só contabiliza os casos registrados em hospitais. Muitas vezes, o suicídio - por ser tabu - é enterrado nos armários da família, no silêncio dos colegas de trabalho, na mudez dos parentes e amigos próximos, que ajeitam válvulas de escape para criar outros temas ou simplesmente amenizar as feridas que seguem abertas. A OMS calcula que um suicídio afeta de cinco a dez pessoas próximas. Temos que falar sobre isso.

O suicídio está além da associação com loucura ou com a exclusividade da depressão. Ou com a perda de emprego. A morte é o final de um processo, com alertas de toda ordem. O suicida sempre dá sinais antes de tentar acabar com a vida. Ou melhor, com a dor. E conversar sobre o que o aflige é um caminho para o acolhimento, que pode aliviar as dores, que pode vislumbrar um caminho novo.

Conversar sobre o tema, tirar o manto do tabu é, acima de tudo, ouvir. Ouvir. Ouvir. O que menos ajuda são dedos apontados, determinar o que o outro deve fazer ou acusá-lo de fragilidade, de infantilidade, de fuga.

O suicida não é um covarde. Tampouco um corajoso, capaz de acabar com a própria vida. Isso não vem ao caso. O suicida em potencial precisa de alguém que o escute, que o ampare para torná-lo visível e relevante. O CVV, trabalho voluntário de escuta, deveria estar em todos nós.

As campanhas mudam de cor. Do amarelo para o rosa. Em novembro, o azul. Por que não podemos adotar o arco-íris o ano inteiro?

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Entre alunos e professores, o humano




Marcus Vinicius Batista

Passei 33 dos meus 42 anos de vida dentro de uma sala de aula. A maior parte do tempo como aluno. 14 anos como professor. Os últimos três, nos dois lados do balcão, dentro da mesma universidade. Voltei à graduação e convivo com colegas com metade da minha idade ou menos. Duas vezes por semana, desço um lance de escadas para trocar de papel. Do Jornalismo à Psicologia. O aprendizado se funde em ambos os papéis.

Conheço, infelizmente, uma escola em seus intestinos. Conheço, com alegria, uma escola em sua alma. Por suas almas que passam pelas roletas todos os dias. O tempo, as leituras, as relações humanas, as vivências e o peso da idade derrubaram todas as ilusões. Ilusões diferem de sonhos e desejos. Ilusões se aproximam de fantasias, de delírios e alucinações.

Desconfio de datas comemorativas. Elas nos trazem o reconhecimento do instante, mas também nos entregam as convenções sociais. O resto do ano é o único termômetro para medirmos em qual dos dois endereços moram os cumprimentos. Eu agradeço a todos no Dia dos Professores, por exemplo. O nível do meu entusiasmo indica, nas entrelinhas, se estamos falando a mesma língua.

Como professor, não sou herói. Sou humano e falível, inclusive com pilhas de contas a pagar. Posso ser generoso e grosseiro, simpático e arrogante, transparente para ajudar, cristalino para reagir conforme o tom da música. Isso tudo na mesma aula, assim como quem se senta para me ouvir e para dialogar comigo.

Ser professor é um ofício. Um trabalho profissional. Não sou colaborador ou voluntário. Posso e costumo sê-lo com muitos alunos, fora dos horários, fora das instituições, no auxílio diante de um problema pessoal ou acadêmico. Mas defendo que é preciso respeitar para que a recíproca seja verdadeira.

Meu trabalho não é missão. É de formação de pessoas, que precisam se sentir motivadas e disponíveis para o aprendizado. Tampouco sou sacerdote. Não sou messias de uma religião chamada conhecimento. Sou um operário que trabalha duro e tenta assumir as responsabilidades, quando falha, atrasa, se ausenta ou não atende às expectativas.

Sou também aluno. Nunca fui brilhante, sempre acreditei na dedicação e no esforço e caminhei adiante com estas duas bandeiras debaixo do braço. Acima de tudo, enxergo - por coerência comigo mesmo, inclusive - o professor como humano.

Se estou cansado, não vou à aula. Minha distração o desrespeita. Se não concordo com o professor ou o considero negligente, não o exponho. Uso meu limite de faltas. Prefiro não entregar um trabalho ou fazer uma prova sem me preparar. Não o ofenderei com bobagens. Se houver outra oportunidade, ótimo. Caso contrário, paciência. Sei o que são pilhas de papéis para ler.

