domingo, 29 de maio de 2016

O diabo e o PT



Marcus Vinicius Batista

O pacto durou mais do que se esperava. Normalmente, o diabo segue o padrão burocrático dos contratos e vem buscar a alma depois de 10 anos. No caso do PT, foram 13 anos e quatro meses. Talvez uma brincadeirinha do tinhoso com a sigla do partido.

Agora no inferno, o PT tenta curar as próprias feridas. Ficou quase duas semanas em silêncio até que o presidente Rui Falcão deu sinal verde para as críticas ao governo Temer. Uma bravata do tipo "ruim conosco, pior com eles."

O problema é que parte do novo organismo é reciclagem do corpo morto. O PT não tem mais de recolher os cacos para as eleições municipais. O partido vai se apequenar em todo o país. Aí talvez esteja o aviso para o início do tratamento, a aplicação de injeções contra a bipolaridade.

O PT precisa voltar ao século 20. À estaca zero. Isso implica em várias dosagens de remédios diferentes. A primeira delas talvez seja a mais dolorosa: encostar as velhas lideranças. Publicamente, pode ser uma saída honrosa para a turma que achou que participar do jogo significava ser o dono do tabuleiro. Será que o PT aprendeu a lição depois de 13 anos?

Frequentar a mesa das velhas oligarquias, dos velhos coronéis nunca deu margem para ser um deles. O PT quis ser como eles, em nome do palavrão governabilidade e acreditou na bajulação de quem seduz como natureza da própria existência.

As lideranças atuais enterraram o partido. Classificar o PT como esquerda é olhar pelo espelho retrovisor. A condução da economia atendeu e estendeu o governo anterior. Houve avanços nas políticas sociais, mas a política ambiental foi mais pró-concreto do que com os antecessores.

O PT se vê diante da mesma encruzilhada onde assinou o pacto com o diabo. De um lado, fantasiar-se de oposição burra, com os mesmos atores, invejosa dos privilégios que o poder dá, corrompe e toma de volta. De outro, demolir a casa para voltar às origens de alternativa real para a política brasileira. Talvez os tumores sejam grandes demais para uma remoção cirúrgica. Cuidados paliativos para uma morte confortável?

Os pessimistas falam em extinção do partido. Os otimistas - que costumam ser sinônimos de mal informados - apostam na ressurreição, com respeito aos militantes históricos. Mas muitos deles foram espirrados a partir de 2005 quando o mensalão indicou os primeiros sinais de cheiro de enxofre.

O PT não parece, na ressaca Temer, estar disposto a sangrar a própria carne. Ainda sonha, sem falar sobre isso, com o fracasso do governo interino, que seria a prova viva de que Lula retornaria como o salvador da pátria, o messias que hipnotiza as plateias com meia dúzia de palavras de ordem. Mas Lula não é o maior símbolo de quem caiu em tentação?

De tudo isso, resta a ironia que dá prazer ao diabo. Ao assinar o pacto 13 anos atrás, o PT jamais imaginaria que cederia seu lugar para o próprio comprador de sua alma.

sábado, 28 de maio de 2016

Vítima, seu destino é ser culpada


Marcus Vinicius Batista

Sejam 30, 33, 36 ou apenas um agressor sexual, matemática e estatística confirmam o que qualquer pessoa, com o mínimo de decência, tem que saber:

a) estupro é epidemia social em todo o mundo. Esqueça dinheiro, desenvolvimento social ou religião;

b) o machismo não é apenas a única causa, vem acompanhado de impunidade e conivência, inclusive feminina. Há toneladas de pesquisas que indicam o fator impunidade como estímulo à prática do estupro;

c) o sistema de segurança pública, no Brasil (e só para falar daqui, porque o tal primeiro mundo também patina no tema), é falho e estimula seus profissionais a diminuir a importância de um crime que devasta física e sexualmente a vítima, independentemente de seu gênero. Os homens se calam e não vão às delegacias; as mulheres enfrentam mais um degrau na escada da humilhação, de hospitais a postos policiais.

O Rio de Janeiro simboliza o despreparo dos agentes policiais e políticos para combater a violência sexual. Já passou da hora de se perceber que cartazes em ônibus ou em padarias, que telefone para denúncias são esparadrapos para conter a sangria de um ferimento de fuzil.

É claro que um número para ligações tem que existir, mas de que adianta se delegacias especializadas para mulheres fecham em finais de semana em muitos lugares. Muitas cidades sequer possuem essas unidades.

Mais grave é o despreparo de policiais para lidar com o crime sexual. Insensibilidade, proteção ao agressor, redução da vítima à culpada são características de policiais em diversos países. E policiais não são exclusivos. Você se lembra da adolescente que passou 15 dias com duas dúzias de homens numa cela no Piauí? Então, a juíza responsável pela medida acabou promovida depois das denúncias.

Não entendi por que, até o momento, o caso da adolescente estuprada no Rio de Janeiro segue sob investigação da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, e não da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima. As evidências apontam para a desumanização dos policiais e para as humilhações em torno da vítima.

