sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Por que meu voto será nulo





Fernando Rossi*


Quando achava ter chegado ao fundo do poço, redescobri o pré-sal.

Se, em 1989, o então candidato Fernando Collor de Mello surpreendeu o país ao levar em seu programa eleitoral a filha bastarda de Lula para que, entre outros assuntos, acusasse o pai de querer que sua mãe a abortasse, os programas eleitorais de hoje são a prova cabal de que Collor seria, hoje, candidato ao papado.

O termo Fake News tomou o país com a mesma força das pragas do Egito. Parentes e amigos enviam e compartilham, sem checar, os mais diversos absurdos. Sou combatente voraz (e feroz). A praga é tamanha que não conseguimos ouvir propostas.

Mas, afinal, quem as ouve?

Não somos politizados. Cresci com as máximas “brasileiro quer levar vantagem em tudo” e, com frequência, “política não se discute”. Discutimos posturas e falas dos candidatos, apenas isso. Enquanto um propaga “vamos exterminar os vermelhos” o outro diz “vamos subir a rampa com o presidente Lula”. Ambas falsas ou editadas.

Mas, no que queremos acreditar? No “salvador” ou no “amigo do verdadeiro filho de Deus”?

Eu, que até pouco tempo acreditava na necessidade da quebra do status quo, hoje tenho dúvidas. Não são poucas, a começar por todas as entrevistas que vi do atual líder das pesquisas. E, por mais que ouça “isso é só para ganhar voto”, não consigo aceitar nenhuma. Do poste, confesso, sinto pena. As últimas, da Bíblia “roubada” e do “pedido para desligar o whats”, enterraram qualquer possibilidade de outro sentimento.

Meus textos sempre foram pontuados pelas “desgraças que o partido do governo fez ao longo destes 16 anos” e aos “milhões de pessoas que ficaram desempregadas”. Não os nego, não mesmo. Porém preciso ser honesto com minha consciência e dizer que sim, foram anos difíceis, mas nunca me faltou trabalho e condições de pagar minhas contas. Assumi posturas diferentes, procurei novos caminhos na minha área e não desisti.

Trabalhei mais do que a CLT exige? Muito mais. Me arrependo? Jamais. A crise promove mudanças nos que não ficam parados, dirão os especialistas.
Minha crise, neste momento, é de consciência. As decisões tornam-se mais difíceis para quem sempre teve a mente ligada ao coração.

Já fiz campanha para candidatos à vereador e pude entender uma pequena parte de como funciona o “processo” político. As manipulações, aliadas à tecnologia e à falta de escrúpulos, permitiram que vidas fossem destroçadas e não me permito concordar com isso.

Quero um país melhor, mais seguro e justo. Mas não consigo olhar o “Brasil acima de tudo”.

A tecnologia, ao mesmo tempo que encurtou distâncias, promoveu um abismo entre pessoas que tem pontos de vista ou pensamentos divergentes. O algoritmo das minhas redes sociais facilitou o trabalho deste distanciamento.

Meu posicionamento de “PT Não” era minha única justificativa para votar no “Ele sim”.

Perdoem-me os que de mim gostam, mas meu “egoísmo” pulsa: faltando apenas 2 dias para a eleição mais sórdida de toda nossa história, nenhum dos dois candidatos terá meu voto, decisão que se aplica também aos postulantes ao governo do Estado de São Paulo.

O novo presidente será eleito como a “representação da mudança”. Torcerei, talvez, em silêncio.

Minhas opiniões políticas foram deletadas de minha timeline. É um passado que não interessa a ninguém. Foi um trabalho de pouco mais de uma hora. Recomendo à todos.

Respiro, aliviado, por fazer o que sempre fiz: ser verdadeiro e tentar ser sempre melhor para com meus semelhantes.

Sejam felizes.

* Fernando Rossi é publicitário com 25 anos de experiência e trabalhou em diversas campanhas eleitorais.


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