domingo, 29 de maio de 2016

O diabo e o PT



Marcus Vinicius Batista

O pacto durou mais do que se esperava. Normalmente, o diabo segue o padrão burocrático dos contratos e vem buscar a alma depois de 10 anos. No caso do PT, foram 13 anos e quatro meses. Talvez uma brincadeirinha do tinhoso com a sigla do partido.

Agora no inferno, o PT tenta curar as próprias feridas. Ficou quase duas semanas em silêncio até que o presidente Rui Falcão deu sinal verde para as críticas ao governo Temer. Uma bravata do tipo "ruim conosco, pior com eles."

O problema é que parte do novo organismo é reciclagem do corpo morto. O PT não tem mais de recolher os cacos para as eleições municipais. O partido vai se apequenar em todo o país. Aí talvez esteja o aviso para o início do tratamento, a aplicação de injeções contra a bipolaridade.

O PT precisa voltar ao século 20. À estaca zero. Isso implica em várias dosagens de remédios diferentes. A primeira delas talvez seja a mais dolorosa: encostar as velhas lideranças. Publicamente, pode ser uma saída honrosa para a turma que achou que participar do jogo significava ser o dono do tabuleiro. Será que o PT aprendeu a lição depois de 13 anos?

Frequentar a mesa das velhas oligarquias, dos velhos coronéis nunca deu margem para ser um deles. O PT quis ser como eles, em nome do palavrão governabilidade e acreditou na bajulação de quem seduz como natureza da própria existência.

As lideranças atuais enterraram o partido. Classificar o PT como esquerda é olhar pelo espelho retrovisor. A condução da economia atendeu e estendeu o governo anterior. Houve avanços nas políticas sociais, mas a política ambiental foi mais pró-concreto do que com os antecessores.

O PT se vê diante da mesma encruzilhada onde assinou o pacto com o diabo. De um lado, fantasiar-se de oposição burra, com os mesmos atores, invejosa dos privilégios que o poder dá, corrompe e toma de volta. De outro, demolir a casa para voltar às origens de alternativa real para a política brasileira. Talvez os tumores sejam grandes demais para uma remoção cirúrgica. Cuidados paliativos para uma morte confortável?

Os pessimistas falam em extinção do partido. Os otimistas - que costumam ser sinônimos de mal informados - apostam na ressurreição, com respeito aos militantes históricos. Mas muitos deles foram espirrados a partir de 2005 quando o mensalão indicou os primeiros sinais de cheiro de enxofre.

O PT não parece, na ressaca Temer, estar disposto a sangrar a própria carne. Ainda sonha, sem falar sobre isso, com o fracasso do governo interino, que seria a prova viva de que Lula retornaria como o salvador da pátria, o messias que hipnotiza as plateias com meia dúzia de palavras de ordem. Mas Lula não é o maior símbolo de quem caiu em tentação?

De tudo isso, resta a ironia que dá prazer ao diabo. Ao assinar o pacto 13 anos atrás, o PT jamais imaginaria que cederia seu lugar para o próprio comprador de sua alma.

2 comentários:

  1. Parece que, enfim, apenas fingimos haver enterrado nosso complexo de "vira-lata".

    Tal como um telespetador da história, preferimos menosprezar quem teve a coragem de subiur ao palco, do que reconhecer seus méritos (que poucos de nós possuem).

    Não foi o PT o maior derrotado por essa conspiração golpista, já publicamente revelada.

    Também não será a esquerda sul-americana que estará ameaçada pelas políticas escravagistas e entreguistas que apontam no horizonte.

    Na condução do Temer, estaremos conformados, tal qual inocentes bovinos rumo ao derradeiro sacrifício.

    Só resta novamente à esquerda traçar o caminho para resgatar nosso povo.

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  2. Parece que, enfim, apenas fingimos haver enterrado nosso complexo de "vira-lata".

    Tal como um telespetador da história, preferimos menosprezar quem teve a coragem de subiur ao palco, do que reconhecer seus méritos (que poucos de nós possuem).

    Não foi o PT o maior derrotado por essa conspiração golpista, já publicamente revelada.

    Também não será a esquerda sul-americana que estará ameaçada pelas políticas escravagistas e entreguistas que apontam no horizonte.

    Na condução do Temer, estaremos conformados, tal qual inocentes bovinos rumo ao derradeiro sacrifício.

    Só resta novamente à esquerda traçar o caminho para resgatar nosso povo.

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