Se a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática precisava de réu confesso, já tem pelo menos um deles, que veiculou um dos vídeos na Internet. Por que, até o momento, celulares e outros equipamentos envolvendo os depoentes não foram apreendidos para averiguação? A função desta delegacia acaba aí.

Por que os políticos cariocas - leia-se Governo do Estado - tão presentes diante das câmeras para falar de combate ao tráfico, UPPs e de segurança nas Olimpíadas sumiram por encanto? Nenhum deles vai bater na mesa, tomar as rédeas e colocar o problema no topo da lista? Ou os engravatados preferem esperar que a história entre para a História com o devido esvaziamento de importância?

O estupro psicológico se agrava na forma que os policiais conduzem o processo. Três acusados foram ouvidos, obviamente negaram e foram liberados. Não apontaram outras pessoas? Não explicaram em detalhes o que fizeram naquele período de dois dias? Não houve contradição alguma entre os depoentes? Nada?

Impressiona também a velocidade com o delegado responsável pelo caso colocou em dúvida a versão da vítima. O que houve ali, então? O que as imagens mostraram, uma pegadinha do Malandro? Como acreditar assim tão rapidamente em uma das versões, todas masculinas, e descartar, por tabela, a história da vítima?

O depoimento da adolescente de 16 anos é outra aberração jurídica. Como um garota, vítima de estupro - e mesmo que não o fosse -, é ouvida numa sala com quatro policiais homens presentes. De que adianta uma psicóloga e uma delegada perante um constrangimento desta ordem?

O delegado Alessandro Thiers declarou à imprensa que a adolescente precisa passar pelo exame de corpo de delito. Agora, uma semana depois? O que ele pretende encontrar, que tipo de vestígios, fora as imagens e depoimentos?

O delegado e seus superiores se arrastam para fingir que cumprem a legislação. Em 2009, o Código Penal foi alterado, e atos libidinosos - além da conjunção carnal - passaram a ser considerados crimes de estupro. A lei é semelhante a dos Estados Unidos que, diferentemente, chama de relação sexual não consentida.

O caso do Rio de Janeiro engordou a lista de histórias que percorrem o mundo. E, em todas elas, prevalece o espírito masculino de dominação, manifestado no constrangimento criado pelas autoridades policiais, simpáticos com os agressores e desconfiados da vítima.

Afinal, ela pode ter inventado tudo. No Brasil, não existem dados sobre isso. Sabemos que apenas 35% dos casos são reportados às delegacias. Mas os Estados Unidos têm: somente 1,8% das acusações de crime sexual foram inventados pelas supostas vítimas, quase sempre para esconder traições.

Eu me pergunto: esconder traição com 30 homens? Só a falta de humanidade para crer nesta hipótese.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Notórios e notáveis


Marcus Vinicius Batista

Ainda não sei se prevalece a soberba ou a negligência, mas o fato é que o ministério de Michel Temer se tornou capaz de gerar más notícias todos os dias. São incêndios que poderiam ser evitados se o grupo de "notáveis" não se comportasse como um mero grupo de notórios, o que são de fato, conhecidos - em sua maioria - pela imagem carcomida na política.

O último episódio foi a visita de Alexandre Frota, mais a turma do Revoltados Online em pequena participação na cena midiática. Soou como piada pronta a presença de Frota e sua lista de propostas para a Educação brasileira. Um encontro que poderia ser evitado, ainda mais pelos motivos que o levaram a acontecer.

Toda ação política, já pregava Napoleão Bonaparte há 215 anos, precisa de uma avaliação das consequências sobre a chamada opinião pública, expressão essa mais moderna. A tentativa de agradá-la, seduzi-la e domesticá-la é parte da cartilha da propaganda política. Todo governo, pensando aqui de maneira maquiavélica, precisa parecer bom.

É óbvio que parte da imprensa olhará o governo sempre pelo prisma negativo, seja por má fé, seja porque ainda respira a velha máxima do jornalismo como fiscalização do poder. Neste caso, uma minoria, reconheçamos. Mas uma imprensa amiga não basta se o próprio governo, por meio de seus ministros, não colabora.

Houve fatos previsíveis, como as denúncias e a indústria de vazamentos contra membros do primeiro escalão. Não há como se surpreender com a exposição de políticos da velha guarda diante de notórias investigações contra eles. Romero Jucá que o diga! Aliás, a comunicação do Governo tentou encobrir, de maneira amadora, a saída do ministro ao usar a palavra "afastamento", em vez de "demissão". Jornalistas trouxas ou mal versados no idioma engoliram sem mastigar.

É o preço também da convivência com velhas raposas, como José Sarney, que nunca deixou os corredores do poder, lugar que frequenta desde 1955. Não seria agora se abandonaria o osso. Temer, político das sombras desde a década de 60, talvez não esteja acostumado com os holofotes que ficam ligados sobre a presidência como reality show 24 horas. É outro exercício de poder, caro ex-vice-presidente.

