segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O fenômeno Kenny

O vereador Kenny Mendes (PSDB), no estúdio da CBN-Santos

Marcus Vinicius Batista

O vereador Kenny Mendes, do PSDB, teve 24.765 votos, o mais votado de toda a história de Santos. A votação dele representou 10,98% dos votos válidos. Ou seja: um em cada dez votos para vereador é dele. Nem o próprio candidato poderia sonhar com tanto.

Kenny quebrou a marca de Telma de Souza, que - em 2008 - conseguiu 20.631 (8,47% dos votos válidos). A ex-prefeita, aliás, volta a Câmara e é um dos dois representantes do PT. O outro é Chico, do Settaport, o último da lista de 21 eleitos.

O resultado coloca Kenny em outro patamar, dentro da Câmara e, principalmente, no relacionamento com o prefeito reeleito Paulo Alexandre Barbosa. Kenny subiu de degrau nas três eleições que disputou. Auge ou ascensão?

Em 2008, Kenny ficou na suplência. Entendeu-se que sua votação foi concentrada em estudantes de idiomas, seu público-alvo na época. Kenny é professor de inglês e francês na Universidade Santa Cecília. Na ocasião, a universidade tinha oito professores-candidatos. Kenny foi o mais votado, com 1.532 votos.

Quatro anos depois, Kenny conseguiu se eleger pela primeira vez. Foi o décimo mais votado, com 3.376 votos, o dobro da tentativa anterior. Ele estava, inclusive, em outro partido, o Democratas.

Kenny, como professor, aprendeu com rapidez como o sistema eleitoral funciona e como o eleitor se comporta. Ele fez campanha durante quatro anos e colhe os frutos deste processo, claro que muito mais nutritivos do que se poderia esperar.

Ele se comunica muito bem. Fala com clareza, é didático e se apresenta com uma postura mais jovem, sem afetações. Seu processo de comunicação é profissional, tanto em redes sociais como no audiovisual. Uma equipe de vídeo o acompanhou pela cidade nos quatro anos. Visita a bairros, por exemplo, queixa comum dos eleitores quando pensam na ausência dos políticos. Se ajudou a resolver problemas, são outros quinhentos, mas ele se fez presente.

Houve exageros na divulgação midiática, como o vídeo em que Kenny aparecia entregando água e Gatorade aos bombeiros que trabalhavam no incêndio do tanque de combustível, na Alemoa. Ele provocou muitas críticas em redes sociais, com acusações de oportunismo político. O vereador deu sinais posteriores de que a lição foi bem digerida.

Kenny sempre foi da base de apoio governista e termina a gestão na Mesa Diretora da Câmara. Ele sofreu pressões políticas, dentro e fora de seu ambiente de trabalho, quando votou a favor do aumento do IPTU. Rezou a cartilha do governo outras vezes e detectou a hora certa para mudar de barco e remar de vez com os tucanos.

Ele também soube escapar de armadilhas como a votação que proibia o Uber em Santos. Ademir Pestana, do mesmo partido e autor do projeto de lei, obteve o apoio de taxistas e também se reelegeu, mas Kenny capitalizou votos por ser um dos dois vereadores contrários.

Foi o final do caminho que o levou ao terceiro degrau. Kenny deixou de ser o candidato dos estudantes e depois dos jovens e ampliou sua base eleitoral em quase oito vezes, o que incluiu discursos e ações pontuais na área do meio ambiente. A retórica de sustentabilidade não arranha a política pública conservadora do PSDB para o setor, mas o afasta desta imagem. Pelo contrário, o aproximou da classe média simpática ao tema.

Não se assuste se a campanha sucessória de Paulo Alexandre Barbosa começar nesta segunda-feira, dia 3. Em quatro anos, muita gente vai se apresentar como o potencial prefeito de Santos, em 2020, e vários ficarão pelo caminho.

Kenny largou na frente com o capital de 24 mil votos. Seria segundo lugar, na eleição para prefeito este ano. A pergunta: ele será paciente como foi até agora e vai cimentar um apoio de Paulo Alexandre ou correrá o risco de ser um cavalo paraguaio numa maratona de obstáculos imprevisíveis?


domingo, 2 de outubro de 2016

Câmara de Santos: o que se pode esperar dela?

Plenário da Câmara de Santos (Foto: Diário do Litoral)

Marcus Vinicius Batista

A Câmara de Santos terá, pelo menos, quatro vereadores novos. Da atual gestão, três são candidatos ao Poder Executivo (dois a vice-prefeito e um a prefeito) e um vereador se aposentou da vida eleitoral. Se mantivermos a coerência histórica, outros quatro parlamentares ficarão de fora pelos próximos quatro anos.