Meu vício é o conhecimento. Leio, vejo e ouço. Dispenso a paranoia das notas, a obsessão pela chamada. Acredito na liberdade de escolha.

Minha mãe me dizia que nunca me via estudando. Nunca me via diante de uma mesa a decorar, a injetar nomes, datas e informações no cérebro. Entulhos a serem esquecidos assim que uma avaliação descansa na mesa do professor. E facilmente localizáveis pelo Tio Google.

Minha mãe se enganou. Estudo o tempo todo. Aprendo com fome e sede. Fome de livros. Sede em conversar com pessoas. Ouvir, assistir, absorver e, como farol, entender!

A escola, para o professor e o aluno que moram em mim, não fica nos prédios. Está, o tempo todo, nas pessoas que ressuscitam todos os dias o concreto, as vigas de ferro e, eventualmente, o giz que risca uma lousa. Ou o clique do mouse que sacode um projetor em tela branca.

Sem as vidas humanas, a escola é só um prédio escuro na paisagem que poucos, de fato, admiram.

Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 15 de outubro de 2016.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Os linchadores e os otários



Marcus Vinicius Batista

Os linchadores nunca sabem o que fazem. Eles procuram por violência quando acreditam estar a serviço da justiça. Não conseguem sequer ser justiceiros, já que erram na escolha das vítimas. Podem acertar um dos réus, mas jamais alcançam seu cúmplices.

Os linchadores costumam ser cegos. Espancam quem está por perto, nas redondezas, sem enxergar quem passeia com liberdade embaixo de seus narizes, mesmo que esteja fedendo a esterco. Giram o taco para bater em quem estiver caído e não escutam que os criminosos assistem a tudo pelas suas costas.

Os linchadores gritam por vingança, mas desconhecem o inimigo que os prejudica antes, durante e depois da execução sumária. Vingam-se sem conhecer a natureza do mal que os diminui, que os transforma em carcereiros e carrascos e os fazem se sentir como juízes de toga e títulos na parede do gabinete.

Os linchadores são covardes travestidos de valentões. Pacatos e até palermas quando sozinhos, eles enchem o peito e pegam em armas quando juntos, quando massa de manobra de quem gritou: "Pega, mata e come!" Eles têm sangue nas mãos e desaparecem quando o corpo jaz no solo, disforme e sem nome.

Os linchadores são individualistas. Usam o outro, o do lado, o próximo para colocar para fora, via pancadaria e berros, o que nunca conseguiram fazer no cotidiano. Abaixam a cabeça nas filas, pagam o que é devido e o que é ordenado, cagam as regras que nunca pensaram em perguntar porque existem.

Os linchadores são pontuais. Execram, julgam e condenam num piscar de olhos, numa porção de cliques, na meia de dúzia de xingamentos. O contexto não lhes serve. Eles servem ao contexto. Não entendem a estrutura. Desprezam a análise e o pensamento. Amam a sessão de descarrego.

Os linchadores estão entre nós. Agora, eles vivem em silêncio. Ajudaram a criar um cadáver. Mentiram. "Vamos pegar o próximo. Ele tem muito a temer." O dono da fazenda Brasil maneja seu gado como quer. As panelas voltaram para os armários ou foram terceirizadas nos fogões.

O relógio começa a contagem regressiva para a velha volta, onde o pássaro, em vez de gritar cuco, pergunta: "quando eles vão perceber que foram enganados?"

Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 11 de outubro de 2016.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Kayo Amado - a voz da resistência


Marcus Vinicius Batista

Se Carina Vitral foi a candidata do amor e ódio nas eleições da Baixada Santista, Kayo Amado (Rede) foi a maior surpresa nas urnas. A eleição em São Vicente só não foi ao segundo turno por 800 votos. Amado conseguiu 48.641 votos, ou 28,1%. Isso representa, de saída, que três em cada dez eleitores não quiseram Pedro Gouvêa, antes dele começar a gestão. Descontentes com quem e o que o novo prefeito representa.

Kayo, aos 25 anos, personaliza o desejo de parte da cidade, que encontrou na candidatura dele voz para protestar contra o domínio do grupo político do vice-governador Márcio França.

Kayo vem de um partido pequeno, a Rede, que não decolou em termos nacionais. Vive de uma cacique - Marina Silva - e não aparece entre os dez maiores partidos, em número de prefeituras.

