Marcus Vinicius Batista
Tenho 44 anos e, fazendo uma conta grosseira, percebi que estou há 37 dentro da escola, como aluno, como professor. Nos últimos anos, os dois ao mesmo tempo. Este internato voluntário me dá a clareza de que professor e escola transcendem um ao outro, independem dos muros institucionais que podem, inclusive, cegá-los para o que importa na formação humana.
Professor não é quem comanda os trabalhos dentro de uma sala de aula em caráter absoluto, é cada vez menos o sujeito que fala e os outros ouvem, quando não se sugere que abaixem as orelhas. Professor é quem abre as portas para a pluralidade de vozes, para a conversa coletiva, para a construção de pontos de vista, com suas contradições, angústias, retrocessos e avanços.
Professor não é o sujeito sentado sobre os almanaques do saber. Professor não é quem restringe conteúdos por medo de ficar ultrapassado, por pavor de ser ultrapassado por seus alunos. O professor não é um pai, mas como tal, sabe que seus alunos nasceram para voar mais longe. O professor sorri quando os vê numa altitude mais elevada, jamais ceifa suas asas.
Professor não é somente o homem dos diplomas pregados na parede, dos títulos, das comendas, das honrarias. Muitas das maiores atrocidades dentro de uma escola foram ditas e cometidas por quem se veste de “doutor” ou se fantasia de “mestre”. Grandes professores podem também não ter um único diploma, mas ensinam pelo exemplo, pelas ações, raramente pela retórica ou pelas aspas decoradas. As citações só valem no contexto do ato.
Professor não é aquele que amarra seus alunos pelas provas difíceis ou pelas chamadas ou listas de presença. Professor conquista sua platéia a cada apresentação, de corpo, alma e espírito. E sabe, acima de tudo, que bons alunos não se definem pelas notas de suas provas amedrontadoras. Bons alunos são definidos pelo caráter, pela decência, pela dignidade em torno de suas escolhas, daquilo que pretendem levar adiante em suas biografias.
Professor não é aquele que transmite um único modo de pensar, mascarando uma ideologia como se não existissem outras. Professor tem ideologia, mas é honesto intelectualmente para denominá-la, reconhecê-la como falível, entendê-la como parte de sua vida.
Professor não é aquele que defende um candidato ou que defende o silêncio de quem pensa diferente dele. Professor é quem dá voz à coletividade, pondera sobre as escolhas políticas, consciente de que o homem como ser político se sobrepõe a quaisquer camisas, dentro dos limites da humanidade.
Tento ser um professor há 16 anos. Por vezes, este ofício me conduz ao limite da fadiga. Por vezes, este ofício salva meu dia, minha semana com pequenas vitórias. Em certos dias, a burocracia e a estupidez humana quase me fazem desistir. Em outros, as pessoas me fazem voltar no dia seguinte. Eventualmente, a ausência de reconhecimento – inclusive de quem deveria nos apoiar – nos empurra para a sensação de indigência. De vez em quando, o aplauso de quem sabe que a evolução humana pode acontecer nos garante que os medíocres não vão permanecer por perto. Ser professor é pisar em solo movediço, paradoxal como o próprio caminhante.
Professor não é somente o sujeito que está em sala de aula. Professor está em todos os cantos, onde há gente, onde há diálogo, onde há respeito pelo outro, onde ele mal consegue perceber que assim o é. Um professor jamais é professoral. Ele é professor quando não percebe que está em aula!
Energia positiva , sempre !
ResponderExcluirTexto para reflexões amplas e profundas.
Afinal, o professor será sempre o principal aluno da classe.
Parabéns pela data, professor!
Luiz Carlos, muito obrigado pela generosidade. Desejo o mesmo a você, meu amigo. Um abraço!!!
ExcluirBatista, meu caro amigo, seu texto me leva de volta ao passado e me faz recordar de alguns professores que estão marcados na minha alma. E por que são tão especiais? Simplesmente por que transbordaram as 4 paredes frias da sala de aula e me levaram para conhecer o mundo atraves do conhecimento bruto, aquele que indica o caminho em estrada de terra esburacada e pelo encorajamento do Mestre vamos em frente. E quando chegamos ao destino, no final da estradinha a recompra é gigante. Podemos nos revitalizar banhando em uma cachoeira de águas cristalinas. Ser professor é antes de mais nada ser um parceiro, um camarada mais experiente que tem prazer em mostrar a direção ao amigo menos inexperiente. E quantas estradinhas de terra deixamos de e caminhar por falta de estímulo... Parabéns Batista por ser um grande camarada!
ResponderExcluirJúnior, você é um grande amigo. Só o seu comentário já é um texto brilhante sobre o professor. Muito obrigado por poder compartilhar da sua perspectiva de vida. Um forte abraço!!!
ExcluirMarcão que texto! Nesse momento em que a humanidade toma rumos que me surpreende e até me frustram, ler algo assim faz com que não me sinta tão só em minha visão de mundo. Muito bom ter pessoas como você como amigo.
ResponderExcluirMuito obrigado. Eu que agradeço pela amizade. Um abração!!
ExcluirObrigada por ser professor e aluno nos nos nossos dias em sala de aula e na vida. Feliz Dia do Professor! Beijos
ResponderExcluirCidinha, só tenho a agradecer pela sua amizade. Saudades de nossas conversas. Um beijo!!
ExcluirGrande texto de reflexão! Nesse texto pensei em todos professores que já passaram pela minha vida em salas de aula. Pelos momentos de dificuldades e de risadas, mas sempre tendo os como admiradores de nosso crescimento! Parabéns pelo dia e pelo texto!!!
ResponderExcluirMuito obrigado. Fico mais contente ainda em saber que provocou tamanha reflexão. Só tenho a agradecer.
ExcluirQue texto! Sim,é preciso sempre Ser professor e não simplesmente Estar professor!
ResponderExcluirAssino embaixo, em cima e dos lados. (risos) Muito obrigado!!!
ExcluirParabéns pelo texto e postura digna de quem faz do mundo a sala de aula, sem perceber.
ResponderExcluirMuito obrigado pela generosidade. Obrigado mesmo!
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