Mais do que trocar nomes, a Câmara precisa de um banho de mentalidade. O Poder Legislativo se tornou, de forma gradativa, uma extensão da casa do prefeito em exercício. Não se chegou ao nível da Câmara de São Vicente, onde todos os parlamentares apoiavam o então prefeito Tércio Garcia, mas passou bem perto da unanimidade burra.

Hoje, somente três vereadores podem ser considerados de oposição. Os demais costumam assinar embaixo em todos os assuntos que interessam à Prefeitura. Neste sentido, a Câmara ficou exposta em temas como o aumento do IPTU, a criação de Organizações Sociais para administrar alguns serviços públicos, o veto pela gratuidade nas passagens de ônibus para quem tem entre 60 e 64 anos e a lei inconstitucional que proibia o uso do aplicativo Uber.

Os vereadores também se tornaram, a olhos vistos, distribuidores de medalhas e autores de requerimentos, como podas de árvores, uma espécie de ouvidoria informal da Prefeitura. Um ofício muito abaixo do que se espera, como a fiscalização do Poder Executivo e a apresentação de projetos relevantes para a cidade. Até um projeto de lei para reduzir a entrega de medalhas foi apresentado em 2016.

A relação entre Prefeitura e Câmara Municipal é o retrato, em três por quatro, do que acontece no país. Para uns, é a chamada governabilidade. Por outros, o nome é presidencialismo parlamentar. Para administrar com tranquilidade, qualquer governante constrói um relacionamento íntimo com os vereadores.

Em Santos, o partido do Governo começou a gestão com seis representantes na Câmara. Hoje, são dez. Cinco vereadores vieram para o time com mais estrutura. Somente um foi jogar numa sigla de menor expressão.

Espero que a renovação seja a maior possível. Talvez a mudança de nomes, com gente de primeira viagem, seja capaz de amenizar os vícios que fizeram com que a Câmara trabalhasse, muitas vezes, de costas para a cidade.

Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 1º de outubro de 2016.
    

sábado, 1 de outubro de 2016

O político-sabonete



Marcus Vinicius Batista

Ele usa calça cáqui, com a camisa para dentro, nas cores azul ou verde. O cabelo está sempre penteado. As mangas da camisa dobradas de forma simétrica, para dar a impressão de ordem, de organização e equilíbrio em se vestir. Ou seria uma construção artificial?

Ele não sua, mesmo que o sol nos lembre o interior da Somália. Calma ou insensibilidade? O sorriso está sempre presente, ainda que se questione seu trabalho. Preparo para as críticas ou falsidade? A disposição é a demonstração de juventude, que atrai a maturidade de uma retórica equilibrada, cheias de conexões informativas. Ou se está diante de alguém sedento por poder?

Ela se cerca de rosa para negar o passado de terceiros. Ou traz a leveza do novo? O cabelo encaracolado passa por desconfianças de quem sugere uma tintura e, para as mais radicais, grita o alisamento amplo, geral e irrestrito. Ou seria um símbolo da diversidade que compõe a sociedade brasileira?

A voz deveria visitar uma fonoaudióloga, que teria a missão de acabar de uma vez por todas com a infância tardia. Ou a voz representa a autenticidade e o vigor da renovação? A juventude, em vez de denotar simpatia, exala inexperiência. Ou estamos falando de quem chegou para oxigenar velhas práticas?

A fala errada não seria boa propaganda para jovens, mas o crime de lesa-idioma, capaz de ruir com toda a imagem. Ou seria respeito pela linguagem real, das ruas, dos estudantes, da cultura popular?

A partir do momento que o marketing político passou a ditar as regras das campanhas eleitorais, a disputa se confirmou como um jogo de aparências. Os parágrafos acima, é claro, exageram na polaridade de opiniões, mas também reproduzem os argumentos utilizados por muitos eleitores, em Santos. Depende de quem vê!

É evidente que não se recomenda a nenhum político que se fale a verdade todo o tempo. Até porque ninguém faz isso na vida cotidiana, além de ser utópico e - por contradição - uma mentira. Acreditar nisso é padecer de ingenuidade a ponto de confundir as intenções de qualquer discurso com prova de caráter. É a crença numa mensagem que só nos fornece os benefícios; jamais os ônus de uma escolha.

Fazer política significa, em muitos momentos, falar o que se quer ouvir, inclusive como forma de atender os desejos coletivos. Quando a política vira peça publicitária, o discurso se transforma em eco de pesquisas, a ponto de soar como oco diante da inviabilidade das promessas.

