quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

30 mil famílias esperam na fila no Brasil (As faces da adoção - Parte II)




Danilo Nogueira e Leonardo Buzo*

A assistente comercial da TV Tribuna, Debora Tirolli, é uma exceção no Brasil. Ela não sofreu problemas na hora de adotar uma criança. Desde o momento em que resolveu entrar para a fila da adoção, Debora não fez nenhuma exigência de raça e sexo. Hoje, é mãe de Camila, de 10 anos, e Bernardo, de quatro.

A adoção de crianças ainda é uma trilha jurídica tortuosa e lenta, por vezes por conta das escolhas dos pais. Em Santos, no litoral de São Paulo, 75 casais esperam na fila. Eles constam no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), instrumento que vira acelerar o processo por meio do mapeamento de informações unificadas. O cadastro foi criado em 2008.

Segundo a Vara da Infância e da Juventude de Santos, o número é pequeno, se comparado com o país, que possui 29.440 pretendentes cadastrados. Por que este processo se torna tão demorado?

A resposta é simples. A maioria das pessoas que estão cadastradas nesta fila fazem algumas exigências na hora de escolher o novo filho. As mais comuns são crianças recém-nascidas, do sexo feminino e de cor branca.

Conforme os dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), hoje no Brasil, 5.426 adolescentes e crianças estão prontos para serem adotados. Desse total, 1.777 são da cor branca (32,75%), 2.575 pardos (47,46%), 1.024 negros (18,87%), 23 de pele amarela (0,42%) e 35 indígenas (0,65%).

Mas crianças que não são recém-nascidas, ou possuem uma cor de pele diferente da branca, também recebem a sua chance de ganhar uma nova família. (Leia a primeira matéria sobre o assunto) Quem deixa as exigências de lado fica pouco tempo na fila.




Visitas quebram exigências

O sonho da assistente comercial Debora Tirolli, de 37 anos, era ter um filho biológico e um adotivo, porém o sangue dela e o do marido não são compatíveis. Com isso, ela não conseguiu engravidar. Debora não pensou duas vezes e foi direto para a fila de adoção.

Quando entrou no processo, traçou o perfil da criança, que seria de 0 a 3 anos, ambos os sexos e qualquer raça. Depois disso, começaram a frequentar a Casa Vó Benedita, onde a idade das crianças é de 0 a 16 anos, para conhecer um pouco mais das crianças mais velhas que viviam nessa situação.

Lá, eles conheceram a Camila, de 10 anos, que estava no local desde os seis. Logo no momento em que o casal conheceu a garota, resolveu adotá-la, e a criança também aceitou ser adotada. A adaptação foi rápida, logo no primeiro dia Camila chamava Débora de mãe.

Há três anos e meio, Debora recebeu uma ligação do Fórum, dizendo que ela era a primeira da fila de adoção e se tinha interesse em um menino de 20 dias. Ela aceitou, e hoje o Bernardo tem quatro anos.

Irmãos de sangue

Outro caso muito comum durante este processo é a separação de irmãos de sangue que foram abandonados dentro de um orfanato pelos pais biológicos. Isso pode se tornar um problema para a adaptação da criança, quando ela estiver no novo lar, já que um laço de afeto foi cortado. A chance de se manter a relação de irmandade de sangue para a vida toda pode ser reduzida.

Obs.: Este é o quinto texto da série "Os Indesejados", produzida por estudantes de Jornalismo da Universidade Católica de Santos (UNISANTOS)

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