quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Eles só pensam naquilo




Marcus Vinicius Batista

A eleição de Donald Trump, além da incerteza do pânico, representa uma nova lição que muitos teimam em não refletir. Precisamos aprender que não existem fórmulas para classificar o eleitor, seja da minha cidade, seja dos Estados Unidos.

Em primeiro lugar, costumamos classificar pela negação de nós mesmos. Classificamos pelo estigma. O eleitor seria inferior à nossa capacidade de avaliação política, como se não fôssemos cúmplices das escolhas e da preguiça pós-voto. Trata-se do pressuposto de que o eleitor seria incapaz porque não pensa pela coletividade.

Depois, o que seria eleitor médio? Médio de inteligência? Classe média? Volúvel e manipulável pelo marketing eleitoral? O Simpson, do William Bonner. Pode ser tudo ou nada disso. O eleitor médio não existe, além da retórica.

Respeitando o pano de fundo cultural, são variáveis políticas que podem nos dar um perfil socioeconômico de quem vota, distante das alegações individuais, dispensadas pelos discursos tão intelectualizados, por vezes desconectados do mundo lá fora.

O eleitor escolhe por fatores múltiplos, que também incluem pesquisas, noticiário e, principalmente, olhando para o próprio umbigo. O umbigo transita das ideologias dos extremos à conta bancária, da estrutura da rua onde mora ao palavrório de familiares, amigos e parentes, da fé a uma visão preconceituosa de mundo, de um canto a outro do espectro político.

O eleitor médio – é apenas conceito – não se agarra em manuais acadêmicos, com conceitos filosóficos ou correntes teóricas que terminam com “ismo”. O voto é uma decisão prática. E cíclica. Uma decisão aplicada ao cotidiano de um mundo capitalista, mais complexo do que o Fla-Flu esquerda e direita. O eleitor vota pela garantia de seu próprio mundo. A escola do filho. O emprego próprio ou do parceiro. O quilo de carne na mesa.

É bobagem qualificar o governo Trump – ou da minha cidade – antes que ele aconteça. Há caminhos para o pensamento. Há temores e riscos. Trazer política para nossas vidas é um exercício necessário. Só que na política não há espaço para videntes. A complexidade política nasce e morre na urna, independentemente do endereço.

O eleitor – como termo no singular – é tão palpável como uma entidade espiritual. Prático como qualquer um de nós, inclusive quando tentamos justificar por ideologia. O resto é chute!

Nenhum comentário:

Postar um comentário