Paço Municipal de Santos/SP |
Marcus Vinicius Batista
A campanha eleitoral em Santos está morna, quase em banho-maria. O fogo brando deriva da política nacional fervente, que esfriou os demais níveis, mas também pela disputa local gelada, na qual todos sabem que Paulo Alexandre Barbosa vai se reeleger, salvo um incêndio político (ou um milagre), dependendo de quem vê.
A briga silenciosa acontece nos bastidores. Eventualmente, alguém coloca a cabeça para fora do buraco e grita por atenção. O DEM, por exemplo, lançou Moysés Fernandes como pré-candidato a prefeito. O PPS apostou em Marcelo Del Bosco. Ambos os partidos eram governo até ontem, ou melhor, fingem não continuar hoje.
É difícil acreditar que as duas candidaturas vão durar até agosto, quando a campanha começa de verdade. Del Bosco talvez permaneça na luta, mas com a consciência de que fará, no máximo, o papel de "bom" coadjuvante. O DEM, historicamente, chora, esperneia, ganha um mimo e volta para os braços do pai. Não há qualquer sinal de que este filho saia de casa nesta eleição.
É neste cenário que a indicação para vice-prefeito se encaixa. Enquanto partidos menores se apressam para embarcar na coligação, de olho nos cargos mantidos ou a conquistar, quatro partidos sorriem para pedir, com educação, o cargo de vice-prefeito de Santos.
Um deles é o PSD, de Gilberto Kassab. O ministro já passou por aqui, o partido inchou ao reunir lideranças da cidade, e a propaganda na TV mais insinuou do que deixou claro suas intenções.
O PR abandonou a sutileza e disse com todas as letras, na voz do presidente da Prodesan, Odair Gonzalez, escudeiro de outros tempos na Câmara, agora convidado oferecido para ser vice-prefeito.
O PSB é o convidado dos almoços de domingo. Parece fazer parte da família como parente próximo e de outros carnavais. O PSB tem Márcio França como vice-governador de Geraldo Alckmin. Fabião Nunes, do mesmo partido, é há mais de dois anos o secretário de Cultura. É um nome na mesa há tempos, inclusive por conta do bom desempenho na eleição anterior. 22 mil votos não são para qualquer um.
O PMDB é o azarão, mais para cavalo paraguaio. O então presidente da Câmara, Marcus de Rosis, era o único que costurava com esse objetivo. O falecimento dele enfraqueceu o partido na cidade, já machucado demais com a saída do ex-prefeito Papa para o PSDB.
Sobra, claro, o próprio partido tucano, que hoje detém o cargo de vice. Mas, pela conjuntura política, ser vice-prefeito é importante demais para que as coisas fiquem dentro de casa. Por outro lado, o PSDB ficou adulto em Santos, efeito para quem chega ao poder. Será difícil reeleger os 10 atuais vereadores. Será difícil largar uma moeda de troca, com tantas propostas de alianças.
Quando não se acompanha pouco a política, espera-se pouco do vice. Normalmente, ele é visto como uma peça decorativa, o sujeito que assina a papelada já encaminhada quando o titular do Poder Executivo viaja.
Do jeito que a política brasileira é encarada como assunto para iniciados ou como bravata para a polarização rasteira, a história insiste em nos ensinar que o vice representa, de fato, um cargo tão relevante. Nos últimos 31 anos, três vice-presidentes se tornaram chefe do Poder Executivo no Brasil.
José Sarney, o imortal da Academia de Letras e do Poder, substituiu Tancredo Neves, morto antes de empossado. Já Itamar Franco e Michel Temer receberam seus novos cargos pela disputa política que resultou em impeachment (ou afastamento) dos titulares.
Em Santos, o vice-prefeito era visto, publicamente, como um enfeite na sala, um presente de consolação para um dos partidos que coligaram. Isso mudou a partir da segunda gestão Beto Mansur. Não sei pela visão do então prefeito - conhecido pelo senso de oportunidade - ou pela visão do então vice João Paulo Tavares Papa, aluno certinho da velha escola do PMDB.
Agora, muito mais gente compreende que o vice não é primeira-dama. O vice come pelas beiradas, transita pelas sombras, negocia com o Poder Legislativo, sempre o balcão de negócios, é o chefe de gabinete informal, que transpira poder sem mostrar a camisa suada.
O vice não é aquele que se senta na cadeira durante viagens a trabalho ou férias do trabalho. O vice-prefeito de Santos será, desde o primeiro dia do segundo mandato, o sujeito que tentará acertar uma sucessão tranquila e programada de Paulo Alexandre, que não poderá se reeleger e precisa colocar em prática os sonhos mais ambiciosos, sem o stress de ver a própria sala bagunçada pelas crianças que adotou.
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