segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Entre a rua e a enchente, os rostos dos cortiços

Gabriela Paniago e Isadora Moraes*

A mãe é sergipana e o pai é português. Ela nasceu no Morro da Nova Cintra, em Santos, e hoje cria dois filhos junto com o marido, que veio de São Paulo. Adriana Jesus Pereira tem 30 anos, foi mãe pela primeira vez aos 17. A filha de 13 anos mora com os avós.

O marido Leandro Gonçalves da Silva é pai desde os 14 anos, hoje trabalha na reciclagem e também é pedreiro, além de consertar calhas e telhados. Aparentemente, a carroça dá mais lucro, sendo que Leandro consegue ganhar até R$ 200 em dois dias, em situações excepcionais.

Adriana parou de usar drogas há 3 anos. Consumia maconha e crack. O marido ficou preso por três meses. Neste período, a esposa teve que pedir dinheiro na rua.

No tempo que estão juntos, mudaram de casa duas vezes. Hoje, moram em um cortiço no Centro da cidade. O Conselho Tutelar já tirou as duas crianças deles, quando moravam em um local com muitos usuários de drogas. Hoje, eles são orientados por assistentes sociais e pagam R$ 280 por mês no quarto. Recebem R$ 164 do Bolsa Família.

Enchente e migrações

A rua São Francisco está loteada por cortiços. Silvia Maria de Oliveira mora ali há 3 meses. Morava em Cubatão, no bairro Água Fria, e por causa da enchente teve que se mudar. Ela mora com o filho que trabalha como entregador de água, a nora e três netos, entre três e nove anos. Todos os adultos dividem o aluguel, exceto Daiana, a nora, pois o quarto pertence à irmã dela.


Mofo e umidade são sinônimos de cortiços
Rosevaldo dos Santos também mora há três meses nesse conjunto e há dez anos veio de Maceió. Trabalha como eletricista em uma firma e paga R$ 300 por mês no aluguel. Ele diz que tem uma boa convivência com todo mundo e que conhece muita gente dali. “Tudo tem o tempo certo”, disse Rosevaldo, que – antes do cortiço – morou sozinho. Ele já foi casado por cinco anos e tem uma filha de 12 anos de idade.



Maria Tereza Vicente veio de Recife há 34 anos. Ela conta que já chegou a morar na rua. Quando perguntada se gostaria de morar nas novas habitações (leia reportagem sobre o projeto de conjunto habitacional), ela diz que “já não tenho mais paciência pra reunião. Já corri muito atrás”. O sonho é sair um dia do cortiço e buscar um lugar melhor pra morar.


Obs.: Esta é a sétima reportagem da série "Os Indesejados", projeto conduzido por estudantes de Jornalismo da Universidade Católica de Santos (Unisantos). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário