Marcus Vinicius Batista
A crise econômica muda as relações de trabalho. Não é momento de escolher um lugar no mercado. É hora de estar empregado, ainda mais com o alto risco de demissão.
O anúncio da abertura de vagas em Santos atraiu gente de todo lado, de todo tipo de escolaridade, religião e experiência. A fila daria volta no quarteirão se o processo de seleção não fosse à distância. Uma série de etapas, com duração de 45 dias. Muitos se preparam há quatro anos; outros se satisfazem em imprimir o currículo.
A seleção envolve entrevistas, dinâmicas de grupo e reuniões com clientes e fornecedores. Não é para qualquer um. Nesta crise, poucas firmas podem se orgulhar da abertura de 21 vagas.
Cerca de 380 pessoas se inscreveram na filial de Santos. A promessa dos recrutadores é igualdade e imparcialidade na escolha dos candidatos. Não é preciso experiência, mas se sabe que - outra vez a crise - há profissionais com 30 anos de estrada. Gente que largou tudo pelo sonho de trabalhar ali.
Não é concurso público. Os contratos são temporários: quatro anos, com chance de renovação pelo mesmo período. A instabilidade é compensada pelo horário flexível, folgas nos finais de semana e férias duas vezes ao ano. Horário, horário mesmo!, só duas vezes por semana, ainda assim no final da tarde, depois das 18 horas. Dá até para conciliar com outra atividade para engordar o orçamento em casa.
A firma permite que o funcionário escolha não apenas os projetos nos quais pretendem trabalhar, mas também defina sua equipe de trabalho. A firma garante que o mérito prevalece e que eventuais repetições de sobrenomes são meras coincidências.
Além dos benefícios, o salário é único no mercado. Hoje, o contratado recebe, assim que entra na firma, R$ 9.938,34. Só que este processo de seleção, com início de trabalho em janeiro de 2017, prevê que os vencimentos pulem para R$ 12.091,71. O sujeito, antes de assinar o ponto pela primeira vez, já recebe um aumento de 22%.
Impressionado com o emprego? Os atuais "colaboradores" garantem que o salário poderia ser maior. Eles fizeram o favor de preservar o caixa da firma e o bolso dos clientes. Um vereador, por lei, pode receber até 60% da remuneração de um deputado estadual. Ou seja: R$ 15.193,35.
Como dizem as cartilhas, é nas crises que nascem as oportunidades. Para poucos!
Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 29 de setembro de 2016.