Marcus Vinicius Batista
Caro estuprador não intencional,
Maldita imprensa competente que resolve divulgar as coisas que deveriam ficar nas sombras! Mas, pensando bem, você acaba de receber uma notícia daquelas que valem o ano, que valem a sua liberdade. Desculpe-me, vai, temos que nos descontrair. Até porque as pessoas levam essa história de violência sexual muito a sério.
Os homens não sabem o que fazem, já dizia a velha frase. Os outros homens, aqueles que têm dinheiro, status, amigos poderosos. Esses se arriscam demais. E nos chamam quando a coisa esquenta. Tá cheio de câmeras por aí. Tá cheio de gente cheia de razão e queixas – principalmente essa mulherada ativista com falta de louça para lavar.
Somos a exceção. Nós protegemos vocês. Nós somos homens com H maiúsculo. E protegemos com intenção mesmo, alegando justamente o contrário para acolher vocês, chamados de estupradores por uma sociedade cheia de moralismo quanto ao sexo.
Nós não somos apenas bons de lei. Somos bons de lábia. Somos criativos a ponto de distorcer a própria lei e fingir que há outra que não existe. Dominamos as palavras. Viu nossa criação: ESTUPRO CULPOSO. A contradição em si vira expressão única, sinônimo de machismo, privilégio, mas também de consciência e lealdade de gênero. Estupro Culposo tem que ser escrito em letras garrafais, tamanha a genialidade do nosso Frankstein de terno, gravata e toga.
No entanto, saiba que toda palavra é letra morta – sempre quis dizer isso – sem o teatro do absurdo. Se você não sabe, é um modelo teatral mesmo – essa não inventamos -; apenas distorcemos o conceito a nosso favor.
Nós nos revezamos no palco em três personagens. Um cria o termo, o outro fica em silêncio ou – no máximo – chama a atenção com polidez. E o terceiro...Ah, o terceiro é carrasco e executor. Faz o trabalho sujo para limpar a casa. Aquele quem coloca a mulher no seu devido lugar. De novo. De novo. E de novo. Sacou o erotismo desta sequência? Como você fez quando ela também fez seu teatrinho. Como não queria se estava lá? Então ficasse em casa!
Você apenas atendeu seus desejos, estimulados por ela, claro. Olha as fotos que posta nas redes sociais. Tá querendo o quê? Olha as roupas que usa, a maquiagem, o cabelo, o andar, como fala e sorri com as amigas. Tá querendo...E você, qualquer que seja você, um dos 135 supostos agressores diários no Brasil, não faz com intenção. São as intenções da natureza humana, é preciso dizer o óbvio. Você, redundante dizer, é vítima da sedução da carne. Da sedução de quem estava com más intenções.
Meu caro estuprador, você não tem culpa de a sociedade ser assim. E nós estamos aqui para ajeitar tudo, corrigir a rota, fazer Justiça, colocando os nomes corretos nas ações e, principalmente, nas pessoas envolvidas. Você pode ter algum trabalho, passar algum sufoco, ouvir umas besteiras desta mulherada, mas é parte do jogo. Não se mantém tudo como sempre esteve sem algum esforço, habilidade, talento e união.
No final, costuma dar certo. Batemos o martelo: a culpa é da vítima!
Atenciosamente, Clube dos Machos – sub-sede Santa Catarina
Parabéns Pestana. Muito bom, apesar de um tema triste.
ResponderExcluirNauseante... Toda essa história só escancara que há ainda muito caminho a percorrer...
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