Casa de Saúde Anchieta, em foto de 2007 |
Este é o quarto de uma série de seis textos sobre os 25 anos do projeto TamTam. Nesta postagem, a importância da Casa de Saúde Anchieta para as discussões sobre saúde mental e para a criação de um projeto cultural liderado pelo arte-educador Renato Di Renzo.
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Marcus Vinicius Batista
O projeto TamTam nasceu dentro da Casa de Saúde Anchieta em 25 agosto de 1989, quando o arte-educador Renato Di Renzo foi ao local apenas disposto a ajudar, mas sem uma ideia profunda do que poderia fazer. Ali, brotaria uma iniciativa de arte, inclusão social e saúde mental que sobreviveu à extinção de uma das piores manchas na história da psiquiatria brasileira.
Enquanto o projeto TamTam voou para outros endereços, o que aconteceu com o Anchieta depois da intervenção da Prefeitura no mesmo ano? O que resta hoje do antigo manicômio, inaugurado na década de 50? Por que o hospital é tão importante não apenas para a história da saúde pública, mas também para a biografia do Teatro, em Santos?
Renato e pacientes do Tam Tam
Hoje, o imóvel que abrigou a Casa de Saúde Anchieta não apresenta rastros dos tempos de hospital psiquiátrico. Muito menos de espetáculos teatrais, como a peça em que o Papa e um pirata assaltam o Vaticano e dividem o produto meio a meio. A primeira encenação envolveu dois pacientes, um deles Ercílio, que hoje trabalha no programa municipal de reciclagem de lixo, em Santos.
O Anchieta é apenas uma carcaça do lugar que abrigou o principal manicômio do litoral de São Paulo. O local se transformou em um cortiço, onde residem 54 famílias. São cerca de 150 pessoas. As condições de vida são insalubres, com sérios problemas estruturais no edifício. A desapropriação do imóvel se arrasta no Poder Judiciário.
Em 27 de setembro de 2012, um dos cômodos do imóvel pegou fogo. Ninguém se feriu. No cômodo, residiam sete pessoas, de duas famílias, que perderam tudo. O incêndio teria sido provocado por um curto-circuito.
O Anchieta é apenas uma carcaça do lugar que abrigou o principal manicômio do litoral de São Paulo. O local se transformou em um cortiço, onde residem 54 famílias. São cerca de 150 pessoas. As condições de vida são insalubres, com sérios problemas estruturais no edifício. A desapropriação do imóvel se arrasta no Poder Judiciário.
Em 27 de setembro de 2012, um dos cômodos do imóvel pegou fogo. Ninguém se feriu. No cômodo, residiam sete pessoas, de duas famílias, que perderam tudo. O incêndio teria sido provocado por um curto-circuito.
Incêndio em 2012. Foto: G1-Santos |
A história da Casa de Saúde Anchieta começa em 1951 bem antes do projeto TamTam. O hospital, de propriedade privada, tinha teoricamente capacidade para 450 leitos. Até o final da década de 80, pouco se sabia sobre a instituição, uma caixa-preta tanto para a imprensa como para as autoridades de saúde. O Anchieta seguia à risca o silêncio da cartilha dos manicômios que se espalharam pelo país.
A intervenção na “Casa dos Horrores” aconteceu em 3 de maio de 1989 por parte da Prefeitura de Santos. A gota d´água foi a morte de três internos. O lugar colecionava denúncias de maus tratos, mortes e superlotação de pacientes, muitos deles espalhados por corredores e pátios. O Anchieta, nome popular do hospital, era um dos símbolos dos manicômios como depósitos de pessoas.
Uma equipe multidisciplinar promoveu uma avaliação dos pacientes, muitos deles com marcas de violência pelo corpo e desidratados. Em outros casos, internos não recebiam alta por conta da desorganização dos prontuários. Nas instalações, a precariedade se repetia: cadeados que isolavam pátios, enfermarias fechadas e chuveiros sem água quente.
Havia também o “chiqueirinho”, apelido para o espaço onde os pacientes eram trancafiados. Eram celas fortes, de dois metros quadrados, com pouca ventilação, sem luminosidade e local para as necessidades fisiológicas.
