Marcus Vinicius Batista
O desastre era previsível. O Partido dos Trabalhadores, estigmatizado como único responsável pela corrupção no país, tomou o maior tombo de sua história nas eleições municipais. Em São Paulo, por exemplo, o PT tinha 70 prefeituras. Ficou com oito.
A Baixada Santista, como qualquer região, tem particularidades políticas e eleitorais. Isso nos conduz a outro caminho de análise, sem se prender de forma exclusiva ao cenário nacional.
Na Baixada, o PT vem perdendo espaço há mais de uma década. A região é de natureza conservadora e, neste sentido, o PT nunca foi uma potência soberana, diferente do Grande ABC, onde o partido nasceu e cresceu e agora vê sua força posta em dúvida.
O Partidos do Trabalhadores só teve prefeito em São Vicente na década de 90, com Luiz Carlos Luca Pedro. Na Câmara, dois vereadores, Brito Coelho e Mara Valéria. Hoje, ninguém.
A única representante da sigla em Cubatão, uma cidade operária, foi Márcia Rosa, que entrega o segundo mandato no final do ano. Lá, ela indicou Fábio Inácio como sucessor, mas ele acabou em quinto e último lugar. A cidade terá dois vereadores, em 2017: Rafael Tucla e Jair do Bar.
O PT teve - e ainda tem - seu maior reduto em Santos. Dois prefeitos seguidos - Telma de Souza e David Capistrano - no século passado ainda geram resposta de parte do eleitorado. No município, restaram cerca de 3 mil filiados, um terço do PSDB, que reelegeu Paulo Alexandre Barbosa.
O PT oscila na maior cidade da região, pois deixou de ser uma legenda de retórica ideológica e caiu na vala comum do personalismo. Isso ficou claro com o desaparecimento da estrela, da sigla do partido e a troca do vermelho pelo rosa. Uma estratégia de marketing incapaz de enganar o eleitor e que soou como vergonha do passado recente.
O PT não teve candidato a prefeito pela primeira vez. Ajudou a construir Carina Vitral, do PC do B, e ficou com o vice. Acabou no pacote suicida da oposição. Terminou em segundo, mas com pouco mais de 6% dos votos, pior desempenho da história na disputa pela Prefeitura.
A compensação foi a volta à Câmara Municipal. Parte da gestão atual não teve representantes petistas, com as saídas de Evaldo Stanislau e Adilson Júnior para outros partidos. O PT voltará ao Castelinho com Telma de Souza - com 40% da votação de oito anos atrás - mais Chico do PT, com origem no setor portuário.
O Poder Legislativo terá vereadores do PT também em Praia Grande e Guarujá. Em Praia Grande, Janaina Ballaris conseguiu a reeleição. No Guarujá, Edilson Dias. O partido não terá parlamentares nas outras cinco cidades da região (Bertioga, Itanhaém, Peruíbe, Mongaguá e São Vicente).
O PT, de maneira involuntária, retorna à origem de representação parlamentar e de oposição. As perguntas: será que o PT ainda tem fôlego para dar conta deste trabalho? Até que ponto a surra nacional impedirá o partido de se recuperar? Será preciso mudar de nome para que as lideranças atuais sobrevivam em termos políticos?
Na Baixada Santista, o partido pagou pela soberba. Não formou novos quadros, exceto um ou outro nome que navega sozinho. As lideranças foram para as sombras, parte delas nos gabinetes de Brasília nos últimos anos, parte aposentada pelas urnas.
O PT perdeu, inclusive, espaço como liderança da esquerda, embora tenha flertado e namorado com o centro muitas vezes desde que assumiu a Presidência. Não me refiro aos acordos políticos para governar, mas a política econômica, a relação com o meio ambiente, entre outros pontos.
As eleições municipais abriram espaço para o PSOL, frágil na Baixada Santista, mas com surpresas em diversas cidades brasileiras, a maior delas o segundo turno, no Rio de Janeiro.
O PT, pela história que construiu antes do estigma (e da prática) da corrupção, precisa definir qual rota seguir. Se mantiver a empáfia daquele que um dia foi, só restará a transformação em legenda nanica. Na região, chegou bem perto desta fronteira.
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