Se o político ganha uma embalagem ao longo da campanha e se parece com um sabonete, em cheiro, aroma e textura, é porque há - na outra ponta - um eleitor que valoriza e compra a forma. E utiliza elementos da carcaça fofinha como essenciais para a escolha de um candidato. Beleza se confunde com competência. Vestimentas se misturam com consciência política. Estética é a ideologia do presente. 



A série House of Cards, produzida pelo Netflix, é uma aula sobre política e poder. Muitas das situações são perceptíveis como práticas usuais na mentalidade brasileira. A personagem Claire Underwood tinge os cabelos de loira porque o eleitorado feminino a vê como um exemplo de sucesso e beleza, visão que não prevalece quando ela está morena. Entre os homens, a resposta também é positiva; neste caso, a perspectiva da mulher como objeto sexual, como parceira ideal para um comandante competente.

A valorização da aparência, tanto dos políticos como do eleitorado, funciona também como máscara para encobrir os preconceitos de ambos os lados. É bobagem acreditar ou apostar que o eleitorado vota, exclusivamente, por causas coletivas e nobres.

Os critérios são múltiplos e o ato ou não de votar pode ser sustentado pela ignorância (desconhecimento) ou pela intolerância. Motivações pequenas, medíocres ou mesquinhas entram como dados no tabuleiro. O candidato pode representar o para-raios, a projeção do que o eleitor mais detesta em si mesmo, quase como um alvo abstrato. É um instrumento do que o eleitor precisa para si próprio, família e amigos.

Por outro lado, o marketing eleitoral trata - muitas vezes - o eleitor como um sujeito infantilizado, e joga suas cartas na limitação de informações, na preguiça em confrontar dados, em se aprofundar em políticas públicas, estatísticas, projetos e programas.

Ser vago, superficial ou genérico transfere para o candidato o peso da aparência, que pode ser diluído em ingredientes como carisma, beleza ou simpatia. O bom administrador pode ser entendido como tal somente se tiver o dom da oratória.

O eleitor e o político, ainda que critiquem um ao outro, constroem um relacionamento simbiótico, de dinâmica bem particular. Os dois conseguem localizar o argumento que precisam para justificar seu voto ou sua campanha. É só procurar. A interpretação é construída de acordo com a ocasião.

Uma candidata pode ganhar votos por ser feia. Ou não. Um candidato pode atrair simpatizantes por ser magro. Ou não. Um político recebe apoio por ser velho. Ou pode ser visto como ultrapassado, digno de aposentadoria.

Esqueça a fantasia de que, numa eleição, todos estão preocupados com o futuro da cidade ou do país. No jogo de aparências, o espelho é o que separa quem vota ou quem se candidata da urna eletrônica.

Obs.: Texto publicado no site Juicy Santos, em 29 de setembro de 2016.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O emprego mais disputado do ano


Marcus Vinicius Batista

A crise econômica muda as relações de trabalho. Não é momento de escolher um lugar no mercado. É hora de estar empregado, ainda mais com o alto risco de demissão.

O anúncio da abertura de vagas em Santos atraiu gente de todo lado, de todo tipo de escolaridade, religião e experiência. A fila daria volta no quarteirão se o processo de seleção não fosse à distância. Uma série de etapas, com duração de 45 dias. Muitos se preparam há quatro anos; outros se satisfazem em imprimir o currículo.

A seleção envolve entrevistas, dinâmicas de grupo e reuniões com clientes e fornecedores. Não é para qualquer um. Nesta crise, poucas firmas podem se orgulhar da abertura de 21 vagas.

Cerca de 380 pessoas se inscreveram na filial de Santos. A promessa dos recrutadores é igualdade e imparcialidade na escolha dos candidatos. Não é preciso experiência, mas se sabe que - outra vez a crise - há profissionais com 30 anos de estrada. Gente que largou tudo pelo sonho de trabalhar ali.

Não é concurso público. Os contratos são temporários: quatro anos, com chance de renovação pelo mesmo período. A instabilidade é compensada pelo horário flexível, folgas nos finais de semana e férias duas vezes ao ano. Horário, horário mesmo!, só duas vezes por semana, ainda assim no final da tarde, depois das 18 horas. Dá até para conciliar com outra atividade para engordar o orçamento em casa.

A firma permite que o funcionário escolha não apenas os projetos nos quais pretendem trabalhar, mas também defina sua equipe de trabalho. A firma garante que o mérito prevalece e que eventuais repetições de sobrenomes são meras coincidências.

