Uma reportagem de 2011, para relembrar |
Marcus Vinicius Batista
O (futuro) presidente Michel Temer nunca foi belo, tampouco se mostrou recatado, embora tente vender a imagem de discreto, e costuma ter vários lares, conforme a força do vento político. Hoje, ele parece estar de mudança, em Brasília.
Temer terá que ser o que nunca foi. De político das sombras, o (ex) vice-presidente terá que assimilar o efeito colateral do telhado de vidro. Esconder-se atrás de cartas, áudio ou livros de poemas dará lugar a uma rotina que abriga de tudo, menos o papel decorativo.
Cada vez que penso em Temer penso em minha cidade. Por muitos anos, o vice-futuro-presidente foi meu vizinho. Daqueles que nos visitam de vez em quando, mas sempre dão as ordens, mais pelo telefone do que olho no olho.
O Porto de Santos é um dos resorts de Temer há mais de duas décadas. Pouco importa a cor do presidente em exercício; a Codesp tem um dono: PMDB, aquele partido de múltiplas facções unidas pela lojinha de negócios. Temer cansou de indicar, na Codesp, o síndico da vez, o sub-síndico, o tesoureiro e - desconfio - o faxineiro do condomínio.
A privatização do Porto de Santos teve o dedo do Michel. Nas doações de campanha, aparecem terminais portuários, beneficiados pelos arrendamentos. O modelo Temer sempre praticou o hábito de nos surpreender com a escolha de presidentes da Codesp que precisavam de cursos rápidos para conhecer e, em alguns casos, localizar o porto daqui.
Como disse, Temer nunca foi recatado. O nosso Frank Underwood (House of Cards) é faminto, embora exiba o rosto de quem acabou de almoçar uma feijoada. O vice-presidente - não o Frank, mas o Michel - é mencionado na Operação Lava-Jato (quem não é?) por conta das obras de duplicação da rodovia Padre Manoel da Nóbrega, em Praia Grande. Mas não é hora de explicar nada, dizem seus colegas e juízes super-heróis, é hora de se sentar na cadeira dela.
A história da política brasileira está repleta de Temers. Marco Maciel foi um deles, inclusive vice-presidente. São políticos que trafegam no subsolo do poder e ali o exercem no cotidiano, no comando dos endereços e postos que realmente afetam o andamento das contas públicas.
Esta subespécie de política vive da costura. Articulações, distribuição de cargos, bombeiros para incêndios em gabinetes e plenários. Michel Temer nunca foi campeão de votos, mas sobrevive no universo da política desde a década de 60, quando teve Adhemar de Barros (o verdadeiro autor da frase "rouba, mas faz") como primeiro mentor.
Se ele assumir a presidência da República, os donos do Porto de Santos devem se preocupar. A História nos aponta que, apesar de acontecer raras vezes, um político das sombras muda seu comportamento quando atinge o topo da cadeia política alimentar. É da natureza da função. Isso significa designar outro agente para manter o chão limpo com pano sujo.
Com quem os donos do Porto vão conversar?
Por falar nisso, quase todos os traíras do PMDB entregaram os cargos, os da CODESP também?
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