O problema se dá em outra ordem. Os ministros não seguem as orientações da presidência. Cada um faz o que quer no relacionamento com a mídia. Na prática, são deputados federais de baixo clero embriagados com a visibilidade repentina. Uma coisa é o blablablá de um parlamentar de pequena relevância. Outra coisa é a enxurrada que o palavrório de um ministro pode provocar.

Não se vê uma cartilha de posições conjuntas e coerentes. Ministros se atrapalham em entrevistas, tagarelam demais e obrigam a Presidência da República a uma operação abafa todos os dias. Quando começarão as sessões de midia training?

O Ministro da Saúde, Ricardo Barros, foi um exemplo de falta de treinamento para lidar com a imprensa. Além de dizer que o SUS precisava diminuir de tamanho, Barros estava mal informado sobre os limites da Constituição Federal a respeito do tema. O equívoco avolumou a atenção sobre ele, que defendeu ainda a fiscalização menos rigorosa sobre planos de saúde. O maior doador de campanha dele é presidente de uma empresa do setor. A imprensa só juntou lé com cré.

O Governo Temer não soube lidar também com a polêmica em torno do Ministério da Cultura. Diante de um argumento pífio, a redução de gastos cortando uma pasta que significa 0,38% das despesas, Temer reforçou o olhar feio de artistas para a quase ausente política pública para a área.

Acuado, o presidente nomeou um diplomata desconhecido fora do Rio de Janeiro e assinou embaixo o erro quando retomou o status de Ministério. Crise que poderia ter sido evitada. Sorte dele que os cientistas não têm a mesma habilidade para a comunicação.

Compreendo que seja difícil estabelecer uma estratégia eficiente de comunicação quando o governo provisório-definitivo é uma colcha de retalhos em nome do palavrão governabilidade. Na prática, qualquer presidente - e Temer não seria diferente porque é cria do modelo - precisa de coalizões para governar. Dilma, salvo a crise econômica, apanhou toda a vida de um Congresso com 28 partidos, clientelista e afundado em corrupção. Os cúmplices traíram o Governo.

Os ministérios de Temer foram distribuídos por critérios político-partidários, em acordos que se mostram cada vez mais transparentes, a cada gravação que cai no colo da imprensa. A negatividade do processo político é inerente às reações de um governo que entrou pela porta dos fundos, pelo menos a parte que embarcou de carona. A outra parte já estava por lá, no lamaçal.

O Governo Temer deveria prever que a fase é de transição. Que a escolha de figuras notórias, e não notáveis, geraria um impacto de difícil controle. Mas optou por assumir risco mediante os interesses em torno da tomada de poder.

O presidente interino foi à TV para pedir para paz no trabalho. Isso não acontecerá tão cedo. Ele não tem carisma tampouco legitimidade, pois está conectado - na visão de parte da opinião pública que queria a saída do PT, mas tolera a corrupção por afinidade ideológica - ao governo anterior. Temer virou alvo para adversários e para os hipócritas.

Parte da imprensa vai bater nele porque é de sua natureza. A turma da bajulação permanecerá por mais algum tempo alimentando a polarização mortadela-coxinha, impeachment-golpe, pouco vale o nome para a cortina de fumaça.

A questão não é essa. A situação seria um pouco melhor se o fogo amigo ficasse sem munição. Além das denúncias de corrupção já sabida, Temer ainda precisa pegar a mangueira para abaixar a chama da arrogância e da vaidade de membros da gangue, convidados por ele para se sentar à mesa. Esperava mais do poeta-presidente.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Os donos do Congresso




Marcus Vinicius Batista

A história começa assim: política se faz em casa, em família. O político novato herda os contatos do pai, que exerceu algum mandato na vida e, mesmo sem o poder do voto, segue influente no curral. O filho, porque política é coisa pra homem, sobe os degraus a passos de quatro anos.

O primeiro passo pode ser a vereança ou até a prefeitura de uma cidade pequena. Ali, aprenderá como domesticar os aliados e açoitar a oposição, como controlar o Poder Legislativo com o troca-troca de privilégios. Saberá também como fatiar secretarias e departamentos, como destinar aos amigos o poder do segundo escalão, aquele que fica mais perto do dinheiro. Felicidade geral e irrestrita.

O conhecimento sobre o Poder Legislativo é vital, pois o político em formação precisa compreender que os degraus acima, para a maioria, são os parlamentos. Uma década, 12 anos depois aproximadamente, o sujeito chegará à Assembleia estadual. Reforça seus conceitos e práticas, saltará de partidos conforme os ventos políticos e sonhará com o paraíso, a Câmara Federal.