O candidato da Rede encaixou a estratégia de marketing. Imagem de juventude, discurso progressista, o novo na forma de se comunicar, via redes sociais. O "pulo do gato" se materializou na campanha na Internet e a decisão judicial para participação no debate da TV Tribuna. Todos ganharam visibilidade, inclusive a emissora.

Ele é a cara da renovação, numa cidade que opta por repetições. O atual prefeito, Luiz Cláudio Bili, não foi a mudança. Ele simbolizou o protesto contra os Franças. Tanto que, na noite da vitória, Bili reconheceu que a derrota de Caio França foi maior do que a própria vitória. Aliás, a diferença de letra inicial (K e C) do nome talvez reforce discursos distintos.

A questão agora é: o que Kayo Amado fará com 48 mil votos na bagagem? A eleição atual serviu de vitrine para 2018, quando ele poderá tentar ser deputado estadual. O cargo o afastaria da cidade, mas daria poder de fogo financeiro para interferir, de forma indireta, na gestão de Gouvêa.

A votação dele também pode funcionar como válvula de crescimento do partido, em São Vicente. Seria uma voz da oposição? Mas como fazê-la, já que a Câmara Municipal é - historicamente - um anexo do gabinete do prefeito, desde a chegada de Márcio França ao poder?

Até que ponto Kayo Amado resistirá, como fenômeno eleitoral? Quatro anos são muito tempo para o eleitorado. Para não parecer fogo de palha numa cidade de velhas tradições, Kayo tem que manter a Internet como amigo íntimo, enquanto pula os muros dela.

Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 8 de outubro de 2016.

domingo, 9 de outubro de 2016

O PT respira ... por aparelhos


Marcus Vinicius Batista

O desastre era previsível. O Partido dos Trabalhadores, estigmatizado como único responsável pela corrupção no país, tomou o maior tombo de sua história nas eleições municipais. Em São Paulo, por exemplo, o PT tinha 70 prefeituras. Ficou com oito.

A Baixada Santista, como qualquer região, tem particularidades políticas e eleitorais. Isso nos conduz a outro caminho de análise, sem se prender de forma exclusiva ao cenário nacional.

Na Baixada, o PT vem perdendo espaço há mais de uma década. A região é de natureza conservadora e, neste sentido, o PT nunca foi uma potência soberana, diferente do Grande ABC, onde o partido nasceu e cresceu e agora vê sua força posta em dúvida.

O Partidos do Trabalhadores só teve prefeito em São Vicente na década de 90, com Luiz Carlos Luca Pedro. Na Câmara, dois vereadores, Brito Coelho e Mara Valéria. Hoje, ninguém.

A única representante da sigla em Cubatão, uma cidade operária, foi Márcia Rosa, que entrega o segundo mandato no final do ano. Lá, ela indicou Fábio Inácio como sucessor, mas ele acabou em quinto e último lugar. A cidade terá dois vereadores, em 2017: Rafael Tucla e Jair do Bar.

O PT teve - e ainda tem - seu maior reduto em Santos. Dois prefeitos seguidos - Telma de Souza e David Capistrano - no século passado ainda geram resposta de parte do eleitorado. No município, restaram cerca de 3 mil filiados, um terço do PSDB, que reelegeu Paulo Alexandre Barbosa.

O PT oscila na maior cidade da região, pois deixou de ser uma legenda de retórica ideológica e caiu na vala comum do personalismo. Isso ficou claro com o desaparecimento da estrela, da sigla do partido e a troca do vermelho pelo rosa. Uma estratégia de marketing incapaz de enganar o eleitor e que soou como vergonha do passado recente.

O PT não teve candidato a prefeito pela primeira vez. Ajudou a construir Carina Vitral, do PC do B, e ficou com o vice. Acabou no pacote suicida da oposição. Terminou em segundo, mas com pouco mais de 6% dos votos, pior desempenho da história na disputa pela Prefeitura.

A compensação foi a volta à Câmara Municipal. Parte da gestão atual não teve representantes petistas, com as saídas de Evaldo Stanislau e Adilson Júnior para outros partidos. O PT voltará ao Castelinho com Telma de Souza - com 40% da votação de oito anos atrás - mais Chico do PT, com origem no setor portuário.

O Poder Legislativo terá vereadores do PT também em Praia Grande e Guarujá. Em Praia Grande, Janaina Ballaris conseguiu a reeleição. No Guarujá, Edilson Dias. O partido não terá parlamentares nas outras cinco cidades da região (Bertioga, Itanhaém, Peruíbe, Mongaguá e São Vicente).

