quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O homem de 8 mil necropsias


Gabriela Nakashima e Mariana Carvalho*

O auxiliar de necropsia policial do Instituto Médico Legal de Santos, Almir Mestre, está na função há 27 anos. Tem um caderno aonde anota o nome de cada vítima que passou por ele. "Desde o inicio, eu escrevo o nome e marco todos que fiz necropsia. Até hoje, eu devo ter feito cerca de 8 mil, entre Guarujá, Praia Grande e Santos”.

Ele ainda se choca com alguns casos, mesmo depois de muito tempo de trabalho. "Por exemplo, os de mortes por acidente de trânsito ou aqueles em que as pessoas saem de casa para trabalhar e antes de chegar nela ou no trabalho elas acabam morrendo lamentavelmente".

Para Almir, a pior situação é receber o corpo de uma criança. "No início da minha carreira de necropsia, mexia muito comigo, e pensava que poderia ser meu filho, meus sobrinhos ou até mesmo alguma criança conhecida".

Preconceito - A profissão é, eventualmente, envolvida em preconceito, como acontece com outras atividades ligadas à morte. Para Almir, a saída é desabafar sempre com a esposa, família e amigos.

O auxiliar de necropsia policial não conta com apoio psicológico no cotidiano profissional. Por outro lado, ele entende que é parte da função sempre conversar com os familiares das vítimas que chegam ao IML. "Sempre procuro conversar com a família dos corpos que vou fazer a necropsia, saber o que houve. Assim, o exame que irei fazer fica mais claro para mim e para o legista."

Escolhido por Deus - No início da carreira, ele não ficava sozinho com os cadáveres. "Eu achava que eles iam levantar coisas assim. Levei alguns meses, o tempo foi passando e eu acabei me acostumando. Hoje fico de noite, de dia, não sinto mais medo."

Trabalhar com a morte, para Almir Mestre, é um sacerdócio. “Acho que as pessoas que trabalham nesse ramo de atividade são escolhidas por Deus."

* Esta reportagem faz parte do projeto “Os Indesejados”, produzido por estudantes de Jornalismo da Universidade Católica de Santos (UNISANTOS)

3 comentários:

  1. Ótimo personagem, a série é muito interessante. Mas fiquei com vontade de saber mais coisas sobre ele: o que pensa quando corta alguém, se acredita em vida depois da morte, se já abriu algum conhecido, etc...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. J. R. Torero, também ficamos com vontade de saber mais, é um ótimo tema!! Quem sabe vira um TCC! Obrigada por seu comentário!

      Excluir
  2. Gostei,mais faltou mais argumento,deixou a desejar.Mas me ajudou pois estou a procura de documentario sobre necropsia e me senti aliviada em saber que não sou a unica a sentir medo.Quero isso pra mim e sei que vou dar o meu melhor...

    ResponderExcluir