Nos últimos acordes do sino das urnas, o político em ascensão trocará de partido, seja para integrar uma bancada mais rígida, da bala, da Bíblia ou das duas coisas, e se encostará em um puxador de votos. Chegará à Brasília pela carona da matemática, ficará mais perto do papa-presidente e, como novato no cerrado, integrará o baixo clero. Ganhará um salário inimaginável para um emprego privado, apartamento, carro e passagens aéreas. Pra que roupa lavada, embora incluída na conta?

A Câmara Federal eleva seu poder sobre o curral, o que realmente interessa e que renovará seu destino, mais próximo dos cardeais. Além disso, a distância o protegerá das pressões locais e, mais do que isso, dos pecados cometidos, daquelas denúncias que passarão em primeira instância, mas que morrerão por influência nas gavetas, consequência da capacidade dele de se relacionar com o cardeal certo.

Ser do baixo clero não significa visibilidade. Pelo contrário, as sombras são o melhor refúgio. Na caverna, torna-se possível ficar anos na Câmara Federal sem apresentar projeto de lei algum. Marco Feliciano, Jair Bolsonaro, entre outros, sobreviveram anos a fio sem apresentar propostas. Basta o faro para polêmicas, caso deseje ficar mais famoso.

Um homem do baixo clero pode se encostar em comissões. Elas vivem de bravatas, pouco produzem, existem para travar, engavetar e reforçar a tropa de choque anti-Poder Executivo. Qualquer presidente que se preze - ou que seja um refém obediente - enviará intermediários (sinônimos de ministros ou líderes do Governo) para negociar resgates. Quem sabe até a relação não se transforme em Síndrome de Estocolmo, com a simpatia da vítima pelo agressor?

A ceia de Natal para um político do baixo clero é o orçamento. Os punhados de ração para o curral são distribuídos neste momento. Um deputado da base se alimenta politicamente das emendas parlamentares. Uns milhões para uma escola ali, outros para um hospital acolá. Nada de fiscalizar o caminho da grana, que sempre chegará mais minguada ao destino final. É só aparecer para cortar a fita da obra atrasada, suplementada em termos financeiros e sujeita a reformas em poucos meses.

Michel Temer é o refém da vez, assim como Dilma o foi. Lula soube acariciá-los. O telefone para negociações segue nas mãos de Eduardo Cunha, espírito que resiste aos feitiços institucionais. O novo líder da Câmara é André Moura, deputado sergipano do PSC. Partido, aliás, que possui somente nove dos 513 deputados federais. Nove!

André Moura, salvo ligeiras licenças poéticas, se encaixa no perfil acima. Soldado do Cunha, ele foi escolhido após a entrega de uma lista com 300 parlamentares que o apoiavam. PMDB, PSDB e DEM eram contrários, mas engoliram a seco, assim como o presidente interino. Resultado: um deputado que responde a processo por tentativa de homicídio, em segundo mandato - o segundo conquistado na base da liminar -, e inexpressivo na rotina parlamentar, é o novo líder do Governo na Câmara.

Aposto que, ao ler este texto, você pensou em outro deputado, da sua região. Pode ser! No baixo clero, as semelhanças são mais fortes do que as diferenças. O grupo na base de somos todos um só.

domingo, 15 de maio de 2016

Beto, o empreendedor

O deputado Beto Mansur se torna um visitante importante no Palácio

Marcus Vinicius Batista

O deputado federal Beto Mansur é um empreendedor político. Como empresário com investimentos em diversas áreas, da comunicação ao agronegócio, o ex-prefeito de Santos levou para a política sua melhor qualidade: o senso de oportunidade.

Mansur tem a capacidade única de pressentir o rumo da ventania e se colocar a favor dela sem precisar se agarrar em postes. O deputado notou, por exemplo, que o mar no litoral de São Paulo está de ressaca nos últimos anos. Assim como fez como investidor em áreas agrícolas, Beto aproveitou a baixa umidade do cerrado para semear e, depois da entressafra política, colher.

O deputado apareceu na maioria das fotos do presidente Michel Temer. Era o resultado de uma costura política iniciada lá atrás, quando o impeachment de Dilma Rousseff começava a se desenhar. Beto Mansur aprendeu, talvez com derrotas eleitorais em Santos, que ganhar eleição não significa ter poder.

Poder tem a ver com senso de oportunidade, de estar bem posicionado na fotografia oficial. Poder é a percepção crua do momento exato de aparecer à luz e o instante de apenas sussurrar de dentro da caverna, de dentro da toca.

Ao contrário do presidente decorativo da Câmara, Waldir Maranhão, jogado ao fogo quando criou uma cortina de fumaça para proteger Eduardo Cunha, Mansur soube se desconectar de mansinho. Visitou o (ex)amigo moribundo político - ainda que por hora -, evitou conflitos e permaneceu diplomático como 1º secretário.

A estratégia funcionou. Waldir Maranhão está isolado. A tentativa de travar o processo no Senado soou como o grito de um homem louco, mesmo que se saiba que ele era o estandarte de um grupo, que se desintegrou nas sombras.