O PT, de maneira involuntária, retorna à origem de representação parlamentar e de oposição. As perguntas: será que o PT ainda tem fôlego para dar conta deste trabalho? Até que ponto a surra nacional impedirá o partido de se recuperar? Será preciso mudar de nome para que as lideranças atuais sobrevivam em termos políticos?

Na Baixada Santista, o partido pagou pela soberba. Não formou novos quadros, exceto um ou outro nome que navega sozinho. As lideranças foram para as sombras, parte delas nos gabinetes de Brasília nos últimos anos, parte aposentada pelas urnas.

O PT perdeu, inclusive, espaço como liderança da esquerda, embora tenha flertado e namorado com o centro muitas vezes desde que assumiu a Presidência. Não me refiro aos acordos políticos para governar, mas a política econômica, a relação com o meio ambiente, entre outros pontos.

As eleições municipais abriram espaço para o PSOL, frágil na Baixada Santista, mas com surpresas em diversas cidades brasileiras, a maior delas o segundo turno, no Rio de Janeiro.

O PT, pela história que construiu antes do estigma (e da prática) da corrupção, precisa definir qual rota seguir. Se mantiver a empáfia daquele que um dia foi, só restará a transformação em legenda nanica. Na região, chegou bem perto desta fronteira.

sábado, 8 de outubro de 2016

Política é coisa de homem


Marcus Vinicius Batista

As eleições costumam provocar uma série de fantasias. Fórmulas que nada representam além de especulações. O eleitor como vítima, e não cúmplice, por exemplo.

Outra das ilusões é a crença de que mulheres votam em candidatas. Gênero nunca significou critério de escolha de voto, exceto para uma minoria militante e voltada aos partidos à esquerda.

Nas últimas eleições, sete das nove cidades da Baixada Santista escolheram prefeitos do PSDB. As Câmaras também optaram por partidos de postura conservadora, o que resultou na confirmação do predomínio masculino no cenário político local.

Por ironia, a cidade de São Vicente terá uma vice-prefeita: Prof. Lurdinha. No entanto, haverá uma queda importante no número de mulheres que comandam o Poder Executivo. Somente Praia Grande, Santos e Guarujá registraram candidatas a prefeito.

Guarujá tem chances de manter uma mulher como governante. Depende se Haifa Madi repetirá a vitória do primeiro turno contra Valter Suman e, assim, se tornar sucessora de Maria Antonieta de Brito. Os adversários, porém, alegam que Haifa concorre pela impossibilidade da candidatura do marido, o ex-prefeito Farid Madi.

Em Cubatão, Márcia Rosa deixa o governo depois de oito anos. O sucessor será Ademário, do PSDB. O próprio PT indicou um homem, Fábio Inácio, para sucedê-la. Inácio terminou em quinto e último lugar.

Peruíbe mudou 180 graus. Em 2012, três candidatos a prefeito. Todas mulheres, com vitória de Ana Preto. Ela dispensou a reeleição. A disputa teve oito candidatos, todos homens. Uma das candidatas em 2012, a ex-prefeita Milena Bargieri, concorreu à vereadora e foi a mais votada.

A ausência feminina se reflete nas Câmaras municipais. Em 2012, seis cidades não elegeram vereadoras. Na eleição deste ano, a situação melhorou um pouco. Quatro seguem sem mulheres no parlamento municipal.

Na prática, é somente uma brincadeira com números. A mentalidade segue intacta, cristalizada. As nove cidades terão 135 vereadores. Sete são mulheres, menos de 5% do total. A Câmara dos Deputados, em Brasília, tem 9% de participação feminina.

Bertioga reelegeu Valéria Bento, mas Beth Consolo ficou de fora. Praia Grande reelegeu Janaína Ballaris e Tati Toschi. Em Guarujá, Andressa Sales será a única representante na Câmara. Em Peruíbe, Milena Bargieri ocupará a vaga que era da Dra. Laila.

A cidade de Santos terá duas vereadoras: Audrey Kleys - bancada de apoio ao governo - e a ex-prefeita Telma de Souza, na oposição. A atual gestão não tem mulheres, a primeira vez desde a redemocratização do país, na década de 80.

