Marcus Vinicius Batista
O horário eleitoral gratuito estreou na última sexta-feira e apontou, logo de saída, o que representa no processo político. Quatro dos oito candidatos a prefeito de Santos tiveram problemas para entregar seus programas a tempo de exibição. O que mudou? Nada!
O que poderia ser um vexame de organização ou um retrato da falta de estrutura das campanhas nos permite questionar a finalidade da exibição no rádio e na TV. A própria redução do tempo, de meia hora para dez minutos, duas vezes ao dia, traz boas intenções, mas na prática expõe os velhos vícios da política e a mudança de comportamento do eleitor.
Em Santos, o prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) tem 5 minutos e 45 segundos à disposição. O tempo é fruto da coligação de 16 partidos. Carina Vitral (PC do B) tem 1 minuto e 43 segundos. Os outros seis concorrentes, menos de um minuto cada. Hélio Hallite (PRTB) enfrenta o desafio de ser criativo em oito segundos.
O horário eleitoral perdeu parte de sua função (se é que teve um dia!): apresentar ao público as propostas dos candidatos. Os conteúdos regurgitam velhas fórmulas de marketing político, quando não descambam para o humor involuntário de candidatos que julgam a política como circo.
A disparidade de tempo entre os concorrentes também denota o poder das alianças. E esconde, claro, a distribuição do bolo de cargos e secretarias após as eleições.
O horário eleitoral enfrenta um adversário maior. A TV e o rádio perdem audiência, de maneira irreversível, com o barateamento e o crescente acesso às tecnologias móveis. Mais gente na Internet, mais gente acompanhando conteúdos audiovisuais em YouTube, Netflix e outras plataformas.
O público médio de TV aberta se aproxima dos 50 anos. A audiência entre os jovens com menos 25 anos cai, com tendência a zero. Quem vai assistir a um programa desinteressante, quando não desagradável como o desfile de políticos, muitos com promessas megalomaníacas?
O horário eleitoral gratuito contrasta com a campanha eleitoral pesada nas redes sociais. Só esse sintoma serviria para pensar se este dinossauro não corre sérios riscos de extinção, por invisibilidade. Que as preces se concretizem!
Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 28 de agosto de 2016.