Como tratamento, pacientes recebiam eletrochoques e não existia controle sobre os medicamentos. A Casa de Saúde Anchieta abrigava todo o tipo de marginalizados, de doentes mentais até alcoólatras e usuários de drogas. Um mês depois da intervenção, em junho de 1989, o lugar ainda abrigava 350 pessoas.
Com a intervenção, o hospital reduziu, gradualmente, o número de pacientes até fechar as portas, em definitivo, em 1996. A intervenção é lembrada até hoje como um marco na reforma psiquiátrica e na luta antimanicomial, inspirada na experiência em Triste, na Itália.
Em Santos, a desativação do hospital marcou também a implantação de Núcleos de Apoio Psicossocial, os NAPS, modelo de atendimento descentralizado que existe até hoje. O primeiro começou a funcionar na Zona Noroeste de Santos, também em 1989.
Curiosamente, a legislação que deveria acompanhar o fechamento dos hospitais psiquiátricos só foi aprovada 12 anos depois no Congresso Nacional. O projeto de lei, apresentado pelo deputado Paulo Delgado (PT/MG), regulamentava os direitos dos pacientes com transtornos mentais e estabelecia o fechamento de todos os manicômios no país.
A intervenção na “Casa dos Horrores” aconteceu em 3 de maio de 1989 por parte da Prefeitura de Santos. A gota d´água foi a morte de três internos. O lugar colecionava denúncias de maus tratos, mortes e superlotação de pacientes, muitos deles espalhados por corredores e pátios. O Anchieta, nome popular do hospital, era um dos símbolos dos manicômios como depósitos de pessoas.
Uma equipe multidisciplinar promoveu uma avaliação dos pacientes, muitos deles com marcas de violência pelo corpo e desidratados. Em outros casos, internos não recebiam alta por conta da desorganização dos prontuários. Nas instalações, a precariedade se repetia: cadeados que isolavam pátios, enfermarias fechadas e chuveiros sem água quente.
Havia também o “chiqueirinho”, apelido para o espaço onde os pacientes eram trancafiados. Eram celas fortes, de dois metros quadrados, com pouca ventilação, sem luminosidade e local para as necessidades fisiológicas.
Como tratamento, pacientes recebiam eletrochoques e não existia controle sobre os medicamentos. A Casa de Saúde Anchieta abrigava todo o tipo de marginalizados, de doentes mentais até alcoólatras e usuários de drogas. Um mês depois da intervenção, em junho de 1989, o lugar ainda abrigava 350 pessoas.
Com a intervenção, o hospital reduziu, gradualmente, o número de pacientes até fechar as portas, em definitivo, em 1996. A intervenção é lembrada até hoje como um marco na reforma psiquiátrica e na luta antimanicomial, inspirada na experiência em Triste, na Itália.
Em Santos, a desativação do hospital marcou também a implantação de Núcleos de Apoio Psicossocial, os NAPS, modelo de atendimento descentralizado que existe até hoje. O primeiro começou a funcionar na Zona Noroeste de Santos, também em 1989.
Curiosamente, a legislação que deveria acompanhar o fechamento dos hospitais psiquiátricos só foi aprovada 12 anos depois no Congresso Nacional. O projeto de lei, apresentado pelo deputado Paulo Delgado (PT/MG), regulamentava os direitos dos pacientes com transtornos mentais e estabelecia o fechamento de todos os manicômios no país.
Franco Basaglia era médico e psiquiatra, e foi o precursor do movimento de reforma psiquiátrica italiano conhecido como Psiquiatria Democrática. Nasceu no ano de 1924 em Veneza, Itália, e faleceu em 1980.A partir de 1970, quando foi nomeado diretor do Hospital Provincial na cidade de Trieste, iniciou o processo de fechamento daquele hospital psiquiátrico.
ResponderExcluirRádio TamTam! Um programa do tamanho da sua loucura! Muito orgulho e honra em poder ter participado desse importante projeto que foi a Rádio Tam Tam.
ResponderExcluirMuitas saudades... Um grande abraço do Bombástico.
Escrevi um livro, "O órfão", vendido pela Amazon no qual faço referência à intervenção da Casa de Saúde Anchieta. Em maio de 1989 eu fui estagiária de Educação Fisica nesse hospital. Permaneci até dezembro de 1989. Tenho muitas lembranças de lá.
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