segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Enganando os velhos



Marcus Vinicius Batista


O ônibus 17 parou no primeiro ponto assim que entrou no canal 4. Duas senhoras tinham feito o sinal. Como havia um carro estacionado em local proibido, o coletivo ficou uns dois metros afastado da calçada. A primeira senhora subiu com alguma dificuldade no ônibus.

A segunda mulher se segurou nas portas, fez força e não conseguiu. Fez força e não conseguiu novamente. Fez um pouco mais de força, balançou a cabeça em negativo, agradeceu e voltou para o ponto. Esperaria pelo próximo.

Bastou passar a eleição para que a vida se normalizasse com a velocidade de um ônibus atrasado para o ponto final. Os políticos só aparecem nas entrevistas, muitos desaparecem das ruas, alguns choram as pitangas nos currais, outros sorriem de orelha a orelha nos mesmos endereços.

Seguindo o caminho da normalidade, os vereadores de Santos - salvo exceções - mantiveram seus dedos rígidos para votar contra parcelas do eleitorado e dizer amém para a Prefeitura.

Na segunda-feira, dia 17, 15 vereadores votaram a favor do veto do prefeito Paulo Alexandre Barbosa para o projeto de lei que determinaria a adaptação de todos os ônibus da cidade. As exceções foram o autor do projeto, Antônio Carlos Banha Joaquim (PMDB), e Evaldo Stanislau (Rede). O presidente da Câmara, Manoel Constantino, só votaria se houvesse empate, mas ele se manifestou a favor do veto.

O projeto estabelecia a instalação de mais um degrau nos ônibus, o que reduziria a diferença para 20 centímetros do chão. A Prefeitura alega que o projeto é inconstitucional, pois afeta o contrato firmado com a Viação Piracicabana, única operadora do sistema de transporte municipal, nas linhas circulares. O projeto passou pela Comissão de Justiça da Câmara, que serve justamente para analisar a viabilidade jurídica dos projetos.

Além disso, a administração afirma que a adaptação nos ônibus causaria desequilíbrio financeiro à empresa, com possível reajuste da tarifa. Logo a Prefeitura, que aumentou suas dívidas nos últimos quatro anos. Os vereadores assinaram embaixo, na frente e do lado.

No ano passado, os parlamentares já tinham virado as costas para passageiros idosos. Na ocasião, eles vetaram a redução da gratuidade nos ônibus para pessoas com 60 anos. Hoje, vale para quem tem 65. O Estatuto do Idoso classifica como tal a pessoa que completa 60 anos.

Apenas para lembrar em quem você votou, veja os nomes de quem votou contra os passageiros idosos: Ademir Pestana, Carlos Teixeira Filho (Cacá), Geonísio Aguiar (Boquinha), Jorge Vieira da Silva Filho (Carabina); José Lascane, Kenny Mendes, Roberto Teixeira (Pastor Roberto), Sadao Nakai, Sandoval Soares – todos do PSDB.

Além deles, também aprovaram o veto os vereadores Adilson dos Santos Júnior (PTB); Benedito Furtado e Igor Martins de Melo (PSB), Hugo Duppre e Zequinha Teixeira (PSD) e Sérgio Santana (PR).

Cinco deles não estarão mais na Câmara a partir de 2 de janeiro. Só que os outros dez colegas ficarão até 2020. Nada como a volta à vida normal, inclusive para quem vota em plenário e não sabe - ou se esqueceu - o que é pegar ônibus.

Um comentário:

  1. A letargia e inércia das pessoas é o que assusta.
    Num pais que cobra 33% de imposto em medicamentos tudo é possível pois um povo que aceita ser explorado acintosamente até na hora da doença, pode aceitar tudo o que lhe é imposto.
    Existirá um dia o imposto por estar vivo ou estar morto pois o por estar sepultado já existe.

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