Além dos benefícios, o salário é único no mercado. Hoje, o contratado recebe, assim que entra na firma, R$ 9.938,34. Só que este processo de seleção, com início de trabalho em janeiro de 2017, prevê que os vencimentos pulem para R$ 12.091,71. O sujeito, antes de assinar o ponto pela primeira vez, já recebe um aumento de 22%.

Impressionado com o emprego? Os atuais "colaboradores" garantem que o salário poderia ser maior. Eles fizeram o favor de preservar o caixa da firma e o bolso dos clientes. Um vereador, por lei, pode receber até 60% da remuneração de um deputado estadual. Ou seja: R$ 15.193,35.

Como dizem as cartilhas, é nas crises que nascem as oportunidades. Para poucos!

Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 29 de setembro de 2016.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

O candidato-slogan



Marcus Vinicius Batista

"Eu sempre estive presente. Meu compromisso é de luta, pela saúde, pela educação e pelo emprego. Mas também trabalho, incansavelmente, em defesa da família e de Deus. Sou a renovação, a mudança para o novo.

Sou um homem de ação, que apresenta a você um jeito diferente de fazer política. Vou renovar com seriedade, não de qualquer jeito. Sem promessas, apenas trabalho. É meu compromisso atuar sempre pelo social.

Conheça minha força, a nossa força, porque juntos somos mais pela nossa cidade. A cidade, afinal, bate em nossos corações. Faço tudo por ela, farei tudo por todos! Na verdade, já fiz e farei muito mais!

Chegou a nossa vez. Vou trabalhar com dedicação e trazer os resultados que a cidade precisa. Comigo, a cidade será forte, vai avançar e será inovadora. Sou a criatividade, a sinceridade e meu compromisso é com a verdade.

Trabalharei sem medo, a favor da população e contra a corrupção. Eu tenho garra e, por isso, levarei a cidade para frente. Juntos, o futuro será aqui. Pode acreditar que farei o bem e jamais olharei a quem. A cidade é de todos nós.

Sou a mudança. Venha fazer parte dela, conosco. A cidade será forte, com ação e compromisso público. Ela merece mais. Ela merece menos promessas, merece mais comprometimento. Somos a força da educação. Mais do que ser o amigo da educação, serei o amigo da família.

Tenha certeza de que sou confiável. Vamos em frente porque a confiança está acima de tudo. Diga sim para a nossa cidade. Liberte-se e pense comigo.

Sou a segurança. Trabalho pela segurança. Vamos brilhar juntos nesta mudança. Sou do bem. Você pode me conhecer e compartilhar essa esperança de levarmos o novo para a política. Governaremos com amor, pois sou um homem de palavra, cercado por mulheres de ação, mulheres de peito.

Vote consciente! Vote em mim!"

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Observação: caro leitor, você estranhou esse texto? Ele é somente uma coletânea de slogans de candidatos a prefeito e a vereador de cidades da Baixada Santista. Entre as rimas pobres, você identificou algum deles? Um texto oco para promessas vazias.

* Texto publicado no Diário do Litoral, em 25 de setembro de 2016.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O efeito Carina

Lula e Carina Vitral, na convenção, em Santos. Qual é o peso do PT?
Foto: Agência PT

Marcus Vinicius Batista

A candidata Carina Vitral (PC do B) consegue estar em dois lugares ao mesmo tempo, na corrida eleitoral. Mas ambas as posições, se observadas em conjunto, indicam que a candidatura enfrenta dificuldades.

Carina aparece em segundo lugar em quase todos os momentos, com variação de 5 a 8% das intenções de voto. Se a vice-liderança não refresca em nada o cenário de reeleição do prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), Carina poderia compreender que a segunda posição a aprova para uma candidatura ao Poder Legislativo, em 2018.

O que inviabiliza a candidatura de Carina Vitral à Prefeitura de Santos é um detalhe que faz a diferença na urna. Na pesquisa Enfoque Comunicação/ Jornal Boqnews, Carina lidera, de forma escandalosa, a rejeição dos eleitores. Em outras palavras, 37,7% dos entrevistados jamais votariam nela. Ela só perde para os indecisos, que somam 39,2%.

O prefeito, por exemplo, apresenta rejeição de 7,4%, um quinto do índice de Carina Vitral. Na sequência, vem Marcelo Del Bosco (PPS), com 2,9%. Daí para baixo, até chegar em Hélio Hallite (PRTB), o último da lista de rejeição, com 1,1%.