Beto Mansur colocou as mãos para trás e assistiu ao colega ser queimado vivo. Com a maré favorável, ele se aproximou de Temer, entrou pra turma, virou o interlocutor do presidente na Câmara Federal e pregou, aos quatro ventos, que o Brasil vai dar certo.

O ex-prefeito de Santos é o deputado de 31 mil votos. Se antes andava de carona na carruagem eleitoral de Paulo Maluf, Beto soube trocar de cocheiro e acabou eleito via simbiose de votos de Celso Russomano, já deixado de lado no reino do Poder Legislativo.

Mansur agora é amigo do novo rei. Poder, imagino que ele tenha aprendido, não significa ser o centro das atenções, que pode atrair pedradas no telhado. Poder é estar ao lado, bem pertinho do centro, mas protegido pela quase imunidade do abrigo contra vento noroeste.

O radar por oportunidades indica, para Beto Mansur, que não há necessidade de ser o presidente da Câmara Federal. O sinal foi o anúncio de trégua entre o novo presidente da República e Waldir Maranhão. Que ele fique como alegoria política, enquanto quem conversa com Temer é o 1º secretário.

Na política, o poder não é do cargo, mas de quem - de fato - governa. Beto Mansur é, reconheçamos, um sujeito que sabe agarrar uma oportunidade. Ele só deve temer a própria vaidade.

sábado, 14 de maio de 2016

Decepção e medo


Marcus Vinicius Batista

Este texto, aviso logo, não é uma análise política, que busca racionalizar e ponderar sobre o momento do país. Este texto é um depoimento, uma forma de colocar para fora angústias e ansiedades da única forma que sei fazer. O motivo para escrevê-lo é perceber, por todos os lados, que estamos diante de um cenário cinzento com poucas chances de mudança. O cerco é de gente com roupas e cabeças velhas, praguejando mais do mesmo.

Um vizinho, há poucos dias, perdeu o emprego. Sujeito competente, com 20 anos de experiência em grandes empresas. Havia perdido outra vaga no começo do ano e se recolocado menos de 15 dias depois. Julgava-se com certa proteção, olhando a instabilidade do lá de cá do muro. Agora, a esposa dele se pergunta como pagarão as contas, quanto tempo ele levará para conseguir trabalhar novamente.

Esta manhã, soube que outro amigo também perdeu o emprego. Mais de 50 anos, uma filha adolescente. A família não tem reservas financeiras para dois meses. Outro amigo, bem mais próximo, está em vias de perder um de seus três trabalhos. Trabalha todos os finais de semana para amenizar o impacto do dinheiro que se espreme mensalmente. As contas vão bater na porta com mais força. Dois filhos adolescentes.

Eu tenho dois empregos, fora um terceiro trabalho eventual. Compreendo claramente que são os caminhos que a classe média encontrou para dar conta do tranco, vivendo em uma cidade-fantasia como Santos. É a saída para sofrer menos. Aqui, muitos fingem sorrir nos jardins da praia, pregam estabilidade financeira no shopping, enquanto passam de segunda à sexta negociando com credores, chorando crédito bancário ou saltitando de um cartão para outro.

Vejo a crise dormindo ao lado da cama, mas não no debate insosso de quem grita mais alto. Vejo a crise na padaria da esquina, na feira livre aos sábados, no supermercado para as compras do mês que duram 15 dias. Vejo a crise na permanência maior dentro de casa - sair resulta quase sempre em gastos. Vejo a crise nos olhos da minha mulher, Beth, e nas contas feitas e refeitas quase que diariamente.

A crise não se alimenta somente da baboseira política. Ela mora no preço do limão que custa R$ 2 hoje, R$ 4 amanhã e R$ 6 depois de amanhã, para depois voltar a R$ 3 como se fosse promoção. A crise está no preço da dúzia de ovos - um dia comer pão com ovo foi sinal de má condição financeira -, que pula de R$ 3 para R$ 6 em uma semana. A promoção fala em R$ 5.

A crise se esconde no fedor do cheiro do peixe, que pagamos R$ 24 o quilo para levar seis filés para casa. Na cebola que faz chorar no mercado, do tomate que frequenta minha cozinha se revezando com a cenoura. No frango e na linguiça, amigos de duas, três vezes por semana, porque a carne bovina viajou sem dizer quando retorna.

Estou cansado desses sujeitos que ficam se alimentando de um debate estéril, daquelas conversinhas em ambiente de trabalho cujo exercício matinal é falar mal do PT como a origem, o fim e o meio de todos os males. Cansa a má fé de quem pouco se interessa com o mundo além do umbigo e acha que política se resume a ganhar a conversa. O PT, caros amigos, é culpado sim, mas tem muitos cúmplices, muitos deles que vocês passam a mão na cabeça como heróis da semana.

