segunda-feira, 13 de junho de 2016

Rinha de galo




Marcus Vinicius Batista

Os colantes desfilam nas traseiras dos carros. O bate-perna e as conversas ao pé de ouvido se multiplicam no comércio. Comendas e títulos preenchem sorrisos no plenário. Apertos de mãos e abraços a cada encontro na rua, na feira, na universidade, no Centro de Santos.

A campanha eleitoral será curta. Oficialmente, 45 dias. Para os pré-candidatos a vereador, o inverno de junho é uma das etapas da colheita, que termina em outubro. Para os sujeitos com mandato, a semeadura começou há quatro anos.

A legislação eleitoral e suas contas fazem da eleição para vereador uma loteria. Nem os cachorros grandes têm certeza da vitória enquanto a última urna não for computada. No tempo da cédula, testemunhei vereador quebrar escritório de campanha porque dormiu eleito e acordou derrotado. Toda eleição tem aquele que teve votos suficientes, mas morreu na praia por causa da aliança com os amigos errados.

Santos tem a maior Câmara da região: 21 vereadores. Em 2012, foram mais de 450 candidatos, emprego mais concorrido do que vestibular de faculdade pública. Um salário de R$ 10 mil hoje, mais seis assessores, benefícios e, acima de tudo, a síndrome do pequeno poder seduzem neste emprego. Desculpe, emprego e trabalho são conceitos, muitas vezes, diferentes.

O grande número de variáveis torna quase imprevisível a eleição para o Poder Legislativo. Historicamente, a renovação dança entre um terço e 40% das cadeiras. De seis a oito vereadores não se reelegem. Muitos se encaixam na Prefeitura, o que não é de todo mal, claro, para eles.

Observo, com distância segura, a luta dos vereadores. Xadrez, mesmo!, com blefes, acordos, estratégias de marketing, ações de visibilidade, pequenas promessas, propostas que nada tem a ver com o papel de um vereador.

No momento, a briga maior é dentro do viveiro tucano. O PSDB começou a gestão Paulo Alexandre com seis parlamentares. Hoje, tem dez. É rinha de galo, na qual muitos sangrarão na arena. Será bem difícil emplacar dez vereadores; por sinal, muitos pré-candidatos saíram à francesa quando viram as garras do fogo amigo.

Outro problema são os aliados da máquina. Muitos partidos na barca, dificuldades de prever quem ficará no convés, quem terminará no porão. As alianças podem pulverizar as bancadas na Câmara. Ruim para as siglas de médio porte.

E o PT nesta ciranda? O Partido dos Trabalhadores está mais perto dos nanicos do que dos dias de glória. Parece que sobra um acordo de cavalheiros: Telma de Souza entrar na disputa.

Os dois lados ganham. Telma consegue um mandato no momento em que se aproxima da aposentadoria política. Já o PT pode sonhar com uma ou até duas cadeiras na Câmara. Telma ainda tem apoio de parte da militância e de seus eleitores fiéis. Não será a mulher de 20 mil votos, recorde em Santos, mas estaria eleita sem sofrimento.

Confesso que, a cada vez que escrevo sobre vereadores, me lembro da Suécia. Lá, vereador é cargo não remunerado. Se aqui fosse assim, utopia!, a eleição seria mais enxuta e com menos beijos, abraços e apertos de mãos.


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