Cubatão, São Vicente, Mongaguá e Itanhaém terão bancadas totalmente masculinas, a partir de janeiro. Estes municípios repetem a atual legislatura.

O cenário acima é previsível. O problema não reside nos resultados, mas na concepção de política e na estrutura interna dos partidos. O PSDB, maior vencedor deste ano na região, sempre teve homens no comando. Raras foram as mulheres com visibilidade.

A presença feminina é, historicamente, uma característica dos partidos de esquerda. Em Santos, com as exceções de Sandra Arantes - a filha do Pelé, já falecida - e da suplente Fernanda Vanucci, todas as mulheres com cadeira na Câmara tiveram passagem pelo Partido dos Trabalhadores. Em São Vicente, Mara Valéria foi por anos a única mulher no Poder Legislativo e era filiada ao PT.

As duas candidatas a prefeita de Santos, Carina Vitral e Débora Camilo, são de partidos de esquerda. PC do B e PSOL, respectivamente. Em eleições passadas, Telma de Souza foi a única candidata.

O ponto fora da curva aconteceu em 2008, quando Maria Lúcia Prandi (PT), Mariângela Duarte (PSB, na ocasião) e Eneida Khouri (PSOL) constituíram maioria feminina entre as candidaturas. Coincidência ou não, o vencedor foi João Paulo Tavares Papa (então PMDB), na maior votação proporcional, cerca de 77%, até hoje.

A política, triste dizer, continua como um universo masculino. Duvida? Ainda que as mulheres representem maioria do eleitorado no país e na Baixada Santista (em Santos, elas são 54%), os governos criam secretarias, ministérios ou departamentos voltados para a mulher, no pacote de atendimento às minorias.

No Brasil, ter uma mulher na presidência nunca foi tendência. Foi uma circunstância.

Obs.: Texto publicado no site Juicy Santos, em 6 de outubro de 2016.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O mundo, segundo os vicentinos



Marcus Vinicius Batista

O escritor Júlio Verne profetizou, na ficção, que a volta ao mundo dura 80 dias. Na vida real, o russo Fedor Konyoukhov fez o trajeto em 11 dias, num balão de ar quente. Já o britânico Kevin Carr precisou de 621 dias - quase dois anos - para correr 26 mil quilômetros em torno da Terra.

Numa eleição, a volta ao mundo costuma durar quatro anos. Em São Vicente, o vice-governador Márcio França aprendeu a ser paciente e levou este tempo para retomar, em absoluto, o controle da cidade. A vingança foi completa porque ele conseguiu, no roteiro de viagem, enterrar politicamente seus dois maiores adversários no mundo calunga.

O primeiro foi o atual prefeito Luiz Cláudio Bili, com o pior índice de popularidade da história. Os 94% de reprovação simbolizaram a desistência dele em se reeleger.

O segundo foi Luciano Batista, também ex-aliado de França, que não conseguiu a reeleição para deputado estadual há dois anos e que amargou a quarta posição na corrida para prefeito, no último domingo.

Márcio França teve que engolir a pior derrota da carreira política, em 2012. Os apressados o deram como morto na cidade que governou por oito anos e fez o sucessor por mais oito. A derrota de virada de Caio França para Bili provocou um silêncio de seis meses em pai e filho.

Depois do luto, nasceu a estratégia. França se aproximou de Eduardo Campos e se tornou liderança nacional no PSB. Os laços estreitos se solidificaram com Geraldo Alckmin. A morte acidental de Campos aumentou a luz sobre França, que comanda o partido no Estado e se tornou vice-governador de São Paulo.

Em paralelo, o filho Caio ganhou a eleição para deputado estadual. Era a sequência de golpes que balançaram Bili no ringue. A gestão desastrosa dele amaciou o terreno para que França reassumisse o controle. As feridas estavam curadas, enquanto São Vicente sangrava na saúde, na coleta de lixo, nos salários atrasados, nas creches sem comida.

O nocaute que colocou os adversários em coma aconteceu no domingo, 2 de outubro. Um novato chamado Kayo Amado ameaçou levar a eleição para o segundo turno. Ameaçou!

O último capítulo foi a vitória de Pedro Gouvêa, o cunhado do Márcio França que - oficialmente - governará São Vicente a partir de 2 de janeiro, com a concordância de 87.365 súditos.

O mundo deu voltas no reino de São Vicente.