Minha cidade está cara demais. Meu bairro ficou caro demais. Sinto que, enquanto todos reclamam das abstrações de Brasília, poucos realmente se movem para que nossos microcosmos fiquem melhores. A receita é entupir o ouvido do vizinho com panelas batendo e, ao mesmo tempo, ligar o foda-se para ele. Prevalece a gritaria real ou virtual, na qual se defende o novo governo para, no fundo, reforçar a desgastada batalha mental sobre o PT. Chato, chato!

A cada vez que tento analisar este novo (velho) governo, fico ainda mais temeroso - foda-se o trocadilho ruim. Meus três trabalhos resultam em quase 50% da minha renda com impostos, e ouço o novo ministro da Fazenda falar em mais tributação. A ressurreição da CPMF. A Receita Federal, sentada na autoimagem de santa, toma cada vez mais dinheiro para cobrir as vistas grossas dos vagabundos que abrem mais empresas de fachada, colocam bens roubados de mim e de outros em nome da mulher, da amante, do filho, do cachorro.

Sinto decepção quando vejo muitos amigos de classe média, felizinhos com o novo governo, sem perceber que a conta ficará mais cara. Que é a mesma turma que fortaleceu a carga de impostos que quase torna a vida impossível no Brasil. Só para vencer a discussão na pelada de final de semana.

A decepção se cristaliza quando noto a justificativa dessa nova gangue no poder porque a gangue anterior saiu pelos fundos. Só que a nova gangue dará continuidade a relação amorosa com o sistema bancário, de juros extorsivos, que impedem qualquer pessoa de avançar ou de empreender (para usar uma palavra modinha). Meus amigos empreendedores de verdade têm permanente expressão de preocupação porque poderiam estar melhor depois de tanta energia e dedicação investidas.

Não tenho empréstimos e pouco sofro com o cheque especial, mas testemunho todos os dias amigos rebolando como dançarina de axé para equilibrar o caixa em casa. Um crime cometido impunemente por bancos e seus gerentes sorridentes - estes apavorados em perder o emprego e escravos das metas -, por todos os governos desde a redemocratização. E tenho o desprazer de testemunhar gente defendendo o novo presidente, sujeito que nada em lama como se fosse piscina olímpica.

Estamos, eu e minha mulher Beth, a apostar numa mudança. Mudança pessoal, com anos de duração. Como jogar fichas no futuro sem não enxergamos o logo ali? Ela, ao ver o noticiário ou ler minhas análises, se irrita. Camufla o medo. Eu escrevo também para domesticar este sentimento, pois sei que está sentado ao meu lado neste instante.

Não temos luz ou mudanças substanciais no horizonte. Estamos de joelhos - não tenho misericórdia por aqueles que o fazem em sã consciência porque desejam ganhar a conversinha do boteco ou no Facebook.

O PT saiu do governo porque meteu os pés pelas mãos, seja na economia - o motivo real -, seja pela corrupção (a mensagem oficial). Mas isso não significa que fomos inteligentes na troca de uma quadrilha por outra. Trocamos o projeto de poder, não a forma de conduzir a economia, com cheiro de convencional e sem ousadia, nas primeiras palavras, nas inúmeras promessas. A inércia das ruas e o silêncio das panelas indicam, em tom crescente, que a corrupção não representava exatamente o problema. Para os decentes, sim. Para os hipócritas ...

Temo por meus amigos que sofrem com a vida mais difícil. Temo pelos próximos meses da vida aqui em casa, como se estivéssemos no escuro, como crianças que esperam o bicho papão bater na porta. Não há perspectivas positivas, há jogos de ilusões. No meio do caminho, um bando de idiotas preocupados em defender turma A ou B para dar a última palavra. Isso não é política, é servidão por analfabetismo.

Este texto é meu remédio para respirar melhor. É minha honestidade intelectual diante do que desconheço, diante de um futuro a curto prazo que me faz perder o sono, me silenciar com as pessoas próximas. Para não arriar, escrevo!


quinta-feira, 12 de maio de 2016

O ministério que aguça a imaginação

A foto do Brasil que muda, mas não sai do lugar

Marcus Vinicius Batista

Depois de ver o novo ministério do novo (velho) presidente Michel Temer, tenho dificuldades para entender o porquê de tamanha surpresa. Temer fez exatamente aquilo que se esperava dele, foi coerente com suas posições políticas, a de seus comparsas e, acima de tudo, com a própria biografia.

Podemos dispensar, de saída, aquela bobagem cega de que a corrupção acabou com a retirada do PT do poder. Duendes e fadas não existem na política, só para quem age de má fé. Sete ministros são investigados pela Operação Lava-Jato, sem falar nos envolvidos em outros escândalos, como o desvio do dinheiro da merenda, em São Paulo.

Apenas imagino quais serão os próximos passos da investigação? Sepultura? Pizzaria? O juiz Sérgio Moro desapareceu dos holofotes há algum tempo.

Peço perdão por te fazer esperar mais um pouco. Vamos pensar no que deixará de existir no novo ministério de Temer. Serei redundante e incisivo: o presidente segue fiel às suas convicções. O Ministério da Cultura, por exemplo, foi extinto, transformou-se novamente em apêndice do Ministério da Educação. Voltamos ao século passado.

