quarta-feira, 21 de maio de 2014

Os erros de Marina?


A política não perdoa erros. Na prática, perder representa desaparecer lentamente. Depender da caridade de alianças. Morrer aos poucos, com o cadáver exposto em velório a céu aberto. Erros estratégicos também assassinam aliados que, muitas vezes, pulam ao mar e se arriscam em botes. Um dano colateral em comparação à dor de testemunhar um naufrágio. 


Marina Silva dá sinais de que repetiu decisões equivocadas. Política eleitoral – e os próprios políticos – não são complacentes com a repetição de deslizes. Defender o casamento gay, em princípio, significa outro desvio de rota para quem poderia encabeçar uma chapa presidencial. Renasce a imagem de fogo amigo, em um momento que Eduardo Campos luta para ser conhecido, percorrendo a trilha do politicamente correto. Envolver-se em temas espinhosos não soa como saudável. Na verdade, é mais um capítulo de um processo que se iniciou em 2013.

O primeiro escorregão de Marina Silva foi a lentidão em decidir criar o próprio partido, o que daria mais liberdade a ela para conduzir o caminho da campanha. Juridicamente inexistente, a Rede Sustentabilidade é um fantasma em ano de eleição. Teoricamente, a composição com o PSB poderia nascer do mesmo jeito, mas com a diferença do respaldo institucional partidário – mesmo que banalizado. Um partido forte é capaz, ainda que as siglas estejam corroídas, de segurar aqueles peixinhos ornamentais que saltam de aquário em aquário.

Marina Silva era a mulher de 20 milhões de votos. A dama a ser cortejada em meados de 2013. Mas a fala mansa e a firmeza nas palavras não esconderam a sede de poder. Ao temer também o preço do ostracismo que engoliu Heloisa Helena, Marina assinou o pacto que lhe dá o segundo posto na hierarquia. Escolheu se filiar a um partido que sempre foi mais um a se sentar na roda gigante, multifacetado e com um candidato desconhecido.

O segundo erro – e talvez o mais grave – é se comportar como se fosse candidata. Nesta altura da corrida, vale mais a lealdade ao espírito de equipe do que as pesquisas, que apontam os reservas com melhor desempenho que os titulares, de Lula a José Serra.


Marina fala o que quer e pode provocar efeitos que talvez não deseje. O posicionamento contra o casamento gay é o caso. Por um lado, pode agradar eleitores da classe C, alvo preferencial da campanha de Eduardo Campos. Em compensação, parte do eleitorado de Marina é mais liberal e favorável à leitura social da senadora do Acre, embora releve a opção religiosa dela, o que constrói uma ilusão de discurso.

Se fosse candidata, Marina Silva arcaria com os próprios ferimentos. O sangramento, aliás, seria bem menor, pois estaria sob o controle daqueles que cercam a ex-senadora. É bom repetir: 20 milhões de votos também ajudariam na cicatrização.

Só que Marina, quando fechou o contrato, se submeteu automaticamente à construção de imagem de Eduardo Campos. Ele fica com os louros. Ele sente a dor do tiroteio. Ela deveria somente assistir, muito menos atrapalhar.

Com elevado nível de desconhecimento por parte do eleitorado, Campos precisa equacionar três problemas e ainda ter que lidar com o fogo amigo. Em primeiro lugar, ele precisa navegar em águas previsíveis. Polêmica dentro de casa, jamais. Não há tanto lastro assim para apagar incêndios contínuos.

Depois, o ex-governador de Pernambuco tem que dosar o morde-e-assopra com Aécio Neves. Cedo ou tarde, um matará o outro, mas antes é preciso se unir para trazer Dilma Rousseff a um patamar que permita segundo turno. O terceiro obstáculo é criar uma agenda consistente que consiga reverter a lógica de crédito e consumo, retórica agradável para a maioria dos eleitores das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste.

Diante de tantas dificuldades, soma-se a falta de fôlego financeiro para sustentar campanha tão cara. Não dá para tapar tantos buracos e ainda ter que pedir para a candidata à vice-presidente falar menos, inclusive porque ela também possui a tendência de personalizar a política.
Se quiser se manter viva, a candidatura Eduardo Campos deve aprender uma das máximas do lulismo. A política não perdoa erros, mas releva blefes e coroa a astúcia. Lição que poderia amordaçar a língua da vice.

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