quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Da pílula azul à estética: o aumento da Aids em idosos




Thaís Garcia e Thaís Ursini*


“Era como se fosse assinar uma sentença de morte. Todos tinham consciência que não sobreviveriam por muito tempo. Sempre acreditei que eu venceria, nunca imaginei que iria falecer naquela época. Hoje, para mim, é super comum, encaro como uma informação médica fundamental. Se teve um resultado positivo para mim, quero passar para os outros. Hoje é um assunto que não é mais tabu. Eu era muito fechado, tinha problemas psicológicos de aceitação, mas por causa da doença me tornei mais aberto”. Essas são palavras de Rubens Barbosa Reche, portador do vírus HIV, de 61 anos.

Nascido em 1952, solícito, bem humorado, otimista, contador aposentado, solteiro, Rubens é soropositivo há 22 anos. Em 1992, a doença era um estigma muito grande criado pelas pessoas que, por ignorância, evitavam encostar e até chegar perto de pessoas infectadas.

Naquela época, ele estava se relacionando com um amigo e ambos não usaram preservativo. Por ser uma doença recente no Brasil, Rubens não acreditava que poderia acontecer com ele. Mas começou a suspeitar quando apareceu herpes zóster em seu peito e suas costas, um dos sintomas mais comuns da AIDS.

Quando descobriu que foi infectado pelo vírus, sentiu medo e ao mesmo tempo teve um choque, pois já tinha perdido amigos por causa da doença. Apesar disso, sempre teve fé que iria vencer. Para ele, a sobrevivência se deu devido à combinação do tratamento médico com o bom estado psicológico.

Após os primeiros casos de morte, Rubens passou por uma mudança comportamental. Ele decidiu pela abstinência sexual ao perceber que a doença era séria. Depois, aderiu às formas de proteção.

Rubens disse que sempre tratou da AIDS com métodos alternativos como o chá que tomava de “cipó milagroso”, junto ao coquetel de medicamentos retro virais.

"Cultura anti-camisinha"


O número de idosos contaminados pelo vírus cresceu entre 2000 e 2011. Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde de 2012, entre homens com 60 anos ou mais, a taxa de incidência (por 100 mil habitantes) de casos de AIDS, em relação a sexo e faixa etária por ano de diagnóstico, subiu de 6,8 para 10,4. 

Para o professor de anatomia e fisioterapeuta Elton de Freitas, o problema do vírus na população mais idosa ocorreu a partir da produção de medicamentos como o Viagra, que fez com que procurassem profissionais do sexo para se satisfazerem. “A cultura deles é de não usar preservativos. As doenças que existiam na época em que eram jovens eram 100% curáveis”.

Mestre em Saúde Coletiva, Elton realizou uma pesquisa, em 2011, sobre Síndrome Lipodistrófica em pacientes com HIV/AIDS com ou sem utilização de terapia antirretroviral. Ele analisou casos na cidade de São Vicente, no litoral de São Paulo.

Aliado aos novos medicamentos para desempenho sexual, outro fator é que os idosos acreditam que não vão se infectar depois de tanto tempo. “As pessoas acham que no fundo, no fundo, estão imunes na velhice”, afirmou Rubens Reche.

Santos é líder de casos

Entre as cidades da Baixada Santista, Santos é a primeira cidade com mais pessoas soropositivas, com maior incidência nos bairros da Aparecida, Boqueirão e Vila Nova. Esses três bairros apresentam mais pessoas infectadas devido ao uso de drogas. Em segundo lugar na região, está São Vicente.

Elton de Freitas afirma que a maioria dos pacientes de preocupa com a estética, com medo de serem percebidos. Essa preocupação social é um reflexo de termos uma sociedade ainda ignorante e que tem medo do contato com as pessoas portadoras do vírus. Geralmente, as pessoas se afastam, evitando encostar ou abraçar quem tem AIDS. No entanto, já foi comprovado que não há risco de contaminação apenas pelo contato.

* Este é o décimo-primeiro texto da série "Os Indesejados", produzida por estudantes de Jornalismo da Universidade Católica de Santos (Unisantos)



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