sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Quem se importa?
Por Vanessa Pimentel*
Vocês os conhecem?
Ricardo Ferreira Gama, 30 anos. Auxiliar de limpeza na Unifesp, em Santos. Não. Não o conheço. Apenas ouvi e li a história do cara que foi assassinado em frente a sua casa na rua Silva Jardim.
Amarildo de Souza, 42 anos. Desaparecido há um mês e um dia, desde que policiais da UPP da Rocinha o levaram para averiguação. E não. Também não o conheço.
Fulano da Silva, Sicrano de Souza, Josés e Marias. Todos desconhecidos e me pergunto: até quando é necessário conhecer alguém para me importar com a situação dela?
Não está no manual do bom caráter, na voz do inconsciente ou até mesmo na Bíblia, amar ao próximo como a ti mesmo? Não, não que isso seja amor, santidade ou coisa parecida, mas se importar com as pessoas além lar faz parte da convivência em sociedade e de quem diz se preocupar com o futuro do mundo.
Não julgar. Pesquisar, apurar, divulgar e, com isso, ajudar, talvez seja esse um novo verbo para o Jornalismo.
Vejamos a crise da imprensa, as demissões, junções de revistas e conteúdos. Jornalistas insatisfeitos, não apenas com salários, mas com o conteúdo que produzem na obrigação do factual. As mesmas fontes, as mesmas notícias, as mesmas pessoas supostamente importantes.
Chegam as redes sociais. SOCIAIS. Dando voz ao povo. O que não daria furo nem reportagem na grande mídia ganha espaço e voz através de compartilhamentos de pessoas comuns que se identificam com a causa e não assistem mais aos jornais por não se verem representadas ali.
O fato sem importância cresce, ganha espaço, protestos, voz e, então, imprensa. A voz do povo vira fonte, a morte do cara desconhecido em situação estranha, página principal, e as autoridades responsáveis são obrigadas a se mexer.
As redes sociais vieram para lembrar aos jornalistas dos seus sonhos no banco da faculdade, da missão assumida com a tal da "imparcialidade", ainda que não exista, e isso serve para que a atenção dada ao magnata seja a mesma oferecida ao vendedor ambulante. Andam mostrando que o povo não é tão burro quanto parece e que se as grandes estruturas não ouvirem o que "vem de baixo", novas, pequenas e fortes estruturas vão se formar e juntas, criarão sim, uma nova maneira de informar.
Vejamos como exemplo a onda de protestos que começou em uma rede social. Será que a voz do povo é mesmo a voz de Deus e ela está começando a falar mais alto e incomodar quem gostava do silêncio? Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai até a montanha.
Será que os jornais vão acordar para essa nova realidade que se apresenta ou vão continuar demitindo, apenas para manter a mesma forma de produção? Será que vão lutar contra ou se juntar aos NINJAS? Será que esse exército cresce?
Um milhão de pessoas nas ruas do Brasil cantando o Hino Nacional para mostrar a vontade de mudar. E saíram, saímos daqui! A morte de Ricardo teria uma investigação decente se as redes sociais não tivessem "compartilhado" o caso dele? E Amarildo? Pedreiro e pescador nas horas vagas seria agora seu conhecido?
Vocês os conhecem?
*Vanessa Pimentel é estudante de Jornalismo da UNISANTA.
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