Imagino que o setor cultural, sempre o final de fila, o primo pobre no governo do PT, se tornará um anexo burocrático com menos dinheiro ainda. Nada diferente do que acontece em governos tucanos e peemedebistas por aí.

O novo comandante também extinguiu o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. Por que a expressão de espanto? A esposa dele é “do lar”, no sentido decorativo e pré-Segunda Guerra do termo. A primeira-dama clássica, de eventos beneméritos e ações de imagem solidária. Mulheres seriam para cama, mesa e banho, com recato.

Temer não apenas exterminou o ministério, como não há mulheres no primeiro escalão do atual governo. E também não aparecem negros, o que sugere que mantemos a trajetória histórica e política brasileira. Os Direitos Humanos serão diluídos no meio do caminho, nada diferente de quando Marco Feliciano comandou a comissão na Câmara, depois da cochilada e indiferença do PT. Imagino que parte do país acabou de ser riscado do mapa social.

Michel Temer também reduziu o status do Ministério dos Portos à secretaria, digerida pelo Ministério dos Transportes. Na prática, nada muda, não apenas pelo caráter alegórico da pasta, terreno do PMDB, mas porque o presidente continuará a intervir nas relações portuárias, como fazia desde que era deputado federal. Temer, por exemplo, interferia nas escolhas de presidentes e diretores da Codesp, em Santos.

O novo presidente muda para (quase) não mudar. Os ministros são filiados a seis partidos, que faziam parte do governo do PT. A turma continua flutuando por Brasília, como Gilberto Kassab, cacique do PSD. Imagino um barco que perde um timoneiro, o PT, e admite outro por terceirização, o PSDB, farinhas do mesmo saco de modelo econômico ... e de denúncias de corrupção.

No Ministério da Agricultura, saiu Kátia Abreu, uma das lideranças da bancada ruralista e entrou o senador Blairo Maggi (PP), ex-governador do Mato Grosso e diversas vezes denunciado por desmatamentos na Amazônia. Ele é um defensor ferrenho da bancada da soja e do agronegócio.

O novo ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, simboliza a trupe que chega para governar com Temer. Ele foi ministro de Dilma e é investigado pela Lava-Jato. Foi deputado federal por 11 mandatos consecutivos, conhece e frequenta os intestinos do poder, e até 2015 era presidente da Câmara dos Deputados.

A lista é grande. Engenheiro, por exemplo, na pasta da Saúde. Na pasta da Justiça, o advogado Alexandre de Moraes, ex-secretário de Alckmin e de Kassab e amigo de duas décadas do presidente. Quando secretário de Segurança em São Paulo, a violência policial cresceu. Um em cada quatro assassinatos era cometido por policiais militares.

Aqui, é difícil refletir sobre os 23 ministros. Apenas completo a lista com a escolha de Sarney Filho (PV) para a pasta do Meio Ambiente. Deputado no oitavo mandato, ele era líder da bancada do PV na Câmara. Sarney Filho tem histórico de relações com o tema, seja como integrante de comissões no Legislativo, seja como ministro do governo FHC, dentro da cota do extinto PFL.

Não espere por mudanças na política ambiental. A Usina de Belo Monte, aberração criada pelo PT, segue firme e forte e produzirá abaixo da capacidade apregoada pela publicidade oficial.

Imagino que alguém - aquele dos duendes e fadas - possa apostar em diversidade na fauna política, quando - ao esticarmos o binóculo na selva - veremos espécies da mesma família, no mesmo posto da cadeia alimentar.

O próprio slogan do governo Temer fecha a conta do anacronismo. "Não fale em crise, trabalhe!" não é somente a tentativa de apagar ou silenciar o que permeia as padarias, pontos de ônibus, pequenas empresas, a mesa dos brasileiros ou a nota do supermercado. O slogan é o retrato do século 19, daquela mentalidade ultrapassada de ordem e progresso, que nos remete ao crescimento econômico sem se pensar nas consequências. O preço está entre nós.

O ministério de Temer é a cara do chefe. Em idade, em visão política, em ideologia econômica. A diferença é que todos, incluindo o terceiro presidente do PMDB em 30 anos, entraram no governo sem vitória nas urnas. Até o PSDB, de volta ao poder depois de 13 anos. E com emprego garantido para José Serra, o ministro coringa, não na aparência (seria maledicência!), mas porque chefiou as pastas de Planejamento e Orçamento e da Saúde na gestão FHC.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Os "nazistas" e as "crianças"

Cabe a comparação, vice-governador? 

Marcus Vinicius Batista

O vice-governador de São Paulo, Márcio França, não poderia ter sido mais infeliz e inoportuno. Na tentativa de diminuir o movimento dos estudantes, que ocuparam o plenário da Assembleia Legislativa, o ex-prefeito de São Vicente tentou ligá-los ao PT, usando um exemplo que é desagradável para qualquer partido.

