O cartunista Osvaldo DaCosta, em seu quarto-ateliê (Fotos: Marcos Piffer) |
*** Este é o segundo perfil que escrevi para a Revista Guaiaó, n.12, com a capa: "Aqueles que nos inspiram".
O cartunista Osvaldo DaCosta contou, certa vez, que Ziraldo o fascinava. Além dos desenhos e das histórias infantis, DaCosta ficara impressionado com a capacidade do colega mineiro de nunca parar de desenhar. Ziraldo rabiscava em folhas de papel até ao telefone. O chão do escritório estava inundado de ideias em forma de traços, que morreriam de incompletude artística.
DaCosta é como Ziraldo. Não está artista. É sempre cartunista, com o perdão da rima. Quando não desenha em papel, produz uma gravura. Quando não está envolto em aquarelas, carrega um sketchbook (caderno de desenhos, em tradução livre) para retratar algum canto de Santos ou de outros endereços, para onde viaja como professor ou para ganhar prêmios. Quando não esboça alguma imagem, fabrica os próprios cadernos ou ensina seus alunos.
Um dos mais premiados cartunistas brasileiros se esconde no quarto dos fundos de um apartamento térreo, na rua Bento de Abreu, no Boqueirão, em Santos. O quarto é local de estudos, dormitório, biblioteca, estúdio musical e ateliê. Ali, ele recebe pessoas e dá vazão à ansiedade cultural, à crítica do mundo cotidiano e da política.
Nas estantes, descansam biografias de astros do rock, como Eric Clapton e Jimi Hendrix, obras de História da Arte, História Cultural, romances, Estética e História em Quadrinhos, todas compatíveis com um sujeito quase sessentão que valoriza o estudo e a técnica para lapidar um talento. Talento que começou quando moleque e o levou à Faculdade Belas Artes de São Paulo, onde se formou na década de 80.
DaCosta saiu dos bancos universitários para a imprensa. Trabalhou nos principais jornais de São Paulo, como Folha de S.Paulo e Folha da Tarde (hoje Agora SP), além do Diário do Povo, de Campinas, e da Tribuna, de Santos. Ilustrou também capas para a revista Exame, da editora Abril, entre outras publicações.
No entanto, ele sofre do mal que acomete muitos artistas brasileiros: ser mais conhecido no exterior do que no próprio país. DaCosta foi premiado várias vezes na Europa. Só no PortoCartoon, em Portugal, duas vezes. Ganhou prêmios também no Irã e na Espanha. No Brasil, venceu várias vezes o mais antigo Salão de Humor, de Piracicaba, a ponto de se transformar em jurado.
Inquieto, DaCosta descansa dos pincéis e lápis com uma guitarra nas mãos. Ele é fanático por Jimi Hendrix que, para ele, é uma espécie de corintiano do rock, uma forma de casar duas paixões que convivem em um dos cantos do quarto-ateliê.
Insatisfeito consigo mesmo, o cartunista se transformou em escritor em 2015. Depois de defender a dissertação de mestrado em Comunicação na Universidade Municipal de São Caetano do Sul, ele a publicou como livro. "O berro da Ovelha Negra" (Ateliê de Palavras) conta a história do Ovelha Negra, o único jornal alternativo ao regime militar feito por cartunistas e ilustradores. O jornal, editado em São Paulo, sobreviveu por oito números e chegou a ter 70% das páginas com cartuns, charges e caricaturas.
DaCosta, fora da sala de aula, transfere o ateliê para as ruas, onde capta, quase sempre em aquarela, imagens mínimas, as entrelinhas da cidade. Ele e a namorada, a artista plástica Nat Cunha, organizam a cada dois meses o SketchCrawl, evento que ocorre simultaneamente em dezenas de cidades pelo mundo. A reunião é aberta para quaisquer pessoas interessadas em desenhar ao ar livre.
Os dois escolhem um endereço para que todos possam retratá-lo, sempre em um sábado à tarde. Os encontros já aconteceram na praça em frente ao Sesc, no Museu de Pesca, na praça das Bandeiras, entre outros lugares. Depois, os desenhos são postados em um site que reúne a produção de todo o planeta.
