Protesto "Por Todas Elas" aconteceu em diversas cidades brasileiras. Nesta imagem, manifestação em Natal/RN |
Marcus Vinicius Batista
Elas eram 200. Poderiam ser mais. Deveriam se multiplicar e atrair os homens para a mesma gritaria. Tem que crescer como movimento, em progressão geométrica, e envolver qualquer pessoa com bom senso.
Elas estavam na Praça da Independência, em Santos, no meio da semana. A praça é o centro das comemorações de campeonatos, o ponto de encontro dos que querem o fim da corrupção e dos que escondem seus preconceitos na política. A praça costuma reunir quem tem algo a dizer.
Elas estavam lá porque não querem deixar de ser quem são. Mulheres. Gente. Pessoas com liberdade para vestir o que quiserem, para serem vistas como iguais, como mulheres, e não pedaços de carne cobertos de tecidos, prontas para o matadouro de um pinto qualquer.
As mulheres - e por que os homens não apareceram? - gritaram, levantaram faixas, caminharam, fizeram barulho em frente à delegacia, assim como milhares foram reclamar da Cultura do Estupro, na avenida Paulista, em São Paulo. O protesto também aconteceu no interior do Estado e nas regiões Sul e Nordeste. A Cultura do Estupro existe, viu, amigo? Não é da natureza humana, sabe se lá o que seja isso quando serve como desculpa para a bestialidade.
O ato se chamou "Por Todas Elas" e foi organizado, claro, a partir do caso ocorrido no Rio de Janeiro com uma garota de 16 anos. Mas elas sabem - e todos deveriam saber - que não é preciso ir muito longe. A Baixada Santista e o Vale do Ribeira respondem por si mesmos.
Nesta sexta, um homem foi preso em Iguape por ter estuprado uma menina de 12 anos dentro de uma igreja. Ela foi atacada antes da aula de catequese e ameaçada depois pelo agressor se abrisse a boca.
Na última terça, uma babá de 33 anos foi estuprada por um homem quando esperava por um ônibus, na Vista Linda, em Bertioga. Ele ainda roubou R$ 250 da vítima.
No final de semana passado, por exemplo, aconteceram dois casos. Uma menina de oito anos sofreu atos libidinosos - juridicamente é estupro desde 2009 - em Bertioga. O autor foi um vizinho, na faixa dos 70 anos. Em Guarujá, outra história. Uma moça de 18 anos foi perseguida e violentada por um sujeito, em um terreno baldio, na avenida Antenor Pimentel.
Nos primeiros quatro meses de 2016, foram 101 casos de estupro na Baixada Santista. A cidade campeã é Praia Grande, com 26 ocorrências. Santos registrou a metade disso, 13 casos. Só que, no mesmo período do ano anterior, foram quatro. O Vale do Ribeira contabilizou mais 57 estupros no mesmo período. É a maior média dos últimos três anos.
Em 2015, as duas regiões registraram mais de um caso por dia. Como sabemos, por pesquisa, que só 35% dos crimes acabam nas delegacias, não é preciso confiar nos números ou fazer tantas contas para entender a "naturalidade" da violência sexual.
Vivemos no país dos 50 mil casos de estupro ao ano. 20% deste total acontecem no Estado de São Paulo, supostamente o mais desenvolvido do Brasil. Vivemos no país onde o número de denúncias, 180, recebe 25 mil chamadas por dia. Mesmo que se desconte os trotes, a quantidade de ligações impressiona.
As mulheres têm que pressionar a classe política. Exigir políticas públicas de curto, médio e longo prazos. Cobrar ações do sistema de segurança política. Reclamar com o delegado responsável por quaisquer casos. E não deixar o assunto esfriar enquanto não houverem respostas adequadas.
Só me pergunto: por que muitos homens não querem falar sobre isso? Ignorância, conivência ou omissão?
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