quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Os passos de Papa


Política não é um exercício para apressados. Apenas os pacientes enxergam o óbvio. A saída do ex-prefeito de Santos João Paulo Tavares Papa do PMDB e o noivado (quase casamento) com o PSDB representa mais um capítulo de uma novela tipicamente comercial, daquelas que minha avó poderia dizer: “Quem viu o primeiro e o último capítulos viu todos.”

Papa é um excelente estrategista, daqueles jogadores com a capacidade de antever dois, três movimentos no tabuleiro de xadrez. Uma de suas virtudes é saber esperar. Ao contrário de muitos políticos, que tagarelam diante de qualquer luz acesa, o ex-prefeito de Santos é calculista em seus passos. Domina a arte de sair de cena e o momento exato de retornar ao palco.

Não sou fã dele. Penso que sua gestão permitiu o aumento da desigualdade social no município. O legado dos espigões e os problemas ambientais também devem ser creditados, em parte, na conta dele e de sua turma.

No entanto, administrador e político são personagens diferentes. Papa anunciou sua saída do PMDB sem abrir a boca. Deixou que outros falassem por ele. Ignorou as especulações da imprensa e da classe política. No movimento seguinte, manteve acesos os flertes com outros partidos, como o PSB, do cacique Márcio França. Aliás, um dos 17 partidos que ajudaram a sustentar o governo Papa.

Sem surpresas, o ex-prefeito continuou mineiro quando o PSDB abriu as portas para ele. Onde estaria a novidade? De fato, nenhuma. Papa sempre foi tucano, somente não possuía a carteirinha oficial do ninho, mas sempre se sentou nos sofás mais confortáveis da casa. O PSDB, por sinal, nasceu da barriga do PMDB.

Como escrevi aqui, no início do ano, Papa foi o maior vencedor da eleição de 2012. Em primeiro lugar, porque Paulo Alexandre Barbosa encarava um jogo ganho. A vitória no primeiro turno era cristalina a quatro, cinco meses antes da votação.

Depois, Papa segurou até onde pôde o lançamento da candidatura própria – e natimorta - do PMDB. Até os turistas sabiam que Sérgio Aquino não poderia vencer cachorros grandes como Telma de Souza e Paulo Alexandre, sujeito que construiu sua candidatura ao longo de oito anos e soube o instante correto de apostar suas fichas.

Durante a campanha, Papa abraçou Aquino sem virar as costas para o PSDB, que teve o vice-prefeito na sua segunda gestão. Tanto que boa parte de sua equipe, de secretários ao terceiro escalão, permaneceu na Prefeitura. Crédito também das alianças partidárias.

Discretamente, Papa saiu de cena para trabalhar no governo do Estado. Assumiu uma diretoria na Sabesp, retornando à casa que lhe deu visibilidade como técnico há 20 anos. Era a hora de só observar o tabuleiro e esperar o relógio correr. O ex-prefeito muda de camisa às vésperas do final do prazo para troca de partidos.

A entrada de Papa no mundo tucano gera, claro, ganhos secundários. O maior deles cai nas mãos do atual prefeito de Santos. Paulo Alexandre Barbosa, em tese, terá ao lado quem seria o principal obstáculo à reeleição em 2016, além de consolidar o PSDB como o principal partido da região.

O próximo passo, depois da filiação oficial ao PSDB, é definir se Papa concorrerá à deputado federal ou estadual. Ele tem crédito eleitoral para os dois cargos. Contudo, como adepto da paciência, Papa voltará a ler o tabuleiro e compreender os movimentos dos adversários. Ele tem seis meses para sair do ninho na hora certa.

A política é, em definitivo, a arte do previsível. Mas o redundante não é para todos.

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