segunda-feira, 24 de junho de 2013

Oportunidade passageira


O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, anunciou nesta segunda-feira que não haverá aumento nos pedágios das rodovias estaduais. Imagine mais caro do que já é, R$ 21,20 por 70 quilômetros de estrada, no sistema Anchieta-Imigrantes? 

Alckmin cancelou também o reajuste na travessia de balsas entre Santos e Guarujá. Os contratos preveem aumento das tarifas todos os anos, sempre em 1º de julho, a partir da inflação. Este ano, o reajuste seria de aproximadamente 6,5%.

Alckmin negou que a medida tivesse caráter populista e que fazia parte de estudos, que incluem a revisão dos contratos. A declaração soou como piada pronta diante do óbvio: os protestos que paralisaram diversas rodovias nos últimos dias. Na política, como os políticos estão carecas de saber, com o perdão do trocadilho ao governador, não existem coincidências. Existem oportunidades. Ou oportunismo, dependendo do ângulo de cá de análise.

A Baixada Santista também seguiu o mesmo caminho do morde e assopra. Santos congelou as passagens até março de 2014, salvo algum acontecimento extraordinário. A expressão é tão vaga quanto à crença de que não há relação com as manifestações na cidade.

Peruíbe e Bertioga também mantiveram as tarifas em R$ 2,20 e R$ 2,80, respectivamente. Praia Grande reduziu a tarifa para R$ 2,90, que chegou a R$ 3,20 em março. Guarujá, para R$ 2,80. Antes, custava R$ 2,90.

Cubatão, onde aconteceram violentos protestos na semana passada, estuda revisar o valor da tarifa de R$ 3,10. Aliás, mais cara do que em São Paulo, município um bocadinho maior, como diria a ironia dos mineiros.

Itanhaém também fala em revisão. Hoje, a tarifa custa R$ 2,70. As Prefeitura de São Vicente e Mongaguá ainda não se manifestaram.

Das semelhanças entre as cidades da região, a primeira é a retórica dos prefeitos, que repetem o mantra de que precisam estudar as planilhas de custos, documentos tão confidenciais quanto a papelada anti-terror do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. É uma caixa preta.

A outra ideia é que investimentos serão sacrificados, para usar as palavras de Alckmin e do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Sacrifício? Mais ainda, diante de um serviço ruim e desrespeitoso ao cidadão. E quais investimentos seriam estes?

As respostas da classe política me levam a pensar em dois pontos fundamentais. O primeiro é que ninguém abriu a boca para falar nas linhas intermunicipais, que sofreram aumento recentemente. Cobrar de quem? É fundamental pressionar a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), responsável pela regulação do setor.

As tarifas de ônibus intermunicipais são de responsabilidade do Governo do Estado. Novamente, voltamos à figura do governador, que se mantém em silêncio sobre o assunto, inclusive quando veio brincar de capital do Estado em Santos, enquanto o couro comia solto na capital de fato. A lógica recente indica que é preciso ocupar as ruas para que Alckmin saia da inércia.

Boa parte dos moradores da região necessita de ônibus intermunicipais, cujas linhas em Santos, São Vicente, Cubatão e Praia Grande estão nas mãos da Viação Piracicabana. Até agora, a companhia se manteve muda. Só se mexeu quando houve incêndios e protestos. O que fez? Tirou a frota das ruas em São Vicente e Cubatão. A EMTU, onde estava?

Além disso, os políticos adoram encher a boca para falar em Região Metropolitana da Baixada Santista. O termo é gasto ao extremo em eventos e outras reuniões que nunca resultam em ações públicas. Os prefeitos se revezam no Conselho de Desenvolvimento, aos olhos da Agência Metropolitana, tão insossa quanto às reuniões entre os administradores municipais, que discursam em conjunto e trabalham somente no próprio quintal.

Um exemplo da lentidão reflexiva da classe política é Santos. O prefeito Paulo Alexandre Barbosa anunciou, como ato reflexo, a criação de um Comitê para discutir o transporte público. Historicamente, comitês servem para agendar comissões, que marcam outras reuniões. Tais encontros resultam no agendamento de mais reuniões.

A ciranda é previsível, diante da postura dos administradores municipais, que não tiram as vistas do termômetro político e, assim, pautam seus passos. Depois, fazem cara de espanto, mordem os lábios e dizem não entender o que acontece nas ruas.

Observação: A EMTU anunciou na tarde desta segunda-feira que vai reduzir o valor da passagem nas linhas intermunicipais no Grande ABC (R$ 0,20) e na Baixada Santista (R$ 0,15). As novas tarifas começam a valer em julho.  

Um comentário:

  1. boa Marcão, é uma cara de pau sem tamanho. Hoje em coletiva o Alckmin disse que não vai tirar investimento de lugar nenhum. Minha pergunta é a seguinte: ele mentiu semana passada, ou mentiu hoje? Além do mais, bem observada a questão dos ônibus intermunicipais, que afetam os mais pobres, que moram em cidades mais baratas para trabalhar nas cidades maiores. Não houve cancelamento do reajuste, e pouca gente se atentou a isso. O mais preocupante para os moradores da Baixada é que estão distantes do governador, então as manifestações causariam pouca preocupação para ele. A não ser que sejam mesmo nas rodovias, com a pauta bem específica. Entre São Vicente, Santos, Praia Grande e Cubatão, só o fato de haver uma tarifa com mais de 3 reais é vergonhoso.

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