O que leva parte do eleitorado santista rechaçar a candidatura dela? Carina cometeu seus próprios pecados, mas também paga pelas heresias alheias. A candidata do PC do B é alvo de preconceito, por exemplo. Os eleitores mais velhos e de classes mais altas a enxergam como inexperiente e jovem demais para comandar a cidade.

Essa posição é interessante, pois esconde outros estigmas. Se compararmos, o atual prefeito não tem 40 anos e venceu a primeira eleição, para deputado estadual, com menos de 30, quando assumiu secretarias estaduais no governo Geraldo Alckmin.

O pacote se acentua com informações como tempo de vida universitária na PUC-SP, voz infantilizada ou não morar na cidade. Tudo é perfumaria para mascarar a essência da rejeição.

Carina Vitral paga a conta por causa do apoio do PT. Não é o PT em Santos, mas a instituição nacional. É importante ressaltar que o candidato à vice, Reinaldo Martins (PT), não tem peso nesta história. Ele é visto como um sujeito de comportamento irretocável, de vereador à secretário municipal.

Telma de Souza, a maior liderança local e articuladora da candidatura de Carina, traz consigo alto índice de rejeição. No caso dela, irrelevante para uma candidatura à vereadora, mas uma indireta para Carina.

Se a aliança com o PT deu visibilidade à Carina Vitral, o mesmo motivo a tornou telhado de vidro. O apoio da UNE ao governo Dilma também colaborou para o entendimento de que a candidata é petista. Isso numa cidade (ou parte dela!) que não elege o PT desde David Capistrano.

A campanha de Carina também perdeu tempo em explicar as origens dela e em ataques à gestão atual. Isso atrasou a construção de uma imagem como alternativa, que fosse capaz, inclusive, de diferenciá-la dos demais concorrentes, que - por razões óbvias - batem na mesma tecla.

Carina Vitral é uma personagem interessante para reflexão nesta disputa previsível. O problema é que ela talvez tenha escolhido os amigos errados, na visão de boa parte dos eleitores.

domingo, 25 de setembro de 2016

O leite esquenta, mas não queima



Marcus Vinicius Batista

A campanha para prefeito de Santos correu morna até essa semana. Até que brotou um vídeo que denuncia a existência da compra de apoio por parte da administração municipal. O vídeo mostra o ex-ouvidor municipal Flávio Jordão falando sobre a compra de integrantes de dois partidos, que seriam recompensados com cargos na Prefeitura.

O vídeo circulou na Internet e foi divulgado pela imprensa local. O material esquenta - mas nem tanto - a corrida eleitoral, que entra nos últimos 10 dias. A primeira sensação é de que o vídeo se mostra insuficiente para alterar o estado de coisas, que caminha para a reeleição de Paulo Alexandre Barbosa.

A denúncia também permite reflexões sobre as reações da classe política e, principalmente, de parcela do eleitorado. A primeira delas é óbvia: os assessores de Paulo Alexandre Barbosa e do PSDB foram para o ataque. A estratégia abriu duas frentes. De um lado, diminuir e desmerecer a denúncia, qualificada como "campanha suja".

De outro, entrar na Justiça para contestar o vídeo. O próprio ato de transformar um fato político em judicial cria o verniz que ameniza o impacto da notícia. O foco se desvia e outros assuntos surgem na pauta, que tornam a gravação em si um ator coadjuvante. A Ética, então, é rebaixada à figurante.

O vídeo tende a soar como fato isolado, sem outros temperos suficientes para atrair a atenção de um eleitor acomodado, confortável e disposto a não se arriscar como novos nomes, um tanto quanto parecidos numa leitura superficial. Este eleitor não procura informações num misto de descrença e desconfiança.

O vídeo tem o poder de sacudir quem já tem calafrios com nesta eleição. Falo dos eleitores iniciados, de oposição declarada, de olhar dissonante numa cidade em ponto morto. O eleitor médio, vamos dizer assim, é - em termos históricos - capaz de perdoar o que julga "pequenos" deslizes, diante de um bem maior, ou seja, sua própria visão de cidade, de política e de benefícios públicos. As pesquisas eleitorais, sem exceção, apontam para uma postura - da maioria de eleitores - de ojeriza ao conflito, à desavença, à necessidade de colocar perspectivas diferentes numa balança e refletir a respeito.

Esta denúncia se parece com o leite que esquentamos na panelinha velha antes de dormir. A bebida ficará morna, não queimará a língua e jamais vai transbordar porque não ferveu. Mas, como diria minha avó, onde há fumaça ...

Obs.: Texto publicado no Diário do Litoral, em 22 de setembro de 2016.