Marcus Vinicius Batista
A campanha para prefeito de Santos correu morna até essa semana. Até que brotou um vídeo que denuncia a existência da compra de apoio por parte da administração municipal. O vídeo mostra o ex-ouvidor municipal Flávio Jordão falando sobre a compra de integrantes de dois partidos, que seriam recompensados com cargos na Prefeitura.
O vídeo circulou na Internet e foi divulgado pela imprensa local. O material esquenta - mas nem tanto - a corrida eleitoral, que entra nos últimos 10 dias. A primeira sensação é de que o vídeo se mostra insuficiente para alterar o estado de coisas, que caminha para a reeleição de Paulo Alexandre Barbosa.
A denúncia também permite reflexões sobre as reações da classe política e, principalmente, de parcela do eleitorado. A primeira delas é óbvia: os assessores de Paulo Alexandre Barbosa e do PSDB foram para o ataque. A estratégia abriu duas frentes. De um lado, diminuir e desmerecer a denúncia, qualificada como "campanha suja".
De outro, entrar na Justiça para contestar o vídeo. O próprio ato de transformar um fato político em judicial cria o verniz que ameniza o impacto da notícia. O foco se desvia e outros assuntos surgem na pauta, que tornam a gravação em si um ator coadjuvante. A Ética, então, é rebaixada à figurante.
O vídeo tende a soar como fato isolado, sem outros temperos suficientes para atrair a atenção de um eleitor acomodado, confortável e disposto a não se arriscar como novos nomes, um tanto quanto parecidos numa leitura superficial. Este eleitor não procura informações num misto de descrença e desconfiança.
O vídeo tem o poder de sacudir quem já tem calafrios com nesta eleição. Falo dos eleitores iniciados, de oposição declarada, de olhar dissonante numa cidade em ponto morto. O eleitor médio, vamos dizer assim, é - em termos históricos - capaz de perdoar o que julga "pequenos" deslizes, diante de um bem maior, ou seja, sua própria visão de cidade, de política e de benefícios públicos. As pesquisas eleitorais, sem exceção, apontam para uma postura - da maioria de eleitores - de ojeriza ao conflito, à desavença, à necessidade de colocar perspectivas diferentes numa balança e refletir a respeito.
Esta denúncia se parece com o leite que esquentamos na panelinha velha antes de dormir. A bebida ficará morna, não queimará a língua e jamais vai transbordar porque não ferveu. Mas, como diria minha avó, onde há fumaça ...
Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 22 de setembro de 2016.
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