sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Os aposentados, os pobres e os sujos

Barra Olimpic Park, no Rio de Janeiro

Marcus Vinicius Batista

Quando uma festa acaba e somos os anfitriões, só nos resta criar coragem e limpar a casa. Se estivermos exaustos demais, a saída é adiar, esperar até a manhã seguinte para o mesmo destino. Pior é fugir do problema, mesmo que se escondam os pratos quebrados, o lixo embaixo do sofá, as contas da farra que virão na próxima fatura do cartão de crédito.

Com o furor olímpico em ponto de hibernação, voltamos à pergunta: o que vai sobreviver da Olimpíada, no Rio de Janeiro? Não tenho ilusões sobre os elefantes brancos que vão empacar ao lado de seus colegas estádios da Copa do Mundo.

O que me preocupa são as pessoas, os atletas que não podem pagar contas com suas medalhas - exceção dos jogadores de futebol, R$ 500 mil mais ricos cada um. E os atletas que não foram premiados, praticantes daquelas modalidades que mal se sabe pronunciar os nomes?

Torço para que nossa amnésia histórica não contamine a admiração por quem se aposenta, como o líbero Serginho, retornado do retiro pós-Londres e liderança maior do vôlei. Gratidão para Marilson dos Santos, tricampeão da São Silvestre e bicampeão da Maratona de Nova Iorque, uma figura discreta na despedida no Rio de Janeiro.

O patriotismo olímpico se manterá aceso contra os golpes baixos depois que a luz e a tocha se apagaram? Ficaremos calados diante da ausência de uma política esportiva mais igualitária? Nas pistas do Palácio do Planalto, o presidente reserva corre para cortar verbas dos atletas fora do paraíso do futebol da Série A. Gente que conta as moedas para estar numa competição internacional, que organiza rifas, que pede ajuda nos semáforos, que vende bolo e salgados para poder pagar inscrições e viagens.

O ufanismo cego e raivoso nas vaias vai se estender à CBF, que faz da política um esporte com substâncias proibidas? A mesma turma suja capaz de pagar meio milhão para atletas milionários, enquanto estuda cortar a verba das mulheres, que tantos adularam até a semana passada.

Provamos ser capazes de fazer festa, de abertura e de encerramento. Agora, teremos a decência de arrumar a casa no dia seguinte? Ou vamos manter o pregador no nariz, enquanto as baratas comem as sobras da farra?

Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 24 de agosto de 2016.

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