quarta-feira, 14 de setembro de 2016

O eleitor, um bicho fascinante



Marcus Vinicius Batista

O eleitor jamais pode pagar pelo crime de ser otário. Quando escolhe se abster do processo eleitoral, tomou uma decisão política. Quando opta pela desinformação, ele sinaliza para os candidatos: a preferência por suas limitações.

Perdoe-me pela redundância, mas o eleitor é - numa campanha - quem mais se aproxima do ser humano e suas contradições. Ele merece que se desmonte, por justiça, dois mitos em torno de sua imagem.

O eleitor nunca é uma vítima do processo eleitoral. Muitas pessoas podem se colocar nesta posição confortável, que permite escapar da responsabilidade do voto. O eleitor é, ainda que negue, cúmplice. Ao escolher um palhaço sob protesto, ele o faz ciente de que enxerga a política como circo.

Ao votar em um corrupto de carteirinha, ele o absolve pelo que julga serem pequenas penalidades e aplica - por exemplo - bordões como "rouba, mas faz". A condescendência é o olhar, em última instância, de si próprio no espelho, como defensor e praticante de deslizes cotidianos.

Outro mito diz respeito ao voto por consciência coletiva. O eleitor médio pensa em seus interesses. Escolhe por motivos particulares, e não por causas nobres, amplas e sociais. Há, muitas vezes, o autoengano, mas é retórica para elevar a autoimagem diante da mesquinhez política ou do senso comum.

Suas informações são limitadas, que podem nascer dos círculos de amigos; por razões óbvias, pessoas com quem o eleitor assina embaixo. É ingênuo crer que, em face da descrença política, o eleitor será um ávido consumidor de dados e análises para traçar um panorama que o leve a uma decisão racional em estado puro, o mais próximo possível da neutralidade. O eleitor tem posição definida e que pode ser apenas sustentada por preconceitos, estigmas e moralismos.

Estudos de Ciência Política se repetem na percepção de que o eleitor militante e o eleitor alienado em absoluto são minoria no processo eleitoral. O primeiro é devoto de uma causa, partido e/ou candidato. Não muda de opinião como também defende sua escolha, que pode ultrapassar a fronteira da intolerância.

O segundo cria mecanismos próprios de ausência, que oscilam entre a generalização negativa e a decisão unilateral de ignorar discursos e informações sobre a campanha. Não o confunda com os indecisos. O alienado decidiu não votar ou, na pior das hipóteses, flertar com o voto em branco. Pode, talvez, se divertir com a anulação do voto.

O eleitor a ser caçado pelos candidatos é o volúvel, que namora com um candidato, escuta outro, promete casamento com um terceiro para - quem sabe? - subir ao altar com um quarto nome. É o eleitor que decide nas últimas 72 horas, que pode escolher porque o pai, o marido, a melhor amiga ou a esposa indicaram um candidato. Ou definir o voto dentro do colégio eleitoral, com um santinho que caiu a seus pés durante o trajeto.

Por essas razões, o eleitor é um espécime que me fascina. Sua melhor qualidade: a capacidade de surpreender as raposas.

Caro (e)leitor, em qual perfil você se encaixa?

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