quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A pizzaria



Cansei de ser jornalista. Pouco dinheiro e excesso de trabalho. Por influência de gente do cerrado, resolvi abrir uma pizzaria. Fiquei assustado quando soube que São Paulo tem 1500 casas do mesmo ramo. Em Santos, são quase 200 pizzarias, entre as requintadas a salmão e camarão sete barbas e as portinhas com motoboys mal remunerados.

Virei um empreendedor no mundo das massas, molhos de tomate e queijos ao perceber como o negócio é rentável em todo o país. Em Brasília, por exemplo, vender pizzas é como oferecer água para andarilhos no Saara. Em algumas, os garçons andam de terno e gravata. O profissionalismo é exemplar, ainda que os funcionários possam ser demitidos depois de quatro anos.

Conheci esta semana uma destas pizzarias. Vi apenas pela TV. Possuía vários gerentes, todos vestidos de toga preta e ares de juízes. O problema, comenta-se no mercado, é que a casa pode falir. Perdeu credibilidade de tanto que seus administradores tagarelam. Falam demais e resolvem de menos as necessidades dos clientes.

Ao conversar com consultores, percebi que – para sobreviver na nova profissão – tinha que apresentar um sabor diferente no cardápio, além das tradicionais mussarela, calabresa, atum, frango com catupiry e portuguesa.

Ao contratar um chef de cozinha, meus problemas acabaram, como diriam os humoristas da TV. O chef, nascido em Pindamonhagaba, tinha vasta experiência no setor de massas e afins. São 16 anos de experiência comprovada na maior pizzaria do Estado.

O chef me apresentou uma receita simples, porém de alto custo. Aceitei porque acredito que, para comer bem, é preciso mexer na carteira. Ele trouxe uma massa conhecida como projeto. Ela nasce incompleta, sofre modificações antes de ir ao forno e, proporcionalmente, quanto maior fica mais cara será.

Para cobrir a massa, o chef misturou dois ingredientes. Podem ser comprados em qualquer mercadinho. Mas é fundamental misturá-las, ao gosto do freguês. A quantidade de reuniões e de comissões depende do tempo de cozimento. Na prática, não alteram o sabor da pizza, mas ficam bonitas aos olhos de quem vai comê-la.

O segredo é o que vem por cima. A receita pede dois ingredientes que exigem certa habilidade no preparo. Sempre é difícil comprá-los. Pelo menos, no cartão. Dizem que, em dinheiro vivo, sem identificação do vendedor e do comprador, tudo se aceita. Não é contravenção, soa mais como conversa fiada para valorização o produto.

Testemunhei a história quando vi o chef utilizá-los para decorar a pizza. Ele usou duas rodelas de licenciamento ambiental, não sem antes cochichar para mim, transpirando presunção. “Basta dizer ao vendedor que ele é contra o progresso. É da turma do não. A pressão se torna insuportável.”

A outra parte fica mais robusta com dois pedaços ralados de tombamento histórico. São vários os modelos, os canais. Em Santos, sete tipos. Para dar liga entre as duas partes, tempere com a promessa de desapropriação de áreas e acrescente um pitada de alterações no sistema viário. Este último tempero é mais palavrório do chef, interessado em agradar clientes especiais. Como a cereja inócua que arremata o bolo.

Com o cardápio pronto, faltavam dois detalhes essenciais; os nomes, tanto da pizzaria, quanto do novo sabor. Venha, caro leitor, saborear na Pizzaria Obras Públicas a meio VLT, meio túnel.

Antes de abrir uma pizzaria, porém, pensei em criar um concurso. O vencedor terá o direito de criar o logo e a fachada da casa. Assim, economizo um pouco. Após tanto investimento, o lucro virá até outubro de 2014?

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