França participava de um seminário, em Guarujá, quando disse: "Assim como na guerra, quando os aliados estavam ocupando os últimos espaços dos países do eixo dos nazistas, eles não tinham mais soldados e, por isso, começaram a colocar as crianças para fazer a defesa do Estado, e aí constrangiam as crianças. É mais ou menos a mesma coisa. Não tem mais soldados, daí colocam as crianças para fazer a guerra".

O vice-governador tentou comparar o processo de impeachment com a crise nas escolas técnicas de São Paulo, colocando maçãs e alfaces na mesma sacola. Fora a argumentação frágil, França sentou-se na cadeira da soberba, comum como estratégia política de desqualificar as ações dos adversários.

As declarações precisam ser lidas nas camadas submersas. Ao comparar a ocupação dos estudantes com táticas nazistas, o vice-governador os considera como massa de manobra, grupo incapaz de pensar pelos próprios cérebros, seguidores de uma força maior que os manipula como marionetes no palco do circo.

Considerar estudantes como sujeitos sem crítica soa como ofensa a todo o movimento, que já havia mostrado sua capacidade durante os protestos contra a "reorganização escolar", nome cosmético para o fechamento de escolas estaduais. Mas foram essas "crianças", nas palavras de França, que indiretamente derrubaram o secretário de Educação e fizeram com que Alckmin voltasse atrás em nova tentativa de enfraquecer ainda mais a rede estadual de ensino.

É curioso como setores da sociedade compreendem a classe estudantil. Em tempos de silêncio, muitos adoram dizer que os estudantes são passivos, que perderam a consciência política antes presente no momento histórico da ditadura militar, que não teremos futuros com estudantes despolitizados, entre outras bobagens generalizantes.

Quando os estudantes resolvem tomar as rédeas e fazer o que muitos acomodados e ativistas de sofá não o fizeram, eles viram baderneiros, desocupados, marginais, vagabundos que deveriam trabalhar, entre outros qualificativos. No final, os bipolares políticos pedem a polícia para dar porrada nas mesmas "crianças."

O vice-governador cometeu outro equívoco ao comparar o protesto dos estudantes com táticas nazistas. Não é preciso pensar muito para perceber que a ausência de contexto histórico se apoiava na desinformação. Não há, por qualquer ângulo, como sustentar um paralelo entre os estudantes e as crianças nazistas, no final da Segunda Guerra Mundial. Períodos, locais e processos políticos diferentes, para dizer o mínimo.

Se formos aceitar a argumentação de França, então, poderíamos dizer que deixar as crianças sem merenda é semelhante às crianças judias passando fome nos campos de concentração nazistas? Só a ironia para assimilar uma declaração sem propósito; ou melhor, com o propósito de desinformar e criar polêmica vazia. 

Repetindo a pergunta: cabe comparação, vice-governador?

Além disso, a reação dos deputados estaduais - ágeis na autopreservação e na servidão ao governador Alckmin - me leva a questionar quem estaria com o livro "Minha Luta", de Adolf Hitler, na cabeceira da cama. O Coronel Telhada - que faz questão de ser chamado de coronel, com letra maiúscula - ameaçou com voz de prisão uma estudante que o criticou, que questionou o papel dos parlamentares.

O presidente da Casa, Fernando Capez, promotor que ficou conhecido por fazer cortina de fumaça contra as torcidas organizadas, tomou algumas medidas "silenciosas" contra os estudantes. As medidas, claro, vieram depois da tentativa de usar a PM para retirá-los à força.

Capez ordenou que o ar-condicionado ficasse ligado no máximo, quando a temperatura lá fora estava em 13ºC. O deputado, um dos principais acusados na investigação sobre o desvio da merenda, proibiu que comida, água e cobertores fossem entregues aos ocupantes e que familiares o visitassem. Casa do Povo, como muitos deputados adoraram pronunciar?

Os dois deputados da região, peixes pequenos na lagoa legislativa, nadaram a favor da corrente. Caio França e Paulo Côrrea votaram contra a formação da CPI da Merenda. Apoiaram-se no palavrório-padrão, de que o caso está sob investigação do Ministério Público.

Como saldo do blablablá, Márcio França só acertou em um ponto: acusar o movimento estudantil de politização. Não bastasse o fato de repetir como mantra esta justificativa usada pela corte de Alckmin para tentar reduzir quaisquer questionamentos sobre o Governo, França disse o óbvio. É claro que o movimento é político; caso contrário, não existiria.

Por sinal, França deveria saber - tenho certeza de que sabe - que a lição mais elementar da política indica que todas as ações sociais são ... políticas. Mexer em recursos para a merenda é política. Abafar uma investigação parlamentar sobre o assunto também é política. E adivinha? Falar em técnicas nazistas para menosprezar estudantes seria ... política.

Aos políticos em geral: por favor, não ofendam a inteligência dos estudantes. Eles sabem o que vocês fizeram.