sexta-feira, 14 de novembro de 2014

PT saudações


Símbolo de passado distante; imagem do século XX

Mais do que a derrota de Dilma Rousseff na Baixada Santista, o resultado das eleições presidenciais e legislativas apontou a necessidade do PT fechar para balanço. De maneira séria e definitiva, e não com movimentos teatrais e discursos, como aconteceu em 2010 e em 2012.

Na eleição para presidente, Dilma venceu apenas em Cubatão, cidade governada pelo Partido dos Trabalhadores há quase seis anos. Em 2010, a candidata do PT venceu em três municípios: Guarujá, São Vicente, além da própria Cubatão.

O desastre foi maior no Poder Legislativo. Pela primeira vez, neste século, o PT não terá representantes da região na Assembleia e na Câmara dos Deputados. Telma de Souza não se reelegeu. Maria Lúcia Prandi, que assumiu o mandato como suplente no ano passado, também fracassou.

A crise não é nova nem recente. Os avisos foram dados na década passada, mas a vaidade partidária impediu a renovação dos quadros, a construção de novas lideranças. A perda de espaço eleitoral aconteceu gradativamente, com redução da porcentagem de votos em diversas cidades.

Há 22 anos, o PT detinha as duas maiores Prefeituras do litoral. Em São Vicente, a era França transformou o partido de personagem principal da oposição a coadjuvante de aliança. Hoje, é uma das siglas em torno do prefeito Luiz Cláudio Bili.

Santos, por sua vez, gritou em alto e bom som. Não se trata somente da vitória de Aécio Neves, com 69% dos votos válidos. Os dois últimos prefeitos, João Paulo Tavares Papa e Paulo Alexandre Barbosa, venceram no primeiro turno. O PT, com candidato próprio, ficou em segundo.

Papa, em 2008, conseguiu mais de 70% dos votos válidos. E lembrar que, quatro anos antes, ele venceu Telma por 1771 votos, na disputa mais apertada da história da cidade.

Proporcionalmente, o PT diminuiu de tamanho conforme aconteceu o crescimento do PSDB e de outras siglas mais conservadoras. O PSDB é, hoje, o partido que controla o maior número de cidades – Praia Grande, Itanhaém e Santos. Na Câmara de Santos, os tucanos possuem 30% das cadeiras, fora os partidos coligados.

O Partido dos Trabalhadores não dá sinais de reação imediata. Os velhos caciques falam em mudança, assim como o fizeram nas eleições internas em 2013, mas não se movem de forma efetiva. E parte dos filiados, cúmplices, preferiu assim.

Em Santos e São Vicente, que foram os principais redutos petistas no século passado, as perspectivas de um candidato que enfrente a situação parecem miragem na desertificação eleitoral. Em Cubatão, Márcia Rosa não poderá concorrer e, no momento, não existe consenso sobre o candidato à sucessão dela.

A derrota de Dilma Rousseff e a ausência de parlamentares a partir de 2015 são a ponta da corda. Nas próximas eleições, se não houver mudança de rumo, o PT pode deixar o clube dos grandes e se sentar ao lado de muitos nanicos, que sobrevivem das migalhas do poder alheio.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A falsa divisão



Fonte: Revista Fórum

O resultado das eleições presidenciais provocou uma série de leituras estranhas, que não sobrevivem ao olhar frio dos números das urnas eletrônicas. As interpretações sugerem, acima de tudo, a procura por estatísticas que alimentem o preconceito, talvez a maior lembrança de uma campanha tão suja quanto equilibrada.

O primeiro equívoco trata de um país dividido. A tese inicial dava conta de que Dilma Rousseff representaria as regiões Norte e Nordeste. Aécio Neves, por consequência, seria o presidente escolhido pelas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Dilma venceu em 15 Estados. Aécio, em 12. A divisão não é geográfica. Dilma, por exemplo, venceu em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, o que derruba o argumento de que o Sudeste era tucano. São Paulo, por mais que seja quintal do PSDB há mais de 30 anos (se somarmos os primórdios da legenda, dentro do PMDB), não é o Brasil, muito menos decisivo para selar uma eleição, como muitos pregaram durante a campanha.

Por outro lado, a candidata do PT perdeu no Acre, onde o governador Tião Viana, do mesmo partido, se reelegeu. Dilma perdeu também em Rondônia e Roraima. No Centro-Oeste, Aécio perdeu em Tocantins.

Apostar em um país dividido por geografia é arranhar a superfície e desconsiderar os regionalismos na política. Por que nos assustamos com as alianças estaduais bizarras e não esperamos resultados condizentes nas urnas?

Se tivermos que desconfiar de uma divisão, mesmo assim torta, que se creia – duvidando sempre - que o país está rachado no aspecto socioeconômico. Ou seja: PT seria o partido dos pobres. PSDB, o dos ricos. Nos 12 Estados onde o tucano venceu, Dilma teve, no mínimo, 35% dos votos. Em sete deles, mais de 40%. Na verdade, está mais com cheiro de leitura atravessada de classe média.

Compreender a tendência de votos não é, de longe, acreditar no erro da generalização. E também não levar em conta a minoria barulhenta como o todo. Corrida aos aeroportos, metamorfose cubana, comunismo, nada mais antigo quanto o século XX, mais perto da Segunda Guerra Mundial do que do mundo contemporâneo.

No governo Lula, deu-se o paradoxo. Enquanto os bancos lucraram como nunca, as camadas mais pobres tiveram acesso aos bens materiais domésticos. Ambos os extremos foram beneficiados pela política econômica baseado no crédito e consumo, marca do mundo globalizado. Na ocasião, ninguém ameaçou comprar passagem só de ida para o exterior.

A eleição deste ano apenas reacendeu uma característica sempre presente, desde a formação deste território. O preconceito social é inerente a todos os outros tipos de violência discriminatória. Como qualquer preconceito, é baseado em desinformação e insegurança. Um comportamento regado à ameaça de quebra de privilégios e manifestado como o individualismo mais virulento.

Discutir políticas públicas é apenas um detalhe. Fazer política, para essa gente, é o exercício cotidiano do moralismo e da hipocrisia.

Em tempo: o pedido de auditoria sobre a apuração dos votos soa como choro de mau perdedor. O PSDB acompanhou a eleição de perto e sempre foi defensor do sistema eleitoral brasileiro, inclusive porque também se beneficiou das regras atuais e nunca se esforçou pela reforma política, por exemplo.

Comprar as teorias conspiratórias que nascem nas redes sociais ou na pena dos escribas destemperados parece berreiro infantil. Na prática, será perda de tempo de quem poderia se preocupar mais em estruturar uma oposição construtiva e presente.