Obs.: Texto publicado no jornal Diário do Litoral, em 5 de outubro de 2016.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

O trator PSDB


O maior vencedor da eleição

Marcus Vinicius Batista

O PSDB venceu de goleada a eleição na Baixada Santista. O partido elegeu sete dos nove prefeitos. Em São Vicente, terá a vice-prefeita (Prof.Lurdinha). O prefeito eleito, Pedro Gouvêa, é do PMDB, mas também é cunhado do vice-governador Márcio França. Tudo em casa.

Dos sete tucanos, quatro prefeitos foram reeleitos. Três deles (Paulo Alexandre Barbosa, em Santos; Alberto Mourão, em Praia Grande; e Marco Aurélio, em Itanhaém) ganharam com mais de 75% dos votos válidos. Em Santos e Praia Grande, poderia haver segundo turno.

Artur Parada Prócida, de Mongaguá, não alcançou maioria simples. Ganhou com 38, 41%.

Entre os novatos, o grande vencedor foi Caio Matheus, em Bertioga. Ele havia perdido para o atual prefeito Mauro Orlandini, em 2012. Este ano, derrotou o candidato indicado por Orlandini, numa coligação de 11 partidos. Caio Matheus venceu com 63,4% dos votos válidos.

Em Cubatão, Ademário teve mais 41% dos votos, mais do que o dobro que Wagner Moura, do PMDB. Uma curiosidade: Fabio Inácio, candidato da prefeita Márcia Rosa, do PT, ficou em quinto e último, com apenas 5% dos votos. Um fracasso da máquina.

O PSDB só passou aperto em Peruíbe. Lá, Luiz Maurício vai governar com minoria de votos (28%). Ele venceu Emer, do PSDC, por 0,8%. Em números absolutos, 205 votos de diferença.

A única derrota, em termos, aconteceu no Guarujá. Gilberto Benzi ficou em terceiro e não vai disputar o segundo turno. Por outro lado, um dos concorrentes, Valter Suman, é do PSB, partido do vice-governador do Estado, Márcio França. O problema é que Suman precisa desintegrar uma diferença de 30 mil votos para Haifa Madi (PPS), em quatro semanas.

A Baixada Santista dominada pelos tucanos, em tese, abriria as portas e os cofres do governador Geraldo Alckmin. O arquiteto da vitória de João Dória na capital se credencia à disputa para a Presidência da República, em 2018. A combinação destes fatores talvez renda mais recursos para as cidades, principalmente aquelas que tem hoje governos nada alinhados com o PSDB.

Neste sentido, São Vicente e Cubatão gritam por dinheiro e devem ter as preces atendidas. A primeira se viu diante de uma disputa pessoal entre Márcio França e o prefeito Luiz Cláudio Bili por quatro anos. França se vingou por completo da derrota de seu filho Caio, em 2012. Não seria surpreendente o cunhado Pedro Gouvêa assumir a cidade em janeiro de 2017 e receber, de Natal um pouco atrasado, recursos para obras e projetos emergenciais.

Cubatão enfrenta a crise econômica com a perda de empregos no setor industrial. Além disso, o governo PT de Márcia Rosa viveu a bonança de Lula e Dilma e agora amarga os olhos fechados com os novos rumos políticos. Um prefeito novato do PSDB talvez receba o empurrão necessário para caminhar mais rápido do que a antecessora.

Outro aspecto seria a metropolização da Baixada Santista, que poderia ser implantada de fato, ultrapassando a paralisia das comissões, dos projetos sempre projetos, do revezamento de prefeitos, dos cafés e das reuniões. Prefeitos do mesmo partido não significam interesses comuns. O PSDB teve o comando e maioria no Conselho e nada avançou.

Em 20 anos, ficou claro que os prefeitos optam por seus umbigos e seus quintais. Autopreservação política, em primeiro lugar. Pensar a região de forma coletiva representa abrir mão de certas posturas, assumir problemas que pertencem ao vizinho e navegar em intersecções políticas.

A metropolização talvez fique em clima mais ameno, mas amigos e negócios não se misturam. Até porque partidos grandes se constituem por facções por vezes conflitantes.

O controle do PSDB na Baixada Santista é histórico. Nunca se viu cenário semelhante na região. O pensamento único pode facilitar a concordância, mas mata o contraponto, elimina a voz dissonante que aponta as falhas e aquece o debate público. A tendência é a acomodação, a ação entre amigos, o relaxamento.

