segunda-feira, 27 de junho de 2016

A eleição em um poema




Marcus Vinicius Batista

Falta um mês e meio para a campanha eleitoral começar, oficialmente. Para quem acompanha política - e ainda acredito que todos deveriam fazê-lo, mesmo para se proteger -, é divertido testemunhar a dança de salão.

Neste momento, é a hora dos flertes, dos blefes, das juras de amor eterno enquanto dure ... até outubro ou ... até a divisão de cargos e salários. Fala-se ao pé de ouvido, espalham-se galanteios, mas pouco se pega na mão, nada se beija, e ninguém aparece na casa dos pais da pretendente para pedir a benção ao matrimônio.

A política, de vez em quando, me faz pensar em literatura. Pode ser daquela ruim, de papel barato e palavrório oco. Mas a política pode ser alta literatura policial, enquanto jogos de cenas, reviravoltas, pistas falsas, profundidade psicológica e vilões difíceis de detectar, até nas entrelinhas.

Peço desculpas pela liberdade em explorar um poema que me vem à lembrança outra vez. Repito o recurso anos depois porque a métrica é repetitiva. E que o poeta, mineiro de Itabira, não me crucifique por desvirtuar sua "Quadrilha".

Em Santos, cidade da piada pronta e das obras atrasadas, "Quadrilha" é apenas o nome do poema de Carlos Drummond de Andrade. Outros sentidos são de sua responsabilidade, caro leitor.

Pois bem, a versão oficial, composta no Paço Municipal, na Praça Mauá:

O PSDB, de Paulo Alexandre Barbosa, amava o PSB, de Fabião e Márcio França, que tentava se apaixonar pelo PSD, de Gilberto Kassab, que procurava amar o PTB, que fingia tolerar o PR, no comando da Prodesan, que dizia amar o PMDB, no vai e vem do namoro e que um dia amou o PPS.

O prefeito lidera as pesquisas e deve se reeleger. O PSB, o PSD, o PTB, o PMDB e o PR, hum..., todos eles sonham com o cargo de vice-prefeito, entre outras fatias do coração tucano (apelei para o clichê de música brega, mas que se encaixa numa campanha de refrão-chiclete).

Agora, o poema, na versão (supostamente) dor de cotovelo:

O PPS, de coração partido, lançou Marcelo Del Bosco, que foi secretário na gestão Paulo Alexandre, machucado de amor assim como o DEM, outra paixão do passado e de governo (será?), que inventou Moysés Fernandes e lidera um movimento de oposição. Em relacionamento aberto, o Democratas ama o PSL, que ama o PSDC, que tenta engatar um relacionamento com PDT e PRP, que - por enquanto - aguardam a flechada do cupido.

Todos ignoram os nanicos de sempre, da direita e da esquerda (se é que existem), com velhas e novas damas de honra, o mais perto que chegarão do altar, sem direito a levar as alianças.

E, juntos, DEM, PSL e PSDC sonham em namorar a Rede, de Evaldo Stanislau, que trabalha sozinho, sem alianças (essas políticas), com dote mínimo e que um dia amou o PT.

Ah, e o PT? Este se amou tanto diante do espelho que se esfacelou como Dorian Gray e só recebeu desprezo de todos os outros personagens desta história.

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