Marcus Vinicius Batista
Nunca esperamos por certas mortes. Ainda temos a ilusão de que a imortalidade seria característica de alguns, tamanha a segurança, a imponência e a postura no cotidiano. Por isso, não me dei conta quando os jornalistas Rafael Motta e Nara Assunção publicaram a notícia. Ele estava morto.
Eu sabia da doença, que o corroía há alguns anos. Os sinais me pareciam evidentes, de uma degeneração gradual, mas passível de melhoras pontuais. Aquela velha esperança de paciente de UTI. Os quadros se estabilizam, daí vem uma mudança repentina, o paciente indica que a transferência para o quarto normal será breve. E é neste ponto que a crise definitiva se instala e todos em volta temem pela pior notícia possível.
O velório ainda não foi organizado. As reações diante da morte oscilam entre a barganha e a negação. Talvez, para poucos, prevaleça a resignação. O fato é que, se faleceu, não há como não organizar o funeral. Eles já estão vestidos de preto mesmo, o que facilita e – quem sabe? – economize algum, embora não seja do feitio da turma guardar recursos. Pelo contrário, o que se gasta com supérfluo assusta qualquer um.
O defunto tem nome e sobrenome pomposos, feito famílias quatrocentonas de São Paulo. Mas, para se manter pop e aparecer sempre na mídia, inclusive com as chatices e rococó da fala, prefere ser chamado pelo apelido. Coisa de americano essa história de iniciais.
Chega de delongas! Sente-se se ainda não recebeu a notícia. O Superior Tribunal Federal – de alcunha STF – morreu esta semana. A última fagulha de oxigênio não foi um acerto de contas ou um pedido de perdão para as pessoas próximas. Foi a coerência soberba de um catedrático distante do mundo lá fora.
O STF morreu de política rasteira. Sacrificou sua própria imagem para salvar a imagem do presidente do Senado, Renan Calheiros, com a desculpa de que protegia a imagem de estabilidade da política via relacionamento entre as instituições.
Parte dos juízes confundiu mais uma vez, só de que desta vez com escândalo, sem pudor, que Direito e Política são irmãos, mas nesta ordem de importância. Toda decisão jurídica está impregnada de subjetividade e se constitui como ação política. Mas nenhuma decisão é exclusivamente de tal natureza.
Os juízes se transformaram em celebridades e se embriagaram com os holofotes. Passaram a interferir na política como se tivessem mandato ou fizessem parte dos outros Poderes. Enforcaram-se na toga quando confirmaram o que muitos pensam sobre eles.
O STF não protege o interesse público, protege a si mesmo e seus associados. O STF protegeu Renan enquanto rasgava a lei sob qualquer perspectiva, inclusive moral. Não, principalmente moral. Por tabela, joga gasolina no clima de ódio sobre as instituições, manchadas e esquartejadas por suas lideranças, enclausuradas nas Casas Grandes. Apenas cuidado, pois os gritos das senzalas sobem um tom a cada chicotada na Ética.
Minha esperança é que as instituições costumam sobreviver aos homens. Assim, o cadáver pode ressuscitar, mas ainda depende dos coveiros e suas pás.
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