terça-feira, 16 de agosto de 2016

A vacinação eleitoral



Marcus Vinicius Batista

A campanha por votos puxou outra, a de vacinação eleitoral. Os técnicos devem percorrer as ruas da cidade, a partir dessa semana, para conter a epidemia que transforma pessoas em candidatos a vereador.

A proposta é evitar que o vírus da megalomania eleitoral se espalhe nos próximos 45 dias; por coincidência, o período de incubação da doença e o tempo de campanha para as eleições. As autoridades sanitárias explicam que é impossível erradicar a enfermidade. A saída é administrar os sintomas e se apoiar em estratégias de prevenção para uma doença que se manifesta a cada quatro anos.

Em 2016, especialistas preveem que a síndrome alcance a forma mais aguda por causa da proximidade e do excesso de candidatos. Não há diferenças físicas entre os portadores do vírus e os candidatos não infectados. Não há manchas, feridas ou bolinhas pelo corpo. Só o desejo de se dar bem.

Por isso, saiu uma cartilha com regras básicas de prevenção. A primeira delas é evitar o contágio corporal. Não deixe que candidatos carreguem bebês no colo, beijem e abracem velhinhas, comam seu pastel na feira livre, almocem ao seu lado no restaurante por quilo. Um dos sintomas, aliás, é o apetite incontrolável. Um candidato pode almoçar duas vezes e jantar outras três, mais chá da tarde e cafezinho, só para ganhar votos.

Um candidato com a doença pode ter crises espirituais. A fé fica exacerbada. Ele poderá abraçar pastores, balançar o corpo em terreiros, incorporar o sorriso espírita e comer a hóstia diante do padre.

O terceiro sintoma, explica a cartilha, é a fala, entre o otimismo e a agressividade. As palavras se repetem, de defesa da família à valorização de Deus, de educação à geração de empregos. Há ainda a obsessão por prometer o impossível, recitar projetos e criar programas.

A campanha de vacinação deve prosseguir, em Santos, até 3 de outubro. A expectativa é que parte da população crie anticorpos para se manter saudável diante da urna eletrônica. Caso contrário, crescem as chances de surtos nas zonas eleitorais.

O Ministério da Saúde adverte: se persistirem os sintomas na campanha política, procure por informação.

Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 14 de agosto de 2016.

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