quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Os linchadores e os otários



Marcus Vinicius Batista

Os linchadores nunca sabem o que fazem. Eles procuram por violência quando acreditam estar a serviço da justiça. Não conseguem sequer ser justiceiros, já que erram na escolha das vítimas. Podem acertar um dos réus, mas jamais alcançam seu cúmplices.

Os linchadores costumam ser cegos. Espancam quem está por perto, nas redondezas, sem enxergar quem passeia com liberdade embaixo de seus narizes, mesmo que esteja fedendo a esterco. Giram o taco para bater em quem estiver caído e não escutam que os criminosos assistem a tudo pelas suas costas.

Os linchadores gritam por vingança, mas desconhecem o inimigo que os prejudica antes, durante e depois da execução sumária. Vingam-se sem conhecer a natureza do mal que os diminui, que os transforma em carcereiros e carrascos e os fazem se sentir como juízes de toga e títulos na parede do gabinete.

Os linchadores são covardes travestidos de valentões. Pacatos e até palermas quando sozinhos, eles enchem o peito e pegam em armas quando juntos, quando massa de manobra de quem gritou: "Pega, mata e come!" Eles têm sangue nas mãos e desaparecem quando o corpo jaz no solo, disforme e sem nome.

Os linchadores são individualistas. Usam o outro, o do lado, o próximo para colocar para fora, via pancadaria e berros, o que nunca conseguiram fazer no cotidiano. Abaixam a cabeça nas filas, pagam o que é devido e o que é ordenado, cagam as regras que nunca pensaram em perguntar porque existem.

Os linchadores são pontuais. Execram, julgam e condenam num piscar de olhos, numa porção de cliques, na meia de dúzia de xingamentos. O contexto não lhes serve. Eles servem ao contexto. Não entendem a estrutura. Desprezam a análise e o pensamento. Amam a sessão de descarrego.

Os linchadores estão entre nós. Agora, eles vivem em silêncio. Ajudaram a criar um cadáver. Mentiram. "Vamos pegar o próximo. Ele tem muito a temer." O dono da fazenda Brasil maneja seu gado como quer. As panelas voltaram para os armários ou foram terceirizadas nos fogões.

O relógio começa a contagem regressiva para a velha volta, onde o pássaro, em vez de gritar cuco, pergunta: "quando eles vão perceber que foram enganados?"

Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 11 de outubro de 2016.

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