quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O mundo, segundo os vicentinos



Marcus Vinicius Batista

O escritor Júlio Verne profetizou, na ficção, que a volta ao mundo dura 80 dias. Na vida real, o russo Fedor Konyoukhov fez o trajeto em 11 dias, num balão de ar quente. Já o britânico Kevin Carr precisou de 621 dias - quase dois anos - para correr 26 mil quilômetros em torno da Terra.

Numa eleição, a volta ao mundo costuma durar quatro anos. Em São Vicente, o vice-governador Márcio França aprendeu a ser paciente e levou este tempo para retomar, em absoluto, o controle da cidade. A vingança foi completa porque ele conseguiu, no roteiro de viagem, enterrar politicamente seus dois maiores adversários no mundo calunga.

O primeiro foi o atual prefeito Luiz Cláudio Bili, com o pior índice de popularidade da história. Os 94% de reprovação simbolizaram a desistência dele em se reeleger.

O segundo foi Luciano Batista, também ex-aliado de França, que não conseguiu a reeleição para deputado estadual há dois anos e que amargou a quarta posição na corrida para prefeito, no último domingo.

Márcio França teve que engolir a pior derrota da carreira política, em 2012. Os apressados o deram como morto na cidade que governou por oito anos e fez o sucessor por mais oito. A derrota de virada de Caio França para Bili provocou um silêncio de seis meses em pai e filho.

Depois do luto, nasceu a estratégia. França se aproximou de Eduardo Campos e se tornou liderança nacional no PSB. Os laços estreitos se solidificaram com Geraldo Alckmin. A morte acidental de Campos aumentou a luz sobre França, que comanda o partido no Estado e se tornou vice-governador de São Paulo.

Em paralelo, o filho Caio ganhou a eleição para deputado estadual. Era a sequência de golpes que balançaram Bili no ringue. A gestão desastrosa dele amaciou o terreno para que França reassumisse o controle. As feridas estavam curadas, enquanto São Vicente sangrava na saúde, na coleta de lixo, nos salários atrasados, nas creches sem comida.

O nocaute que colocou os adversários em coma aconteceu no domingo, 2 de outubro. Um novato chamado Kayo Amado ameaçou levar a eleição para o segundo turno. Ameaçou!

O último capítulo foi a vitória de Pedro Gouvêa, o cunhado do Márcio França que - oficialmente - governará São Vicente a partir de 2 de janeiro, com a concordância de 87.365 súditos.

O mundo deu voltas no reino de São Vicente.

Obs.: Texto publicado no jornal Diário do Litoral, em 5 de outubro de 2016.

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