segunda-feira, 11 de abril de 2016

Eleição decidida


Uma eleição em clima de férias. Todos a escolher um lugar no resort

Marcus Vinicius Batista

A Operação Lava-Jato monopolizou o noticiário político e, para nosso prejuízo, paralisou os próprios políticos nos próprios umbigos. Agora, aos poucos, as raposas, tubarões e cavalos paraguaios começam a sair das tocas e baias, e se tornou possível enxergar um pouco melhor o cenário eleitoral.

Em Santos, a eleição cumpre a promessa de ser morna diante de um quadro praticamente decidido, com o acerto apenas dos coadjuvantes e figurantes. Todo filme de final previsível é chato assim como toda eleição numa cidade de testemunhas de oposição e maioria em torno do rei cheira a abdicação da democracia.

Qualquer um sabe que Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) será reeleito, de preferência no primeiro turno. Os mais otimistas e os puxa-sacos falam em recorde de votos. Os políticos já se coçam para permanecer ou entrar no trem chamado coligação, enquanto cobiçam a divisão de assentos e o vagão que vão ocupar. Quanto mais perto do maquinista, melhor.

O problema de uma eleição assim não é apenas a (quase) ausência de programas consistentes e alternativos para a cidade - e ela precisa de um olhar além das maquiagens para desfile de verão. Uma eleição de candidato único significa, na prática, a presença de concorrentes que sonham com outros cargos, que brigam pela melhor luz na vitrine. Não querem vencer, querem projeção. Este tipo de cenário termina por afogar qualquer candidato disposto a falar outro idioma além do pensamento dominante e deveras absoluto.

A corrida eleitoral está tão monótona que a maior notícia dos últimos dias é a escolha do candidato a vice na chapa de Paulo Alexandre. Com a coligação quase toda costurada, ganhou importância um cargo zero à esquerda. Moradores brigando pela varanda numa casa onde os cômodos já foram divididos ou alugados.

Entre os adversários, ninguém conseguirá fazer sombra ao prefeito. Ou por falta de apoio. Ou por falta de dinheiro. Ou por falta de visibilidade. Melhor escolher todas as alternativas anteriores. O PT, por razões óbvias, virou símbolo de doença política. Tirando os escândalos da cúpula do cerrado, o partido paga pela soberba de seus líderes locais, que comandaram ditatorialmente a legenda na cidade e não formaram novas lideranças. O PT recebe com merecimento o castigo do tempo.

Muitas lideranças saíram nos últimos dez anos, seja para outros partidos, seja para assumir cargos no Governo Federal, seja pela aposentadoria. Na prática, sobrou Telma de Souza, que deverá se candidatar à vereadora para assegurar um mandato em final de carreira. Em outras palavras, quem sobrou para concorrer à Prefeitura, servir de vidraça e carregar alta rejeição?

Um dos que deixaram o barco petista foi o vereador Evaldo Stanislau, hoje na Rede. Ele deve se candidatar à prefeito e personifica os motivos descritos acima. Stanislau é um vereador visto com credibilidade em muitos setores, que se salvou da enxurrada que varreu o PT. Mas Stanislau deverá ser um Dom Quixote na corrida eleitoral. Um cavaleiro solitário, com votação insuficiente para fazer cócegas em Paulo Alexandre, mas capaz de se projetar para a próxima eleição, em 2018. Quem vai se arriscar a ser o Sancho Pança?

Os demais são considerados nanicos. Todos pecam pelo egocentrismo, muitos são líderes de um exército de um homem só - seus partidos - e disputam a eleição quase no anonimato. Parte deles - por enquanto, são sete - terá votação menor do que vereadores eleitos. Muitos sustentam discursos aventureiros ou de extrema esquerda. É um falatório para poucos ouvidos e pregação digna de caixote na praça Mauá. Tão longe, tão perto da Prefeitura.

Seria sensato - quem sabe? - se estes candidatos se unissem e formassem uma frente alternativa, frágil para derrotar o prefeito, mas talvez sólida para conquistar cadeiras na Câmara Municipal. Desde o governo Beto Mansur, o Poder Legislativo é cordeirinho do Paço Municipal, com raras vozes dissonantes, muitas bençãos e distribuição farta de títulos, comendas e abraços.

A eleição para a Câmara se desenha como o lado B do disco eleitoral. O PSDB tem dez vereadores e a briga será entre cachorros do mesmo canil. É triste, pois uma eleição representa o período em que uma cidade fecha para balanço, expondo suas feridas e decidindo qual tratamento deseja para suas doenças.

Pelo jeito, fecharemos os olhos e ouvidos, enquanto a loja fecha não para balanço, mas porque é feriado. No dia seguinte, o proprietário abre o comércio com os mesmo vícios, funcionários e clientes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário