A beleza do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) |
Quando Geraldo Alckmin e Fernando Haddad anunciaram o retorno da passagem de ônibus a R$ 3 na capital, ambos usaram – quase um coral – a palavra sacrifício. Só faltou se abraçarem, apesar de que a jura de amor aconteceu nos discursos, quase sempre afinados nas últimas duas semanas, desde que começaram os protestos em São Paulo.
Se é possível dizer que os dois demoraram a entender o que se passava em seus territórios, também é cristalino perceber que o governador saiu tão queimado das manifestações como os ônibus atacados por uma minoria. Aliás, este grupo pequeno pode ser chamado de vândalo, e não a grande massa de pessoas, desqualificadas pelo Governo como cidadãs e reintituladas baderneiras na semana passada, com apoio de parte da imprensa servil.
Alckmin, como todo governante, desmereceu o grito da população para depois sussurrar a contraordem diante de um cenário político desfavorável. De cara, mandou a polícia descer o porrete nos manifestantes, relembrando os anos de chumbo. Uma das diferenças eram as balas de borracha, que também podem matar, deveria saber o médico que administra o Estado.
Diante dos cassetetes da política, Alckmin recuou e pediu que a polícia apenas observasse o que se passava nas ruas. De fato, o governador pagou para ver e talvez sinta o preço de sua aposta equivocada daqui a 15 meses, quando tentará a reeleição.
O auge da soberba de Geraldo Alckmin aconteceu na quinta-feira retrasada, quando Santos se transformou em capital das promessas por conta das comemorações do aniversário de José Bonifácio. O governador não só fez uma lista de juramentos como também tentou ignorar o barril de pólvora que se transformava a capital paulista.
Entre as promessas, a construção de Unidade Básica de Saúde em Santos, de um Centro de Referência ao Idoso na mesma cidade, a instalação de uma unidade do Bom Prato em Vicente de Carvalho e a construção de um Posto de Atendimento ao Trabalhador em São Vicente. No caso do PAT, a obra começaria somente em 2015, quando talvez o governador seja outro sujeito. O repórter Alessio Venturelli, de A Tribuna, procurou todas as Prefeituras correspondentes, além do próprio Governo do Estado. Não há algo concreto, entre projetos, custos e prazos de entrega das obras.
No Twitter, rede social bastante utilizada por Alckmin e sua equipe, nenhuma palavra sobre o que acontecia em São Paulo. Apenas a divulgação das promessas de obras na Baixada Santista. Na última mensagem antes do boa noite, os cumprimentos pelo aniversário da cidade de Guaratinguetá, enquanto os PMs cumprimentavam jovens com suas bombas de efeito para quem julgam imorais.
A promessa pirotécnica ocorreu em 29 de maio. Geraldo Alckmin esteve em Santos para dar início às obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), moeda de troca na política local há quase 20 anos. Com toda pompa, circunstância e puxa-sacos, o governador deu o primeiro toque de maquiagem. Desde então, as obras oscilam entre a paralisação e o ato de rastejar na avenida Conselheiro Nébias. Basta passar lá e testemunhar o segurança que toma conta dos equipamentos.
As obras fantasmas do VLT não deveriam deixar ninguém de queixo caído. É de praxe o atraso de obras públicas, não importa a cor do partido do governante. Mas, no caso das lideranças do PSDB, há uma nota de rodapé marcada pelo patético. Em março de 2010, o então candidato à presidência da República, José Serra, veio a Santos inaugurar a maquete da ponte entre Santos e Guarujá.
Um ano depois, o próprio Alckmin pediu reestudo do projeto, sinônimo da gaveta do esquecimento. Depois de enterrar a ideia, a maquete foi para o lixo. Qual seria a diferença entre inaugurar uma maquete e uma obra que se arrasta? A prática mostra um rosário de semelhanças e de promessas.
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