segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Morrendo abraçados



Marcus Vinicius Batista

As duas primeiras pesquisas - Ibope/TV Tribuna e Enfoque/Jornal Boqnews - apresentaram várias semelhanças na corrida para a Prefeitura de Santos. Além de comprovar a eficiência histórica do acompanhamento deste jornal em eleições, a primeira leitura após o início da campanha mostra o cenário estável, o que é um problema, no caso da sete candidaturas de oposição.

A primeira semelhança aponta para uma vitória no primeiro turno do prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB). Em ambas as pesquisas, o prefeito venceria com margem elevada de votos. Como agravante, todos os demais candidatos, juntos, não somam a metade das intenções de voto para o atual prefeito.

O início do horário eleitoral gratuito, na última sexta-feira, não reverterá o quadro. A aliança de 16 partidos em torno do prefeito deu a ele quase 60% do tempo de exposição no rádio e na TV. São 5 minutos e 45 segundos a cada dez minutos.

Dos sete adversários, apenas Carina Vitral (PC do B) tem mais de um minuto. Para ser preciso, um minuto e 43 segundos. Os demais terão segundos para se constituir como alternativa. Hélio Hallite (PRTB), por exemplo, terá que operar o milagre Enéas, com direito à oito segundos no ar.

O horário eleitoral perdeu parte de sua importância ao longo deste século, inclusive por culpa dos próprios candidatos, que oscilam entre a repetição monótona de estratégias e os programas de humor. O horário eleitoral simboliza que a eleição, em Santos, se constitui na disputa entre um elefante no meio da sala, cercado de formigas, que se recusam a trabalhar em conjunto para cutucá-lo.

Todas padecem do Complexo de Clark Kent, praguejando que serão capazes de promover uma reviravolta, sem a visão cristalina de onde se encontram no roteiro. Ou, como muita gente desconfia, correndo em círculos para atrapalhar os colegas da mesma espécie.

A eleição será em 35 dias, o que significa que o prazo cada vez mais apertado reduzirá as chances de uma novidade provocar tremores no prefeito por causa de um segundo turno. Seis dos oito candidatos não passam de 3% das intenções de voto. Somente Marcelo Del Bosco (PPS) toma uma certa dianteira, variando entre 5% e 8%, insuficiente para aparecer no retrovisor do candidato favorito.

O último mês talvez deixe mais claro que situações extremas exigem medidas desesperadas. Por que certas candidaturas permanecem na dança de salão se nasceram com as pernas quebradas? Por que certas candidaturas não se unem se há pouca estrutura de propaganda e dinheiro?

Uma eleição também atrai candidatos que desejam ficar na vitrine. Sem chances, lançam seus nomes de olho em 2018 ou no sonho da próxima eleição para prefeito, em 2020. O problema é que há muita gente para uma vitrine apertada, e todos vestindo roupas com pouca luminosidade para ganhar os olhos do público.

A ironia desta eleição é a incapacidade da oposição de promover uma ressaca. Num mar de marolinhas, o risco é testemunharmos a oposição morrer abraçada, bem antes de alcançar a beira da praia.

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