Marcus Vinicius Batista
Acompanhar as Olimpíadas é mais do que se sentar diante da TV, vaiar ou gritar nas arquibancadas. Os Jogos Olímpicos são o retrato de um conjunto de sentimentos e de valores culturais que brotam e se manifestam por exagero durante duas semanas, para adormecer logo após que a tocha se apagar.
No Brasil, as Olimpíadas nos levam a cozinhar na mesma panela, em fogo alto, ufanismo e patriotismo, tornando os dois obrigação cívica e pressionando aqueles que tentam se afastar da euforia. Ufanismo e patriotismo são pratos de gosto parecido, principalmente pelo impacto do espetáculo e da carga emocional que abraçam vitórias e derrotas.
Os ufanistas me preocupam pela empolgação quase patológica, cegos e surdos diante de vários aspectos que envolvem as competições. O ufanista é escravo da ausência de reflexão. É vítima de um amor incondicional e servil. Padece da ilusão de que seu sonho de país se aproxima da concretização real e sem volta. Todos os insucessos e defeitos serão apagados assim que ouvir o primeiro acorde do hino nacional.
O ufanista não trabalha em silêncio. Vende-se como um sujeito leal e, portanto, digno de ser testemunha das conquistas que se avizinham. O nacionalismo, a face política (ou pseudo-política) do ufanismo, está atrelado aos princípios elementares da propaganda de guerra. Não basta seu país. É vital esmagar o adversário e ratificar a condição de superioridade e, por tabela, de inferioridade do perdedor.
O ufanista jamais perde. É egocêntrico demais para isso. Nas derrotas reais, florescem os mecanismos de defesa, as justificativas, as desculpas que, se pensasse, nem o ufanista acreditaria na própria voz. Na inspiração e expiração de ingenuidade, ele coloca nas costas de um terceiro a culpa pelo resultado indesejado.
Nas Olimpíadas, ele se queixa de árbitros, fórmula de disputa, infraestrutura do adversário, El Niño, Bolsa de Valores, o que for para jamais olhar em direção ao próprio umbigo e perceber que não o lava há tempos, quanto mais compreender os méritos de quem o venceu.
O patriota representa quase a visão oposta. Quase, pois se fundem no mar verde e amarelo. Mas a diferença não seria sutil? Nos Jogos Olímpicos, patriotas e ufanistas estão lado a lado, simbióticos na torcida. O patriota é perceptível no rescaldo, etapa menos suscetível às pressões sociais carnavalescas.
O patriota se preocupa, em tese, com as consequências da festa. Quem ficará com a despesa, por exemplo, de R$ 59 milhões por ano para manter dois grandes complexos esportivos no Rio de Janeiro? O patriota, eventualmente, consegue ser capaz de manter uma distância segura e ponderar sobre o cenário, preocupado com os excessos presentes via propaganda.
Não consigo ser um ou outro. Embora lute, posso até ser ambos, assim como você. Verei de perto os jogos, porém admito que me interesso muito mais pelas histórias do que pela cor da bandeira. Na maioria das vezes, já que certas cicatrizes nunca somem.
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