Se Carina Vitral foi a candidata do amor e ódio nas eleições da Baixada Santista, Kayo Amado (Rede) foi a maior surpresa nas urnas. A eleição em São Vicente só não foi ao segundo turno por 800 votos. Amado conseguiu 48.641 votos, ou 28,1%. Isso representa, de saída, que três em cada dez eleitores não quiseram Pedro Gouvêa, antes dele começar a gestão. Descontentes com quem e o que o novo prefeito representa.
Kayo, aos 25 anos, personaliza o desejo de parte da cidade, que encontrou na candidatura dele voz para protestar contra o domínio do grupo político do vice-governador Márcio França.
Kayo vem de um partido pequeno, a Rede, que não decolou em termos nacionais. Vive de uma cacique - Marina Silva - e não aparece entre os dez maiores partidos, em número de prefeituras.
O candidato da Rede encaixou a estratégia de marketing. Imagem de juventude, discurso progressista, o novo na forma de se comunicar, via redes sociais. O "pulo do gato" se materializou na campanha na Internet e a decisão judicial para participação no debate da TV Tribuna. Todos ganharam visibilidade, inclusive a emissora.
Ele é a cara da renovação, numa cidade que opta por repetições. O atual prefeito, Luiz Cláudio Bili, não foi a mudança. Ele simbolizou o protesto contra os Franças. Tanto que, na noite da vitória, Bili reconheceu que a derrota de Caio França foi maior do que a própria vitória. Aliás, a diferença de letra inicial (K e C) do nome talvez reforce discursos distintos.
A questão agora é: o que Kayo Amado fará com 48 mil votos na bagagem? A eleição atual serviu de vitrine para 2018, quando ele poderá tentar ser deputado estadual. O cargo o afastaria da cidade, mas daria poder de fogo financeiro para interferir, de forma indireta, na gestão de Gouvêa.
A votação dele também pode funcionar como válvula de crescimento do partido, em São Vicente. Seria uma voz da oposição? Mas como fazê-la, já que a Câmara Municipal é - historicamente - um anexo do gabinete do prefeito, desde a chegada de Márcio França ao poder?
Até que ponto Kayo Amado resistirá, como fenômeno eleitoral? Quatro anos são muito tempo para o eleitorado. Para não parecer fogo de palha numa cidade de velhas tradições, Kayo tem que manter a Internet como amigo íntimo, enquanto pula os muros dela.
Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 8 de outubro de 2016.
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