Como as nove cidades funcionam movidas pelas próprias particularidades, ainda que a vida urbana de parte da população seja metropolitana, é provável que assistamos à forma tucana de governar em intensidades múltiplas.

Que cada prefeito e seus moradores rezem para os santos que lhe agradem. Com a benção de Geraldo Alckmin, o maior vencedor da eleição na Baixada Santista.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Câmara de Santos: a paz reina no castelo

Câmara de Santos - o Castelinho. Foto: Diário do Litoral

Marcus Vinicius Batista

O castelinho, onde fica a Câmara Municipal de Santos, permanecerá como um reino de conto de fadas. Houve mudanças nos personagens, mas a direção da história continuará a mesma. Nove vereadores foram trocados para a próxima legislatura, muitos assumirão em primeiro mandato.

O prefeito Paulo Alexandre Barbosa manterá a base de apoio intacta. 19 dos 21 vereadores eleitos pertencem a partidos que apoiam o Poder Executivo.

A oposição será composta pelos dois vereadores do PT, Telma de Souza e Chico, do Settaport. Chico, ao contrário dos candidatos do Partido dos Trabalhadores, não só usou a sigla na campanha como manteve o nome no próprio registro eleitoral (Chico do PT). Um ato de coragem na maior crise da história do partido.

O PSDB continuará como maior bancada, com oito parlamentares. Hoje, tem dez vereadores, mas começou a gestão com meia dúzia. A tendência é crescer ao longo dos próximos quatro anos.

A maior novidade é o PR, liderado por Odair Gonzalez, atual presidente da Prodesan e ex-vereador. O PR chegou a chorar a vaga de vice-prefeito durante a pré-campanha e tem dois vereadores. Um deles, Sérgio Santana, se reelegeu. Murilo Barletta, não. Portanto, dois dos novatos são do partido.

A grande surpresa foi a votação de Kenny Mendes (PSDB), com mais de 24 mil votos, recorde histórico. Entre os nomes novos, as principais respostas nas urnas foram Fabiano da Farmácia (PR), com 4.481 votos, e Audrey Kleys (PP), com 4.375.

Audrey, aliás, era jornalista da TV Tribuna há quatro anos, quando foi trabalhar na equipe de campanha do então candidato Paulo Alexandre Barbosa. Depois da eleição, entrou na Secretaria de Educação, onde foi vítima de preconceito por conta de sua formação acadêmica. Tornou-se secretária-adjunta da pasta. Imagino como muitas supervisoras e diretoras devem se sentir com o resultado eleitoral.

Rui de Rosis (PMDB) foi o quinto mais votado, com 4.378, herança eleitoral do irmão Marcus, morto durante esta gestão quando era presidente da Câmara.

Os demais novatos são: Bruno Orlandi (PSDB), Lincoln Reis (PR), Fabrício do DVD (PSB) e Augusto Duarte (PSDB). Os três primeiros bateram na trave, em 2012, aumentaram suas votações e passaram no vestibular. O nono nome é de Telma de Souza, que retorna à Câmara depois de oito anos.

Entre os vereadores que deixarão o cargo no final do ano, quatro eram previsíveis: José Lascane (PSDB), que não concorreu; Sandoval Soares (PSDB), que será vice-prefeito de Paulo Alexandre; Evaldo Stanislau (Rede), que saiu como vice na chapa de Paulo Schiff; e Marcelo Del Bosco (PPS), que ficou em quarto na disputa para prefeito.

Outros cinco tentaram a reeleição para vereador e perderam ou vão amargar a suplência. São eles: Murilo Barletta (PR), Professor Igor (PSB), Douglas Gonçalves (DEM), Geonísio Pereira Aguiar, o Boquinha (PSDB) e Jorge Vieira, o Carabina (PSDB).

Com exceção de Douglas, todos os demais estão em partidos da coligação vencedora. Os derrotados serão contemplados com cargos no governo ou voltarão às antigas atividades profissionais?

A próxima composição da Câmara, em termos políticos, será mais do mesmo. O prefeito não correrá riscos e sabia disso quando construiu a estratégia que resultou numa coligação de 16 partidos.

O Poder Legislativo, é provável, manterá sua postura de subserviência, salvo os gritos dos petistas ou demandas específicas de um ou outro parlamentar. O castelinho seguirá em harmonia, com finais felizes para o governo atual.

Só tenho curiosidade sobre qual será a moral da história, em 2020.