Para Ziraldo, a recíproca é verdadeira. Quando editava o Pasquim 21, uma ressurreição do jornal alternativo mais famoso do período militar, Ziraldo dedicou uma página para DaCosta. O título da matéria: O último desenhista de humor. Alguém se atreve à contestá-lo?
DaCosta é como Ziraldo. Não está artista. É sempre cartunista, com o perdão da rima. Quando não desenha em papel, produz uma gravura. Quando não está envolto em aquarelas, carrega um sketchbook (caderno de desenhos, em tradução livre) para retratar algum canto de Santos ou de outros endereços, para onde viaja como professor ou para ganhar prêmios. Quando não esboça alguma imagem, fabrica os próprios cadernos ou ensina seus alunos.
Um dos mais premiados cartunistas brasileiros se esconde no quarto dos fundos de um apartamento térreo, na rua Bento de Abreu, no Boqueirão, em Santos. O quarto é local de estudos, dormitório, biblioteca, estúdio musical e ateliê. Ali, ele recebe pessoas e dá vazão à ansiedade cultural, à crítica do mundo cotidiano e da política.
Nas estantes, descansam biografias de astros do rock, como Eric Clapton e Jimi Hendrix, obras de História da Arte, História Cultural, romances, Estética e História em Quadrinhos, todas compatíveis com um sujeito quase sessentão que valoriza o estudo e a técnica para lapidar um talento. Talento que começou quando moleque e o levou à Faculdade Belas Artes de São Paulo, onde se formou na década de 80.
DaCosta saiu dos bancos universitários para a imprensa. Trabalhou nos principais jornais de São Paulo, como Folha de S.Paulo e Folha da Tarde (hoje Agora SP), além do Diário do Povo, de Campinas, e da Tribuna, de Santos. Ilustrou também capas para a revista Exame, da editora Abril, entre outras publicações.
No entanto, ele sofre do mal que acomete muitos artistas brasileiros: ser mais conhecido no exterior do que no próprio país. DaCosta foi premiado várias vezes na Europa. Só no PortoCartoon, em Portugal, duas vezes. Ganhou prêmios também no Irã e na Espanha. No Brasil, venceu várias vezes o mais antigo Salão de Humor, de Piracicaba, a ponto de se transformar em jurado.
Inquieto, DaCosta descansa dos pincéis e lápis com uma guitarra nas mãos. Ele é fanático por Jimi Hendrix que, para ele, é uma espécie de corintiano do rock, uma forma de casar duas paixões que convivem em um dos cantos do quarto-ateliê.
À esquerda, reprodução da capa do livro "O berro da Ovelha Negra" |
Insatisfeito consigo mesmo, o cartunista se transformou em escritor em 2015. Depois de defender a dissertação de mestrado em Comunicação na Universidade Municipal de São Caetano do Sul, ele a publicou como livro. "O berro da Ovelha Negra" (Ateliê de Palavras) conta a história do Ovelha Negra, o único jornal alternativo ao regime militar feito por cartunistas e ilustradores. O jornal, editado em São Paulo, sobreviveu por oito números e chegou a ter 70% das páginas com cartuns, charges e caricaturas.
DaCosta, fora da sala de aula, transfere o ateliê para as ruas, onde capta, quase sempre em aquarela, imagens mínimas, as entrelinhas da cidade. Ele e a namorada, a artista plástica Nat Cunha, organizam a cada dois meses o SketchCrawl, evento que ocorre simultaneamente em dezenas de cidades pelo mundo. A reunião é aberta para quaisquer pessoas interessadas em desenhar ao ar livre.
Os dois escolhem um endereço para que todos possam retratá-lo, sempre em um sábado à tarde. Os encontros já aconteceram na praça em frente ao Sesc, no Museu de Pesca, na praça das Bandeiras, entre outros lugares. Depois, os desenhos são postados em um site que reúne a produção de todo o planeta.
Para Ziraldo, a recíproca é verdadeira. Quando editava o Pasquim 21, uma ressurreição do jornal alternativo mais famoso do período militar, Ziraldo dedicou uma página para DaCosta. O título da matéria: O último desenhista de humor. Alguém se atreve à contestá-lo?
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